Núcleo Espírita Paulo de Tarso Rua Nova Fátima, 151 - Jardim Juá Campo Grande - São Paulo - SP CEP 04688-040 Telefone 11-56940205
Mensagem
"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."
Militão Pacheco
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
A psicografia anunciada tem valor?
Quando se fala da psicografia feita de modo dirigido, na qual a pessoa fornece o nome do falecido para que se avalie e acentue possibilidade de que ele venha a transmitir uma mensagem aos seus familiares devemos nos lembrar de que a espontaneidade no trabalho mediúnico é dos mais belos fatores no intercâmbio entre as duas esferas da vida
Dar-se o nome e os pormenores de um ente querido é o mesmo que evocar. Ao evocar sabemos que o espírito poderá responder ao apelo; mas também sabemos que qualquer espírito poderá se fazer passar por ele em dado instante e transmitir mensagem com qualquer teor, sem qualquer compromisso com a verdade.
Desta forma, podemos dizer que ainda somos dos que preferem a espontaneidade mediúnica e gostamos de lembrar de que poucos são os seres humanos em reais condições para eventuais evocações de seres humanos desprovidos da matéria densa.. Kardec era um deles. Chico Xavier era outro.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Depressões
Estou habituado a ler informações sobre depressão, “o mal do século”, “epidemia” e tantos adjetivos que também cansam. As declarações, as afirmações são tantas, muitas coerentes outras desconexas, outras repetitivas, persistentes e, claro, cansativas.
Pego livros, leio informações na biblioteca mais ampla que o mundo já teve, a Internet, e procuro absorver tudo o que posso, particularmente com o objetivo de levar aos pacientes que atendo e às pessoas com quem converso, as melhores perspectivas, os fatos, as explicações que lhes ajudem para que alcancem a tão desejada cura ou, pelo menos, uma acentuada melhora. Afinal de contas, não é fácil viver com este estigma de depressivo e tampouco é agradável estar nessa situação, pelo que posso entender das conversas, dos diálogos e das experiências vindas da vida de clínico.
Citar que a depressão anda "de mãos dadas" com a ansiedade, é necessário. Também é preciso lembrar qual a conotação ou o sentido real da palavra ansiedade, que leva a entender tratar-se de um certo medo, insegurança com agitação interior, com certa alteração da consciência.
Os livros médicos, no princípio, traziam-me informações preciosas. A leitura não leiga é fundamental para compreender e poder praticar a assistência a quem venha pedir auxílio médico, para um clínico, em casos de depressão. Entretanto, percebo que “existe certa incerteza” dos variados autores que tentam dar diretrizes para os profissionais da área de Saúde quanto à depressão. Digo isso pelo fato de que nem sempre as classificações seguem um padrão único, há variantes que confundem, há bifurcações que podem deixar um pouco sem direção para entender as nuances do quadro clínico que compõe a depressão. O mesmo posso afirmar quanto às explicações referentes aos mecanismos neuro-bioquímicos da depressão (alguém já ouviu falar dos receptores NMDA?).
Que riqueza de detalhes, que lindas explanações sobre as diversas trocas em nível de sinapses ( mas, o quê é isso? ) no impressionante trabalho neuronal! Tudo para explicar como é que acontecem os fenômenos bioquímicos em nosso cérebro que justifiquem, organicamente, em nosso corpo, o surgimento da depressão. Muitas reportagens, muitos artigos científicos, com citações brilhantes de pesquisas científicas, que precisamos compreender, têm importância para a comunidade médica. Mas o leigo não tem precisão dessa riqueza de detalhes com relação à descrição mais detalhada da depressão, pelo menos em nível celular. Além disso, apesar de muitas estruturas celulares já serem realmente visualizadas através da microscopia eletrônica, muitas dessas teorias são fundamentadas em modelos científicos, para que se compreenda o mecanismo dos distúrbios celulares da depressão.
E o que são os “modelos científicos”? Há uma maneira de se entender, buscando definições, como, por exemplo: Um modelo matemático é uma representação ou interpretação simplificada da realidade, ou uma interpretação de um fragmento de um sistema, segundo uma estrutura de conceitos mentais ou experimentais. Percebe-se que as pesquisas são realmente um interessante campo de hipóteses que buscam “esclarecer” de modo abstrato o que é realmente abstrato. Certamente alguns autores, alguns cientistas, poderiam afirmar que as pesquisas, sempre tão sérias, podem demonstrar com clareza que os sistemas apontados como "responsáveis" pelos mecanismos neurais e neuronais são como estão descritos. Eu devo crer que sim! Mas, ao mesmo tempo, fico me perguntando qual a real importância de um paciente "comum" saber dessas coisas tão detalhadas. Para um médico essas informações têm sua necessidade, sem qualquer dúvida, seja ele um clínico ou um psiquiatra, um cardiologista ou um ortopedista. Não só os mecanismos intrínsecos da depressão, como sua relação com outros quadros clínicos, com outras doenças, que possam ter mecanismo similar ou, mesmo, parecido, como são vários processos biológicos no ser humano.
Bem, não é diferente em vários campos da ciência, como a Química Quântica, por exemplo. Afinal, alguém já viu um átomo? Certamente não, mas há uma série de modelos experimentais que “mostram” a estrutura atômica, com certa riqueza de detalhes bem curiosos.
Enfim, nada mais racional, já que não podemos ver, podemos “calcular” como é para tentar explicar logicamente o que não é tangível, o que nem mesmo é visível. E os cálculos são matemáticos, muitas vezes, mas são também verdadeiras extrapolações que “demonstram” modelos adequados às nossas possibilidades de entendimento e compreensão.
Assim, entender depressão em níveis de biologia molecular é literalmente imaginar o que está acontecendo em nosso cérebro de maneira a passear por entre as sinapses que estão liberando serotonina, dopamina, acetil-colina e outros neurotransmissores que circulam por entre elas em pequenas vesículas (bolsinhas supostamente – mais uma vez – redondinhas), num ir e vir incessante que nem mesmo os processadores multi-núcleo produzidos atualmente conseguiriam acompanhar com precisão.
De qualquer maneira, a imaginação permite acompanhar a evolução de processos neuronais que “responderiam” perguntas existentes entre cientistas da área e auxilia a buscar, através de pesquisas, medicamentos que ajudem a tratar os variados estados depressivos que encontramos na atualidade. Só por isso, já temos a possibilidade de “acreditar” que os modelos científicos propõem entendimentos razoáveis, mesmo que de algum modo equivocados, para a melhoria da qualidade de vida de enorme grupo de pessoas que sofrem da depressão na atualidade.
Acredito, então, que a imaginação é recurso de potencial elevado para que e humanidade tenha sucesso na terapêutica de muitas doenças. Não, não se trata de uma crítica irônica à proposta científica da atualidade, nem tampouco de algum grau de desprezo pelo que tem nos auxiliado tanto, no correr de décadas de pesquisas exaustivas, mas de uma constatação óbvia de que precisamos entrar em um plano não visível ou não tangível de entendimento para que possamos nos desprender de dificuldades que nos acompanham desde que estamos habitando o planeta Terra (com “T” maiúsculo, por favor!).
Ainda bem que podemos lançar mão de recursos que nos permitem “ver” de algum modo o que não podemos ver e que este tipo de processo de abstração dá-nos recursos para que desenvolvamos soluções para as diversas dificuldades que temos de enfrentar durante a vida. Na doença depressiva, na depressão, não é diferente. Mas tenho presenciado que as explicações mais habituais vêm nos dando potencial de convencimento diante dos paciente mais refratários às propostas terapêuticas modernas para esta doença.
Um discurso bem elaborado de que a depressão é uma doença genética (e é mesmo!), que existe uma série de fatores orgânicos que, no mínimo, podem colaborar para o surgimento ou para o “disparar” da doença, permite conversar de modo mais racional com a pessoa portadora de depressão, de modo a convencê-la de que é necessário o tratamento com medicamentos, além, é claro de um trabalho terapêutico adicional.
Mas e o depressivo-ansioso, como fica? Tem como identificar um? Tem como identificar-se como depressivo-ansioso? Não, infelizmente não há um exame que possa dizer "você é depressivo-ansioso"! Nenhum exame bioquímico (interessante! mas já não se sabe sobre os mecanismos de neuro-transmissão?). O jeito é conversar, mesmo! É pesquisando, durante um ou mais diálogos, que podemos fechar o diagnóstico. Muitas vezes a pessoa conta a história-diagnóstico, isto é, ela já sintetiza a história que fecha o diagnóstico da depressão-ansiedade. Então, a partir daí é necessário o tratamento. Mas, o portador da depressão-ansiedade tem lá suas dificuldades...
É interessante observar que o depressivo-ansioso tem suas características particulares, de modo geral, que eu gostaria de citar, para entendimento e esclarecimento de uma espécie de “personalidade depressiva”, graças às semelhanças de atitudes, pensamentos e discursos destes pacientes, que conversam conosco, em depoimentos curiosamente semelhantes em alguns aspectos. Um deles é a questão das dificuldades de aceitação do tratamento, observações já publicadas em alguns meios de divulgação, leigas e científicas. a proposta de tratamento envolve aspectos variados, como o processo terapêutico ou psico-terapêutico, os medicamentos e até mesmo a procura do auxílio espiritual, em uma religião que possa levar a pessoa a um certo grau de estabilidade interior.
Há uma espécie de ideal a ser alcançado, como que dizendo (partindo da própria pessoa) que o próprio doente DEVE resolver suas dificuldades, como um compromisso adoecido que, na verdade, pode até mesmo gerar culpa destrutiva e desnecessária. Há, também, uma relativa abominação pelos medicamentos, como se fossem um castigo imposto à pessoa, que afinal de contas, “ nunca teve nada disso antes” e que, certamente, “não precisará disso agora”. É algo estranho para se entender, na verdade, mas eu escuto isso em minha clínica quase diariamente.
Atendendo pacientes e conversando sem compromisso profissional com as pessoas, percebo facilmente que as maiorias das pessoas que passam por processos depressivos não aceitam adequadamente o fato de que precisem tomar medicamentos ou mesmo passar por processo psicoterapêutico, que seriam as bases, o alicerce do tratamento desses problemas psíquicos. Muitas publicações citam essas dificuldades, mas não tive oportunidade de ler ou mesmo de ouvir em alguma citação, uma explanação que permitisse entender a causa dessa indisposição nesse grupo de pessoas.
Ainda com todos os recursos de esclarecimento de que dispomos atualmente, não há compreensão real de que medicamentos, mesmo que fundamentados em hipóteses de modelos científicos, como já dispus anteriormente, possam ser auxiliares prestimosos para quem tenha determinados problemas de saúde. E essa dificuldade não se restringe somente aos pacientes já citados, mas a outras interessantes “classes” de pessoas que apresentem doenças tais como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, artrite reumatóide, asma brônquica, e, provavelmente outras moléstias.
Talvez o mais difícil de orientar em um atendimento ou mesmo em uma conversa, seja o primeiro caso, afinal, quem já não leu ou ouviu dizer que temos, dentro de nós, “o potencial de nos curar”, bastando que “nossa vontade” seja acionada com tal objetivo? Muitas obras informam sobre mecanismos de cura interior, mentalizações, meditações, etc. e tal. Nada contra recursos auxiliares para a busca de equilíbrio, mas convenhamos que não se possa exagerar, para não se deixar conduzir para uma situação difícil de ser resolvida ou revertida, não é mesmo?
Vou tentar me aprofundar um pouco sobre esse assunto. Há uma obra fantástica de Deepak Chopra, que se chama “A cura quântica”; nela o autor expõe a providencial interferência de nossos pensamentos em nosso organismo através da meditação e processos naturais (entenda-se da natureza) que podem chegar, mesmo, a curar casos de câncer em fase terminal. Como referência: Deepak Chopra, indiano radicado nos EUA desde a década de 70, é médico e filósofo de reputação internacional. Já escreveu mais de 35 livros, traduzidos para 35 idiomas, somando mais de 20 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. Nem por isso, isento de errar, claro.
Fico me questionando até que ponto podemos interiorizar tais propostas e até que ponto elas podem realmente ajudar a “curar” ou, pelo menos até que ponto podem melhorar a qualidade de vida das pessoas. Há aqui uma situação ambígua. Observemos: há quem aceite bem a proposta de curar-se através da meditação e de recursos terapêuticos “alternativos” e consiga alcançar êxito em suas tentativas; mas também há quem não consiga “curar-se”, será que não? E, nesse caso, como ficam “as cabeças” das pessoas? Não houve êxito, e agora? Podem gerar culpa interior por não conseguir a própria cura?
Na época mais “ativa” de AIDS, cheguei a conversar com pessoas que estavam abandonando o tratamento convencional, para dedicar-se a algum tratamento “espiritual” ou “alternativo”, sem qualquer base lógica, sem qualquer preocupação técnica, somente por crer que o tratamento proposto seria o suficiente para “curar” da doença. Atitude extremada, emotiva, talvez desesperada, tresloucada, não sei bem, mas inadequada, com certeza.
Nenhuma das propostas "mágicas" tem real capacidade de curar ninguém e, mesmo que alguém me diga ter sido curado ou curada por um procedimento desses, fico à espera de que o tempo passe, para poder concluir adequadamente sobre o fato. Se é real, o tempo mostrará a verdade, afinal, meu julgamento poderá ser precipitado. Mas, mesmo diante da ciência, precisamos ter sempre certos cuidados: vemos algumas "linhas de condutas" divergentes em várias especialidades médicas. Por exemplo, trata-se ou não a mulher no período do peri-climatério com terapia de reposição hormonal (TRH)? Há quem diga que sim, há quem diga que não, portanto, temos aí uma dualidade interessante que o tempo tem demonstrado vantagens e desvantagens para a TRH. Sem entrar no mérito da questão, podemos observar o quanto a própria ciência tem para crescer ainda, embora tenha avanços inimagináveis nestes últimos cento e poucos anos, desde o final do século XIX.
Quando se fala, então de alguma proposta "alternativa", o cuidado deve ser redobrado. Sem fanatismos irracionais: a própria fé precisa ser racionalizada, já que sem racionalizar corremos o risco de errar ainda mais. Racionalizando já pode ser difícil! Então a proposta de tratamento para a depressão precisa seguir um "tripé" sensato constituído por terapia medicamentosa, terapia psicoterápica e terapia espiritual. As duas primeiras já deu para entender que é claramente necessário, mas e a segunda, por quê eu a estou citando? Será que minha base conceitual em ciência é tão frágil, que necessito de uma aproximação religiosa para poder apoiar o tratamento da depressão? Bem, é tudo questão de lógica, na verdade.
Não há como contestar a necessidade que cada ser humano tem de ter paz interior. Também não há como contestar que quem sofre de depressão-ansiedade não tem paz interior. A procura desta paz interior pode ser alcançada com o auto-conhecimento, que poderá vir através do processo terapêutico adequado que faça com que o portador do distúrbio depressivo-ansioso possa vir a se conhecer melhor (perdão pela redundância). Mas a espiritualização de quem passa por um processo desses, certamente auxiliará em todo o processo de encaminhamento para o equilíbrio, pois que, sem a aproximação do paciente com propostas adequadas de trabalho para auxiliar a quem mais necessita, de conhecimento de dores mais profundas ou de contato com "algo maior", com segurança, haverá maior dificuldade para que exista um equilíbrio ainda maior em todos os movimentos que o depressivo-ansioso precisa.
A espiritualização, entenda-se, não é simplesmente uma adesão a uma doutrina, não é filiar-se a uma religião, simplesmente por estar "de corpo presente". É bem mais que isso: é uma busca REAL de um potencial interior que lhe retire o véu de dificuldades para a visão não material da Vida e permita observar o real motivo de estar "vivendo", as possibilidades e os potenciais que tem dentro de si para construir algo, ainda que pequeno, para colaborar na transformação da Vida, não só da própria, mas dos demais que o cercam e dos mais distantes, assim como as responsabilidades que tem para com o próprio planeta. Tudo, na espiritualização, leva o ser humano a pensar reconstruindo ou construindo e gera maior consciência pessoal, interpessoal, social e conscencial. Por isso, de nada adiantaria simplesmente estar em um culto, em uma missa, em uma reunião de caráter evangélico ou mesmo filosófico, se não houver a caracterização interior de transformação pessoal no culto interior para gerar um novo ser que permita-se libertar das amarras da falta de perdão para consigo próprio e para com os outros, das mágoas para com a Vida ou para com as doenças que eventualmente venha a ter ou já tenha.
Ou seja, estou falando das questões transcedentais mesmo! Trata-se de um processo de conscientização, de elevação pessoal, que permita libertar-se de algo que impede o crescimento. É um conjunto, como eu disse, um tripé terapêutico que se complementa, que se inter-relaciona e potencializa as chances de equilíbrio e, até mesmo de cura. Ainda que existam propostas variadas para a terapêutica da depressão-ansiedade, as questões técnicas não podem ser abandonadas ou esquecidas, pois espelham pesquisas e esforços de indivíduos de algum modo interessados em providenciar um recurso para a melhora de pessoas que sofrem do "mal do século", embasados na Ciência, nas pesquisas científicas, ou seja, resultado de suor e lágrimas de gente que busca, no conhecimento, embasar o entendimento das doenças e seus processos curativos. Abrir mão disso seria insensatez. Mas não aderir à espiritualização também seria, com certeza!
Pego livros, leio informações na biblioteca mais ampla que o mundo já teve, a Internet, e procuro absorver tudo o que posso, particularmente com o objetivo de levar aos pacientes que atendo e às pessoas com quem converso, as melhores perspectivas, os fatos, as explicações que lhes ajudem para que alcancem a tão desejada cura ou, pelo menos, uma acentuada melhora. Afinal de contas, não é fácil viver com este estigma de depressivo e tampouco é agradável estar nessa situação, pelo que posso entender das conversas, dos diálogos e das experiências vindas da vida de clínico.
Citar que a depressão anda "de mãos dadas" com a ansiedade, é necessário. Também é preciso lembrar qual a conotação ou o sentido real da palavra ansiedade, que leva a entender tratar-se de um certo medo, insegurança com agitação interior, com certa alteração da consciência.
Os livros médicos, no princípio, traziam-me informações preciosas. A leitura não leiga é fundamental para compreender e poder praticar a assistência a quem venha pedir auxílio médico, para um clínico, em casos de depressão. Entretanto, percebo que “existe certa incerteza” dos variados autores que tentam dar diretrizes para os profissionais da área de Saúde quanto à depressão. Digo isso pelo fato de que nem sempre as classificações seguem um padrão único, há variantes que confundem, há bifurcações que podem deixar um pouco sem direção para entender as nuances do quadro clínico que compõe a depressão. O mesmo posso afirmar quanto às explicações referentes aos mecanismos neuro-bioquímicos da depressão (alguém já ouviu falar dos receptores NMDA?).
Que riqueza de detalhes, que lindas explanações sobre as diversas trocas em nível de sinapses ( mas, o quê é isso? ) no impressionante trabalho neuronal! Tudo para explicar como é que acontecem os fenômenos bioquímicos em nosso cérebro que justifiquem, organicamente, em nosso corpo, o surgimento da depressão. Muitas reportagens, muitos artigos científicos, com citações brilhantes de pesquisas científicas, que precisamos compreender, têm importância para a comunidade médica. Mas o leigo não tem precisão dessa riqueza de detalhes com relação à descrição mais detalhada da depressão, pelo menos em nível celular. Além disso, apesar de muitas estruturas celulares já serem realmente visualizadas através da microscopia eletrônica, muitas dessas teorias são fundamentadas em modelos científicos, para que se compreenda o mecanismo dos distúrbios celulares da depressão.
E o que são os “modelos científicos”? Há uma maneira de se entender, buscando definições, como, por exemplo: Um modelo matemático é uma representação ou interpretação simplificada da realidade, ou uma interpretação de um fragmento de um sistema, segundo uma estrutura de conceitos mentais ou experimentais. Percebe-se que as pesquisas são realmente um interessante campo de hipóteses que buscam “esclarecer” de modo abstrato o que é realmente abstrato. Certamente alguns autores, alguns cientistas, poderiam afirmar que as pesquisas, sempre tão sérias, podem demonstrar com clareza que os sistemas apontados como "responsáveis" pelos mecanismos neurais e neuronais são como estão descritos. Eu devo crer que sim! Mas, ao mesmo tempo, fico me perguntando qual a real importância de um paciente "comum" saber dessas coisas tão detalhadas. Para um médico essas informações têm sua necessidade, sem qualquer dúvida, seja ele um clínico ou um psiquiatra, um cardiologista ou um ortopedista. Não só os mecanismos intrínsecos da depressão, como sua relação com outros quadros clínicos, com outras doenças, que possam ter mecanismo similar ou, mesmo, parecido, como são vários processos biológicos no ser humano.
Bem, não é diferente em vários campos da ciência, como a Química Quântica, por exemplo. Afinal, alguém já viu um átomo? Certamente não, mas há uma série de modelos experimentais que “mostram” a estrutura atômica, com certa riqueza de detalhes bem curiosos.
Enfim, nada mais racional, já que não podemos ver, podemos “calcular” como é para tentar explicar logicamente o que não é tangível, o que nem mesmo é visível. E os cálculos são matemáticos, muitas vezes, mas são também verdadeiras extrapolações que “demonstram” modelos adequados às nossas possibilidades de entendimento e compreensão.
Assim, entender depressão em níveis de biologia molecular é literalmente imaginar o que está acontecendo em nosso cérebro de maneira a passear por entre as sinapses que estão liberando serotonina, dopamina, acetil-colina e outros neurotransmissores que circulam por entre elas em pequenas vesículas (bolsinhas supostamente – mais uma vez – redondinhas), num ir e vir incessante que nem mesmo os processadores multi-núcleo produzidos atualmente conseguiriam acompanhar com precisão.
De qualquer maneira, a imaginação permite acompanhar a evolução de processos neuronais que “responderiam” perguntas existentes entre cientistas da área e auxilia a buscar, através de pesquisas, medicamentos que ajudem a tratar os variados estados depressivos que encontramos na atualidade. Só por isso, já temos a possibilidade de “acreditar” que os modelos científicos propõem entendimentos razoáveis, mesmo que de algum modo equivocados, para a melhoria da qualidade de vida de enorme grupo de pessoas que sofrem da depressão na atualidade.
Acredito, então, que a imaginação é recurso de potencial elevado para que e humanidade tenha sucesso na terapêutica de muitas doenças. Não, não se trata de uma crítica irônica à proposta científica da atualidade, nem tampouco de algum grau de desprezo pelo que tem nos auxiliado tanto, no correr de décadas de pesquisas exaustivas, mas de uma constatação óbvia de que precisamos entrar em um plano não visível ou não tangível de entendimento para que possamos nos desprender de dificuldades que nos acompanham desde que estamos habitando o planeta Terra (com “T” maiúsculo, por favor!).
Ainda bem que podemos lançar mão de recursos que nos permitem “ver” de algum modo o que não podemos ver e que este tipo de processo de abstração dá-nos recursos para que desenvolvamos soluções para as diversas dificuldades que temos de enfrentar durante a vida. Na doença depressiva, na depressão, não é diferente. Mas tenho presenciado que as explicações mais habituais vêm nos dando potencial de convencimento diante dos paciente mais refratários às propostas terapêuticas modernas para esta doença.
Um discurso bem elaborado de que a depressão é uma doença genética (e é mesmo!), que existe uma série de fatores orgânicos que, no mínimo, podem colaborar para o surgimento ou para o “disparar” da doença, permite conversar de modo mais racional com a pessoa portadora de depressão, de modo a convencê-la de que é necessário o tratamento com medicamentos, além, é claro de um trabalho terapêutico adicional.
Mas e o depressivo-ansioso, como fica? Tem como identificar um? Tem como identificar-se como depressivo-ansioso? Não, infelizmente não há um exame que possa dizer "você é depressivo-ansioso"! Nenhum exame bioquímico (interessante! mas já não se sabe sobre os mecanismos de neuro-transmissão?). O jeito é conversar, mesmo! É pesquisando, durante um ou mais diálogos, que podemos fechar o diagnóstico. Muitas vezes a pessoa conta a história-diagnóstico, isto é, ela já sintetiza a história que fecha o diagnóstico da depressão-ansiedade. Então, a partir daí é necessário o tratamento. Mas, o portador da depressão-ansiedade tem lá suas dificuldades...
É interessante observar que o depressivo-ansioso tem suas características particulares, de modo geral, que eu gostaria de citar, para entendimento e esclarecimento de uma espécie de “personalidade depressiva”, graças às semelhanças de atitudes, pensamentos e discursos destes pacientes, que conversam conosco, em depoimentos curiosamente semelhantes em alguns aspectos. Um deles é a questão das dificuldades de aceitação do tratamento, observações já publicadas em alguns meios de divulgação, leigas e científicas. a proposta de tratamento envolve aspectos variados, como o processo terapêutico ou psico-terapêutico, os medicamentos e até mesmo a procura do auxílio espiritual, em uma religião que possa levar a pessoa a um certo grau de estabilidade interior.
Há uma espécie de ideal a ser alcançado, como que dizendo (partindo da própria pessoa) que o próprio doente DEVE resolver suas dificuldades, como um compromisso adoecido que, na verdade, pode até mesmo gerar culpa destrutiva e desnecessária. Há, também, uma relativa abominação pelos medicamentos, como se fossem um castigo imposto à pessoa, que afinal de contas, “ nunca teve nada disso antes” e que, certamente, “não precisará disso agora”. É algo estranho para se entender, na verdade, mas eu escuto isso em minha clínica quase diariamente.
Atendendo pacientes e conversando sem compromisso profissional com as pessoas, percebo facilmente que as maiorias das pessoas que passam por processos depressivos não aceitam adequadamente o fato de que precisem tomar medicamentos ou mesmo passar por processo psicoterapêutico, que seriam as bases, o alicerce do tratamento desses problemas psíquicos. Muitas publicações citam essas dificuldades, mas não tive oportunidade de ler ou mesmo de ouvir em alguma citação, uma explanação que permitisse entender a causa dessa indisposição nesse grupo de pessoas.
Ainda com todos os recursos de esclarecimento de que dispomos atualmente, não há compreensão real de que medicamentos, mesmo que fundamentados em hipóteses de modelos científicos, como já dispus anteriormente, possam ser auxiliares prestimosos para quem tenha determinados problemas de saúde. E essa dificuldade não se restringe somente aos pacientes já citados, mas a outras interessantes “classes” de pessoas que apresentem doenças tais como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, artrite reumatóide, asma brônquica, e, provavelmente outras moléstias.
Talvez o mais difícil de orientar em um atendimento ou mesmo em uma conversa, seja o primeiro caso, afinal, quem já não leu ou ouviu dizer que temos, dentro de nós, “o potencial de nos curar”, bastando que “nossa vontade” seja acionada com tal objetivo? Muitas obras informam sobre mecanismos de cura interior, mentalizações, meditações, etc. e tal. Nada contra recursos auxiliares para a busca de equilíbrio, mas convenhamos que não se possa exagerar, para não se deixar conduzir para uma situação difícil de ser resolvida ou revertida, não é mesmo?
Vou tentar me aprofundar um pouco sobre esse assunto. Há uma obra fantástica de Deepak Chopra, que se chama “A cura quântica”; nela o autor expõe a providencial interferência de nossos pensamentos em nosso organismo através da meditação e processos naturais (entenda-se da natureza) que podem chegar, mesmo, a curar casos de câncer em fase terminal. Como referência: Deepak Chopra, indiano radicado nos EUA desde a década de 70, é médico e filósofo de reputação internacional. Já escreveu mais de 35 livros, traduzidos para 35 idiomas, somando mais de 20 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. Nem por isso, isento de errar, claro.
Fico me questionando até que ponto podemos interiorizar tais propostas e até que ponto elas podem realmente ajudar a “curar” ou, pelo menos até que ponto podem melhorar a qualidade de vida das pessoas. Há aqui uma situação ambígua. Observemos: há quem aceite bem a proposta de curar-se através da meditação e de recursos terapêuticos “alternativos” e consiga alcançar êxito em suas tentativas; mas também há quem não consiga “curar-se”, será que não? E, nesse caso, como ficam “as cabeças” das pessoas? Não houve êxito, e agora? Podem gerar culpa interior por não conseguir a própria cura?
Na época mais “ativa” de AIDS, cheguei a conversar com pessoas que estavam abandonando o tratamento convencional, para dedicar-se a algum tratamento “espiritual” ou “alternativo”, sem qualquer base lógica, sem qualquer preocupação técnica, somente por crer que o tratamento proposto seria o suficiente para “curar” da doença. Atitude extremada, emotiva, talvez desesperada, tresloucada, não sei bem, mas inadequada, com certeza.
Nenhuma das propostas "mágicas" tem real capacidade de curar ninguém e, mesmo que alguém me diga ter sido curado ou curada por um procedimento desses, fico à espera de que o tempo passe, para poder concluir adequadamente sobre o fato. Se é real, o tempo mostrará a verdade, afinal, meu julgamento poderá ser precipitado. Mas, mesmo diante da ciência, precisamos ter sempre certos cuidados: vemos algumas "linhas de condutas" divergentes em várias especialidades médicas. Por exemplo, trata-se ou não a mulher no período do peri-climatério com terapia de reposição hormonal (TRH)? Há quem diga que sim, há quem diga que não, portanto, temos aí uma dualidade interessante que o tempo tem demonstrado vantagens e desvantagens para a TRH. Sem entrar no mérito da questão, podemos observar o quanto a própria ciência tem para crescer ainda, embora tenha avanços inimagináveis nestes últimos cento e poucos anos, desde o final do século XIX.
Quando se fala, então de alguma proposta "alternativa", o cuidado deve ser redobrado. Sem fanatismos irracionais: a própria fé precisa ser racionalizada, já que sem racionalizar corremos o risco de errar ainda mais. Racionalizando já pode ser difícil! Então a proposta de tratamento para a depressão precisa seguir um "tripé" sensato constituído por terapia medicamentosa, terapia psicoterápica e terapia espiritual. As duas primeiras já deu para entender que é claramente necessário, mas e a segunda, por quê eu a estou citando? Será que minha base conceitual em ciência é tão frágil, que necessito de uma aproximação religiosa para poder apoiar o tratamento da depressão? Bem, é tudo questão de lógica, na verdade.
Não há como contestar a necessidade que cada ser humano tem de ter paz interior. Também não há como contestar que quem sofre de depressão-ansiedade não tem paz interior. A procura desta paz interior pode ser alcançada com o auto-conhecimento, que poderá vir através do processo terapêutico adequado que faça com que o portador do distúrbio depressivo-ansioso possa vir a se conhecer melhor (perdão pela redundância). Mas a espiritualização de quem passa por um processo desses, certamente auxiliará em todo o processo de encaminhamento para o equilíbrio, pois que, sem a aproximação do paciente com propostas adequadas de trabalho para auxiliar a quem mais necessita, de conhecimento de dores mais profundas ou de contato com "algo maior", com segurança, haverá maior dificuldade para que exista um equilíbrio ainda maior em todos os movimentos que o depressivo-ansioso precisa.
A espiritualização, entenda-se, não é simplesmente uma adesão a uma doutrina, não é filiar-se a uma religião, simplesmente por estar "de corpo presente". É bem mais que isso: é uma busca REAL de um potencial interior que lhe retire o véu de dificuldades para a visão não material da Vida e permita observar o real motivo de estar "vivendo", as possibilidades e os potenciais que tem dentro de si para construir algo, ainda que pequeno, para colaborar na transformação da Vida, não só da própria, mas dos demais que o cercam e dos mais distantes, assim como as responsabilidades que tem para com o próprio planeta. Tudo, na espiritualização, leva o ser humano a pensar reconstruindo ou construindo e gera maior consciência pessoal, interpessoal, social e conscencial. Por isso, de nada adiantaria simplesmente estar em um culto, em uma missa, em uma reunião de caráter evangélico ou mesmo filosófico, se não houver a caracterização interior de transformação pessoal no culto interior para gerar um novo ser que permita-se libertar das amarras da falta de perdão para consigo próprio e para com os outros, das mágoas para com a Vida ou para com as doenças que eventualmente venha a ter ou já tenha.
Ou seja, estou falando das questões transcedentais mesmo! Trata-se de um processo de conscientização, de elevação pessoal, que permita libertar-se de algo que impede o crescimento. É um conjunto, como eu disse, um tripé terapêutico que se complementa, que se inter-relaciona e potencializa as chances de equilíbrio e, até mesmo de cura. Ainda que existam propostas variadas para a terapêutica da depressão-ansiedade, as questões técnicas não podem ser abandonadas ou esquecidas, pois espelham pesquisas e esforços de indivíduos de algum modo interessados em providenciar um recurso para a melhora de pessoas que sofrem do "mal do século", embasados na Ciência, nas pesquisas científicas, ou seja, resultado de suor e lágrimas de gente que busca, no conhecimento, embasar o entendimento das doenças e seus processos curativos. Abrir mão disso seria insensatez. Mas não aderir à espiritualização também seria, com certeza!
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