Não. Perdoar é independente de esquecer. Uma coisa nada tem a ver com a outra, são coisas distintas – até porque não somos alienados. Temos no cérebro uma memória que registra todos os fatos, por isto quem perdoa não tem que, necessariamente, esquecer
do agravo sofrido.
O que é preciso, na verdade, é esquecer no sentido de diluir a mágoa, a raiva ou o ressentimento que o fato gerou, caso contrário o perdão é superficial ou até mesmo ilusório.
Este tipo de esquecimento é extremamente benéfico para quem sofreu algum tipo de agressão, porque a energia gerada, a cada instante em que se revive o fato infeliz, aumenta a ferida que se formou e numa verdadeira roda viva acumula novo e desnecessário sofrimento.
Para comparar o que seria interessante fazer com relação a uma ofensa, imagine que sua memória guarda as informações em gavetas e que, a cada lembrança você abre as gavetas para "olhar" para o que quer se lembrar. No perdão, poderíamos guardar as lembranças deste tipo no fundo da gaveta, o que torna mais difícil de se lembrar, pois o objeto das lembranças está mais profundamente guardado.
Como se vê, não se "apaga" as lembranças, mas estrategicamente elas são postas em local da memória no qual a evocação é mais difícil, tornando-as menos relevantes.
Mesmo quando se vê o motivo da ofensa, ele passa a não ter importância e acaba por não incomodar como faria anteriormente.
A própria ciência da psicologia afirma isso, atestando que o esquecimento da mágoa por si só vale como uma excelente psicoterapia, pois que, o apego à ofensa (lembrar-se dela o tempo todo) propicia ao ofendido a oportunidade de carregar sozinho a chaga em que ela se constitui, isto é, ao "olhar" para a lembrança, a própria criatura se fere...
A diferença está naquele que realmente perdoa e consegue libertar-se daquela parte pesada da lembrança a ponto de não mais sofrer ao relembrá-la, ao revê-la na gaveta da memória.
Vamos exercitar o perdão?
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