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Mensagem
"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."
Militão Pacheco
sexta-feira, 6 de janeiro de 2017
Tolerância
Voltaire, em seu Dicionário Filosófico, a proclama "apanágio da humanidade", convidando-nos ao perdão mútuo, visto que o equívoco sinaliza o estádio de notória inferioridade em que estacionamos.
Lembra o filósofo iluminista que, nada obstante a religião cristã ser a representante da mais doce mensagem inspiradora da tolerância, é em suas fileiras que comumente se encontram os mais cruéis sintomas da falta desse sentimento.
Quando perseguida, em era primitiva de sua história, a cristandade apelava aos imperadores para que concedessem liberdade religiosa, invocando os direitos pertencentes a todo cidadão da antigüidade romana.
Tertuliano, pensador simpático aos propósitos da Assembléia do Amor Universal, incentiva a tolerância como nenhum outro.
A partir de 313, ao conceder a todas as religiões do Império liberdade de ação, no Edito de Milão, Constantino talvez não soubesse que daria ensejo à gradual repressão ao paganismo, da mesma forma que, dentro do próprio movimento cristão, abriria espaço para Fírmico Materno, Leão Magno e outros, incentivarem atos persecutórios em relação aos adeptos das heresias que afloravam dentro das suas hostes.
Sabendo que a palavra herético vem do grego hairetikis, significando "o que escolhe", podemos concluir que a perseguição, infligida e ao mesmo tempo sofrida pelos cristãos, em última instância, punia a utilização individual do livre arbítrio, divina faculdade de que todo Espírito é portador.
Nesse contexto de intolerância, quando o Medievo é banhado de sangue e trevas, vemos surgir os "autos-de-fé", enormes festas populares nas quais compareciam, além do povo que levava alimentos e quitutes, todos os membros da corte, infantes, convidados ilustres e o próprio rei.
O início dessas festividades mórbidas era marcado por procissão seguida de missa e, acompanhando o protocolo, os réus do Santo Oficio ouviam suas sentenças sendo, posteriormente, queimados vivos diante de sádica multidão que ganhava quarenta dias de indulgência por comparecer ao local.
Jan Huss, Savonarola e diversas outras almas de comprovada grandeza, tiveram seus corpos dilacerados pela sanha odienta daqueles que se arvoravam donos da verdade e, por promoverem horrendos fratricídios, envolveram-se em sombras perturbadoras.
Dos assassinatos, após injusta inquirição, ao violento massacre na noite de São Bartolomeu, a intolerância deu azo à podridão jacente em psiquismos enfermiços, que flauteavam hediondez ao fornecerem patrocínio a perseguições soezes.
E nesses quadros alavancadores de amaras lembranças, para as almas que hodiernamente desejam reabilitação, pintaram-se tristes endividamentos pedindo persolvição urgente.
Como elemento agregador e fomentador da paz e da concórdia, a tolerância exalta o ser, porquanto é característica eminentemente humanitária. Propalando ternura intrínseca à atitude indulgente, este nobre sentimento habita o coração da criatura que adquire consciência de si e do mundo, entendendo-se como ainda imperfeita e, por este motivo, passível de erro.
No campo da crença, objeto deste breve estudo, a tolerância é entendida como coexistência pacífica entre várias confissões religiosas. Todavia, vitimada pela papalvice ou pela pusilanimidade, amiudemente é confundida com conivência ou com a inoperância, desatendendo aos altos propósitos que o entendimento do termo normalmente faculta.
Magotes de oportunistas, desejando alargar o número de "seus" fiéis, tentam promover um amálgama formalista, empanando a essência luminífera da mensagem religiosa, repletando-a com acessórios de visível incongruência.
Diante do outro e de suas representações de alteridade, há que se respeitar as diferenças, destituindo os preconceitos e a violência deles advindas; entretanto, não se sugere abrir mão da identidade e da coerência frente às crenças ou ideologias que visem cumprir papel de cunhas desarticuladoras em nossas profissões de fé.
O bom senso, quando utilizado, inibe atitudes equivocadas que, em nome de conveniências terrenas e de interpretações ingênuas da caridade, intentam erir princípios doutrinários lucidamente defendidos por Espíritos nobres, em prol de um sincretismo reles e ininteligível.
Caso estejamos identificados com enobrecida mensagem religiosa, seja ela qual for, busquemos verdadeiramente abraçá-la, dando-lhe oportunidade para aninhar-se em nosso íntimo, impedindo, porém, quaisquer tentativas de lhe macular a essência a partir de sentenças parciais ou por meio de peculiar ecletismo.
A intolerância fere e mata em cólera destruidora.
A conivência desestrutura idéias, tornando-as incoerentes, ineficazes e mantenedoras de ignorância estagnadora.
A tolerância une e fortalece as criaturas, pois as estimula seguir o nobilitante preceito cristão, a regra de ouro universal, que recomenda dispensarmos a outrem tratamento igual ao que desejarmos receber.
Respeitando a fé alheia, é de se esperar que tenhamos a nossa respeitada.
Christian
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