Mensagem

"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."

Militão Pacheco

segunda-feira, 2 de abril de 2018

As materializações de Katie King


Como se tratasse de uma personalidade medianímica, que afirmava ter vivido alguns séculos antes, não foi possível cuidar-se da identificação pessoal. O caso todavia se apresenta como um dos mais eloqüentes a favor da existência independente dessa personalidade, porque se trata de uma entidade na posse de todos os atributos intelectuais capazes de caracterizar uma individualidade psíquica independente.

Em primeiro lugar, achamo-nos diante de uma personalidade medianímica, cujo poder de manifestação atinge tal grau de perfeição, que se pode manter em estado de perfeita materialização durante horas a fio, passeando livremente no quarto das sessões, tomando parte na conversa, materializando-se espontaneamente, mesmo em plena claridade do dia, isto durante três anos consecutivos, em sessões que se sucediam inúmeras e em grande parte realizadas na própria casa do Sr. Crookes.

Além disso, não podemos deixar de ter em conta que essa admirável personalidade medianímica, dotada de todos os predicados de uma individualidade pensante, não cessava de afirmar, do modo mais peremptório, a sua existência espiritual independente; dá o nome por que foi conhecida em vida, conta tristemente as vicissitudes dolorosas da sua curta existência terrestre, enquanto se ocupa de provar ainda, por outra forma, a sua independência espiritual, mostrando-se aos experimentadores ao mesmo tempo que o médium, deixando-se fotografar com este último e com o Sr. Crookes, permitindo a este e à Sra. Marryat de apalparem-na, de abraçarem-na, de escutarem-lhe as pulsações do coração, de sentirem-lhe o bater do pulso e, enfim, acordando a médium e com ela conversando.

Este último episódio se reveste de grande valor psicológico; sinto-me no dever mesmo de reproduzir aqui o trecho da famosa sessão em que Katie King dá o último adeus aos assistentes. o Sr. Crookes escreve:

No momento de levantar a cortina, Katie King parou um instante a conversa comigo, depois atravessou o quarto, dirigiu-se para a médium, Srta. Cook, que, desacordada, jazia sobre o tapete. Inclinando-se para ela, Katie tocou-a levemente, di­zendo: “Vamos, Florie, vamos; chegou a hora de nos sepa­rarmos. A Srta. Cook, abalada pelas palavras que acabava de ouvir, suplicou, chorando, que Katie King demorasse algum tempo ainda. “Não posso, minha querida, respondeu Katie King, minha missão está finda. Que Deus te abençoe.” Conversaram juntas ainda alguns instantes até que as lágrimas embargaram a voz da Srta. Cook, da qual me havia aproximado a conselho dè Katie, para segurá-la, pois havia caído sobre o assoalho, sacudida por soluços convulsívos.

No maravilhoso episódio acima, encontramos reunidas as melhores provas que a Ciência tem o direito de exigir para admitir a independência psíquica de uma personalidade medianímica. De um lado, a forma materializada visível com a médium; de outro lado, a circunstância psicologicamente decisiva de duas individualidades distintas. Ambas, na posse das suas faculdades conscientes, se entretêm, afetuosamente, trocando comovidas o último adeus.

Como, diante de semelhantes provas, falar seriamente de “prosopopese-metagnomia”?

Quem, sensatamente, poderia imaginar que as duas metades de uma mesma personalidade tenham o poder de desdobrar-se e transformar-se em duas individualidades completas, independentes, munidas de traços intelectuais característicos e cada uma a seu modo?

Quem ousaria sustentar que a personalidade subconsciente da médium, exteriorizando-se e materializando-se, possa transformar-se, como que por encanto, em uma personalidade que completamente ignora pertencer a essa outra metade da “vida dela mesma” que está diante dela, e que dentro dessa inconcebível ignorância, também partilhada fatalmente pela outra metade, possam as duas infelizes seções da mesma alma, ambas deploravelmente iludidas, ser levadas a se imaginarem, não se sabe bem por que recôndito mistério da prosopopese, na iminência de uma separação definitiva, ao ponto de trocarem frases afetuosas e palavras comoventes de despedida?!

Repitamo-lo com o Prof. Hyslop: “Não se pode marcar limites à credulidade de quem é capaz de sustentar seriamente semelhante interpretação dos fatos.”

Não será inútil examinar aqui o episódio, em discussão, sob o ponto de vista estritamente psicofisiológico. Nele nós nos achamos diante de duas personalidades reais, perfeitamente visíveis, tangíveis, fotografáveis:

a médium, Srta. Cook, de um lado,
do outro o fantasma materializado de Katie King, com quem muitas vezes se entretém afetuosamente.

Este fato, em termos psicofisiológicos, significa que as duas personalidades medianímicas teriam acionado simultaneamente os centros corticais da inervação da linguagem falada.

O fim do seu encontro e o assunto dos seus diálogos constituíam o pensamento angustioso da separação definitiva que se tornava iminente, ocasionando que as lágrimas da médium sucedessem ao testemunho comovedor de afeição, manifestado pela personalidade materializada.

Achamo-nos, portanto, diante de um fenômeno irrefutável de duplicação real, incontestável, de centros e de faculdades psíquicas, que a prosopopese nunca conseguirá explicar, pois, nos casos de “personalidades alternantes” de origem patológica, se verifica constantemente que as faculdades psíquicas ou peicofisiológicas de que se serve, em dado momento, uma dessas personalidades, faltam à outra, como é aliás fácil de prever.

Em reforço desta tese, parece-me oportuno acrescentar que a personalidade de Katie King, longe de se entregar passivamente aos desejos sempre formulados mentalmente ou de viva voz pelos assistentes, longe de refletir automaticamente a vontade da médium ou do Sr. Crookes, ela age como entende; aconselha, exorta, censura, recusa-se, não raro, a responder a perguntas indiscretas e, quando alguém a interroga sobre as causas da sua reaparição na Terra, responde que a sua volta atende aos deveres de uma missão, à necessidade de uma expiação, constituindo para ela um meio de progresso espiritual ulterior.

Um belo dia a personalidade medianímica de Katie King anuncia aos seus amigos da Terra que a sua missão está prestes a terminar e que, em determinado dia, deixará de manifestar-se sob a forma material.

Mas como, perguntarão, se a vontade de todos é que ela fique?
Como, se a ideia plastificante e organizadora da médium é onipotente?

Como não conseguir reter, ao menos por mais um dia, esse manequim criado pela prosopopese, esse manequim que, mostrando-se profundamente sensível a tantas demonstrações de afeição, teve ainda assim de deixar para sempre os seus amigos, em obediência a uma vontade suprema?!

Que títeres prosopopésicos são esses que, apenas nascidos, se tornam logo intelectualmente independentes, pensam como melhor lhes parece, agem de vontade própria, tomam a identidade de entes que viveram na Terra, demonstram o que dizem por meio de todas as provas pessoais que humana e logicamente se podem exigir, manifestam-se quando bem entendem, ausentam-se para sempre quando menos se espera, falam de um estágio espiritual em que vivem, de ninguém obedecendo à vontade, exceção feita de uma entidade espiritual a que se referem, incessantemente, com veneração profunda?

Quantos enigmas, e cada qual mais notável, a se resolverem pela hipótese da “prosopese- metagnomia”!

Ernesto Bozzano

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