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Mensagem
terça-feira, 31 de março de 2009
Alma ao Socialismo
As revoluções só têm feito, as mais das vezes, deslocar os abusos. Num progresso lento, contínuo e, sobretudo, na educação do povo, é que, principalmente, se encontra o "processus" mais eficiente para que neste mundo se realizem os aperfeiçoamentos entrevistos.
O Socialismo atual, também, quer estabelecer uma ordem de coisas que seja um composto de justiça e progresso. Mas, para isso, terá, antes de tudo, que se inspirar num ideal elevado, numa doutrina espiritualista, que constitua como que o cimento que ligue os seus elementos diversos, a fim de com eles formar um sistema homogêneo, uma força viva e benfazeja. Isso, entretanto, o de que sempre careceram as teorias socialistas, por demais impregnadas de materialismo.
Ora, esse ideal a Doutrina, a Revelação dos Espíritos lhes vem oferecer, mediante as provas experimentais demonstrativas da existência e da sobrevivência da alma.
O moderno espiritualismo traz ao Socialismo a revelação da vida universal e de suas leis, leis cujo conhecimento é indispensável a todos os que trabalham pelo progresso social. Não sendo mais que um dos aspectos, uma das formas da vida universal, a vida humana tem que se adaptar a esta, tomando-a no seu sentido profundo e no seu objetivo, sob pena de ver todas as obras sociais atacadas de impotência e de esterilidade, porquanto nada de durável se pode edificar fora da lei geral de evolução e de harmonia.
Para o materialista, a vida terrena, sem precedentes e sem conseqüentes, curtíssima duração empresta aos sentimentos e aos liames que unem os homens. Porém, graças aos testemunhos dos defuntos, ampliam-se ao infinito as perspectivas. O nosso destino se desdobra, através dos tempos, numa sucessão de existências inumeráveis, cada uma das quais é um meio de educação, de ascensão gradativa, de evolução do ser, no sentido do bom, do perfeito.
Desde logo, pois, a vida adquire maior valor e o destino toma uma amplitude que escapa a toda e qualquer mensuração. A solidariedade e a fraternidade, que constituem os princípios essenciais
do Socialismo, já não ligam somente os homens no presente, mas em todas as fases de sua imensa evolução. A fraternidade se torna uma das leis da vida universal, resultando daí ficarem as instituições, as obras humanas, fecundadas e como que iluminadas.
Vem depois o conhecimento do que somos, da nossa dupla natureza, perecível uma, a outra imortal, e, conseguintemente, a solução dos problemas até aqui insolúveis, da vida, do livre arbítrio e da responsabilidade, a conseqüência dos atos a recair sobre seus autores, a demonstração da justiça e o aperfeiçoamento de todos, pelo trabalho, pelo estudo, pela utilização das forças morais inatas no homem.
Tais são os dados capitais desse ensino, dessa revelação, ao mesmo tempo científica, experimental e filosófica, que não pode ser abafada, desnaturada, falsificada, porque tem por intérpretes os milhões de vozes que se elevam em todos os pontos do Globo e que, fazendo umas a contraprova do que dizem as outras, nos informam das condições da vida futura e das suas leis.
Esse ensino penetra em todos os domínios do pensamento, toma pouco a pouco o lugar do dogmatismo dos séculos passados, das formas materiais, apoiado exclusivamente na consciência e na razão. E, unicamente a partir do dia em que o houver adotado, é que o Socialismo se achará em condições de trabalhar eficazmente na educação do povo, na reforma do ser humano, a fim de reprimir as paixões e o egoísmo, os ódios de classes, até hoje o maior obstáculo à realização de seus objetivos.
Adotando esta dilatada doutrina espiritualista é que o Socialismo alcançará o seu máximo de irradiação, toda a sua potencialidade regeneradora e logrará implantar na Terra um estado de coisas conforme a suprema lei de progresso e de justiça. Conservar-se-á estéril, enquanto ao programa das reformas materiais não juntar as forças do Espírito.
É preciso dar uma alma ao Socialismo!
Cada vez mais acerba e ardorosa se faz à luta pela vida, por motivo de que, em vez de restringirem as necessidades materiais, o que seria o remédio melhor, os homens as multiplicam à porfia. Todos os dias se criam necessidades fictícias, imaginárias, que mais pesado tornam o jugo da matéria, do mesmo passo que são desprezadas as necessidades espirituais, os tesouros da inteligência e do coração, para cuja aquisição viemos especialmente a este mundo. Daí resulta que, para a maioria dos homens, perdido ficou o objetivo da existência, cumprindo-lhes recomeçá-la em condições mais penosas, mais dolorosas.
Ignorante da conseqüência de seus atos, que sobre ela recaem, e das leis do destino, a Humanidade prepara dias sombrios para o seu amanhã, dias que perdurarão até que a luz do Alto e a Revelação dos Espíritos lhe venham, enfim, clarear o caminho.
O papel do Espiritismo na educação social tem que se patentear, porque constitui uma inovação, necessária do ponto de vista filosófico, e se torna assim correlativo com os trabalhos dos sábios, orientados para o estudo das ondas que formam parte integrante dos feixes da vida universal.
Filosofia e Ciência têm que chegar, paralelamente, num sentido abstrato e concreto, aos mesmos resultados: dilatação do pensamento humano e extra-humano, do ponto de vista filosófico, por efeito de uma visão científica, precisa, clara e racional.
Diante desses vastos domínios da vida universal, em face da meta sublime que a alma colima através de suas peregrinações, que significação têm as vãs distinções de castas e os preconceitos da riqueza?
A noção das responsabilidades pode preservar de muitas quedas e atenuar muitos ódios. Uma vaga de igualdade aproxima todas as situações. Compreender-se-á que a injustiça da sorte é apenas aparente, que as provações têm sua razão de ser para a reparação das faltas do passado e a conquista de melhor futuro.
Então, a malevolência, a inveja e o egoísmo poderão ceder lugar ao altruísmo, e a fraternidade deixará de ser uma palavra carente de sentido, por isso que perceberemos quão intimamente estamos ligados uns aos outros, em a nossa eterna ascensão.
E o mal? perguntarão.
O mal não é senão o estado de inferioridade dos seres e dos mundos. Enfraquece com a evolução geral e acaba por desaparecer. Na sua fadigosa subida para o bem, para a luz, o próprio ser constrói sua consciência, sua personalidade, e na sua mesma elevação encontra a alegria e a recompensa.
Leon Denis
Reformador 1º de abril de 1925
sábado, 28 de março de 2009
R E F L E X Õ E S
Entrevista de Divaldo Pereira Fran-co, concedida ao programa “Transição”.
Entrevistadora:
Divaldo, quando ocorreu o acidente com o menino João Hélio, chamou atenção uma entrevista concedida pela a mãe de dois rapazes que estavam no carro que arrastou o menino, ela disse que não criou monstros, muitas pessoas se esquecem da dor dos pais daqueles que cometem os crimes, o que você poderia dizer a esse respeito?
Divaldo:
Que estes sim são as grandes vítimas, porquanto aquele que desencarna nesta circunstância recebe do alto a misericórdia divina, toda a condição de vítima, quando não existem motivos atuais, vamos encontrá-los em existências pregressas e essa condição dá ao indivíduo a oportunidade de sublimar-se.
Mas aqueles pais que ficam destroçados, estes estão experimentando as grandes provações. È necessário que nós pensemos principalmente tanto nos pais da vítima, como também nos pais dos algozes, ninguém cria um filho para vê-lo na condição de um monstro. Essa mãe cujos filhos foram responsáveis por esse crime hediondo, que comoveu a todos nós, comoveu ao mundo, naturalmente quanto sofre, e alguém dizer: é a mãe daquele monstro. Ela daria tudo para que ele fosse um cidadão, no entanto todo esse emaranhado nas leis das reencarnações fazem parte do nosso projeto de vida.
Deveremos estar vigilantes desde os primórdios da educação, que os nossos filhos não são nossos filhos.
Gibran Calil Gibran na sua bela obra a respeito do profeta, ele coloca na boca da profetiza “vossos filhos não são vossos filhos. Eles estão em nossas mãos por empréstimos e os pais devem zelar por eles desde cedo, observando-lhes as reações”.
Esses indivíduos que apresentam essas psicopatologias graves para crimes os hediondos, revelam através de pequenos comportamentos quando, matam pássaros, quando maltratam animais, quando perturbam um pequeno gato ou cão, quando chutam as coisas, estão revelando as suas tendências que a pouco e pouco vão impregnando para mais tarde partir para crimes hediondos.
Engels o grande filósofo e poeta alemão, deixou escrito uma frase que eu pude ler no campo de concentração em Dachau: Quando se queima um livro, e este foi o primeiro ato de Hitler contra os Judeus, logo mais estará se queimando homens.
Quando nós notarmos essas manifestações inabituais devemos trabalhar na educação. Embora alguns psicólogos digam que a educação nada pode fazer porque a problemática é genética, nós os espíritas, sabemos que a genética oferece as possibilidades e a educação dá os instrumentos para uma vida digna e saudável, então os pais desde cedo devem vigiar as tendências e corrigi-las com amor e não se tornarem coniventes quer por comodidade, quer por ignorância ou quer para não criar problema no relacionamento pai e filho. É necessário vigiar com amor e disciplinar.
Com Jesus no Lar
Como nos coloca Divaldo, devemos observar desde cedo as tendências que estão incrustadas em nossos filhos para que possamos aproveitar já no período de primeira infância o estado propício em que se encontra o espírito, a fraqueza da pouca idade é providencial à ação educativa. Assim, durante este período de infância, o espírito se torna mais acessível ao processo educativo nos dando a chance de auxiliar, este que se encontra sob nossa tutela a alçar vôos rumo ao seu aprimoramento, a sua reforma íntima.
Mas onde encontrar as bases para a verdadeira educação, a educação do espírito?
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. As palavras de Jesus não representam uma frase de efeito, mas a verdade incontestável para os que têm “olhos de ver”. O Evangelho representa o roteiro seguro para todos que tem a missão de educar. O lar sendo a primeira instituição social de que a criança participa deve ter presente o Evangelho, abrindo assim às portas para Jesus.
Com Jesus no Lar, pelo estudo e vivência do Evangelho, tem-se a verdadeira paz. A criança, o jovem ou o adulto, cria vínculo com Jesus. Compromisso com aquele que afirmou: “O reino dos céus está dentro de vós” e afirmou que “Ninguém vem ao pai senão por mim”.
A prática do Evangelho no Lar conduz-nos a uma compreensão racional dos ensinamentos do Cristo, levando-nos ao esclarecimento e à aceitação de tê-los como roteiro seguro para nossas vidas.
A criança que cresce em ambiente que estimula constantemente a prática do evangelho no lar aprende desde cedo onde buscar seu porto seguro em to-dos os momentos da vida. Que dúvida poderá restar a nós, que abraçamos o espiritismo, o Consolador prometido pelo próprio Cristo?
Fontes Consultadas:
Entrevista com Divaldo Pereira Franco
“O compromisso dos pais na criação dos filhos”. Programa “Transição”- Rede Vida
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Z-2R8ruVjoI&feature=email
“Educação do Espírito” Introdução à Pedagogia Espírita – Walter Oliveira Alves
Benção no Lar
Mãezinha Querida,
Quisera hoje escrever-te as palavras mais lindas, dizer que o teu carinho é uma estrela a guiar-me, que a tua presença é a de um anjo iluminando-me as ho-ras...
Quisera falar-te com a luz do Céu transformada em melodia, enaltecendo-te a bondade, ou fazer um colar com os sorrisos de todas as crianças com que te enfeitasse o coração...
Revejo-te, porém, a imagem serena e doce na tela da memória e longe de saber glorificar-te só me resta o impulso de agradecer.
De que modo exaltar-te, se é a tua abnegação que me exalta? Que poderia a gota d'água cantar em louvor da fonte que a embala e de cuja ternura ela própria desliza ?
Se te posso algo oferecer, trago-te a singela mensagem de meu conhecimento com a esperança de ser melhor.
Não te ignoro os sacrifícios que buscas esconder na imensidão de teu afeto, nem as lágrimas por minha causa que não deixas a cair, a fim de que eu não saiba das inquietações que te dou.
Perdoa-me e espera, anjo querido, porque as tuas sementes de ternura e dedicação estão vivas em minhalma.
Reconheço os espinheiros e as dificuldades da incompreensão que sufocam temporariamente as plantações de paz e amor que me deste.
Sei quantas vezes te esqueci, enquanto me colocavas diante de DEUS, em tuas preces de aflição, e sei das outras tantas em que te feri, enquanto me afagavas...
Acolhe-me, porém, querida mãezinha, a promessa de entendimento e renovação... Recebe-me o pranto jubiloso de gratidão pela felicidade de possuir comigo o tesouro das alegrias de que me envolves... E se te posso pedir mais ainda, abraça-me de novo, deixa que te sinta o coração no meu coração, reaquece minhalma a fim de que eu siga adiante, ao encontro das experiências que me aguardam no mundo, e repete outra vez as palavras inesquecíveis da infância com que sempre me abençoaste, para que DEUS me abençoe.
Autor: Meimei / Psicografia de Chico Xavier
Infância
A infância é o sorriso da existência no horizonte da vida.
Representa esperança que o pessimismo não pode modificar. É mensagem de amor para o cansaço no refúgio do desencantamento, a fulgir no sacrário da oportunidade nova.
É experiência em começo que nos compete orientar e conduzir.
É luz a agigantar-se aguardando o azeite do nosso desvelo.
É sinfonia em preparação... nota solitária que o Músico Divino utilizará na sucessão dos dias para a grande men-sagem ao mundo conturbado.
Atendamos o infante oferecendo, à manhã da vida, a promessa de um futuro seguro.
Nem a energia improdutiva;
nem o caminho pernicioso;
nem a assistência socorrista prejudicial às fontes do valor pessoal;
nem a negligência em nome da confiança no Pai de todos;
nem a vigilância que deprime;
nem o arsenal de descuidos em respeito falso ao futuro homem ...
Mas, acima de tudo, comedimento de atitudes com manancial farto de recursos pessoais e exemplos fecundos, porquanto as bases do futuro encontram-se na criança de hoje, tanto quanto o fruto do porvir dormita na flor perfumada de agora.
Cuidemos do infante, oferecendo o carinho fraterno dos nossos recursos, confiados de que, um dia seremos convidados a oferecer ao Pai Misericordioso o resultado da nossa atuação junto àquele cuja guarda esteve aos cuidados do nosso coração.
Autor: Bezerra de Menezes
Psicografia de Divaldo Franco. Da obra: Compromissos Iluminativos
sexta-feira, 27 de março de 2009
A Tolerância
Imagine que a tolerância é o recurso que possibilita o convívio, a troca, o aprendizado entre as pessoas.
Habitualmente cada um de nós fica retido em suas imperfeições, contido por aspirações e costumes que impulsione na produção e na execução das tarefas. Estes nossos hábitos fazem parte da persona, da personalidade de cada um, constituindo os caracteres ou o caráter.
Ocorre que muitos destes caracteres não encontram ressonância com todos os que nos cercam.
Há muitas pessoas que discordam do ponto de vista de quem quer que seja ou de uma pessoa ou outra em particular. São as divergências ou as diferenças de pontos de vista.
Na verdade, circunstâncias naturais da vida, que podem ser exarcerbados e amplificados por conta dos vários graus de intolerância interpessoal.
Quando estamos diante de alguém que seja de difícil personalidade e que venha a constranger o ambiente onde estamos, necessitamos desenvolver a temperança nas nossas reações, possibilitando-nos a total ou parcial interação com esta pessoa, não só por conta de nosso próprio benefício, mas principalmente pelo bem em geral que isso venha a desenvolver.
Sair da faixa vibratória que permite o desequilíbrio juntamente com esta pessoa é gesto natural e necessário (ou deveria ser, ao menos) para que a nossa jornada não seja improdutiva.
É fácil cair em erro nesta situação, pois diante do erro, nós também tendemos a errar. Portanto, a particularidade neste momento é que pode evitar transtornos ainda maiores.
A indulgência, a tolerância, autêntica é que permite o pacífico convívio com criaturas difíceis e permite-nos caminhar pelas trilhas da vida sempre com o objetivo de pacificar o ambiente onde estejamos.
Caibar Schutel
PSICOGRAFIA – NEPT – 13.03.2009.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Os médiuns interesseiros
A.K. – Naquele que não quer se dar ao trabalho de estudar, há mais de curiosidade que desejo real de se instruir. Ora, os Espíritos não gostam mais de curiosos que eu próprio. Aliás, a cupidez lhes é, sobretudo, antipática, e eles não se prestam a nada que possa satisfazê-la. Seria preciso ter deles uma idéia bem errada para crer que os Espíritos superiores, como Fénelon, Bossuet, Pascal, Santo Agostinho, por exemplo, se colocassem às ordens do primeiro que os solicitasse, a tanto por hora. Não, senhor, as comunicações de além-túmulo são uma coisa muito grave, e exigem muito respeito, para servirem de exibição.
Aliás, sabemos que os fenômenos espíritas não se desenrolam como as engrenagens de um mecanismo, uma vez que dependem da vontade dos Espíritos. Mesmo admitindo-se a aptidão medianímica, ninguém pode responsabilizar-se de os obter em tal momento dado.
Se os incrédulos são levados a suspeitarem da boa-fé dos médiuns em geral, seria bem pior se estes tivessem um estimulante interesse; poder-se-ia suspeitar, com todo direito, que o médium retribuiria com simulação, porque ele precisaria, antes de tudo, ganhar seu dinheiro.
Não somente o desinteresse absoluto é a melhor garantia de sinceridade, como repugnaria à razão evocar a peso de ouro os Espíritos de pessoas que nos são caras, supondo que eles a isso consentissem, o que é mais que duvidoso. Não haveria, em todos os casos, senão Espíritos inferiores, pouco escrupulosos quanto aos meios, e que não mereceriam nenhuma confiança. Estes mesmos, ainda, freqüentemente, agem com um prazer maldoso, frustrando as combinações e os cálculos dos seus evocadores.
A natureza da faculdade mediúnica se opõe, pois, a que ela se torne uma profissão, uma vez que depende de uma vontade estranha ao médium, e ela poderia faltar-lhe no momento que dela tivesse necessidade, a menos que ele a supra pela agilidade. Mas, em se admitindo mesmo uma inteira boa-fé, desde que os fenômenos não se obtêm à vontade, seria um efeito do acaso se, na sessão que se tivesse pago, se produzisse precisamente aquilo que se desejaria para se convencer. Daríeis cem mil francos a um médium e não o faríeis obter dos Espíritos o que estes não quisessem fazer. Essa paga, que desnaturaria a intenção e a transformaria em um violento desejo de lucro, seria mesmo, ao contrário, um motivo para que ele não tivesse sucesso. Se se está bem compenetrado dessa verdade, que a afeição e a simpatia são as mais poderosas motivações de atração dos Espíritos, compreender-se-ia que eles não podem ser solicitados com o pensamento de os usarem para ganhar dinheiro.
Aquele, pois, que tem necessidade de fatos para se convencer, deve provar aos Espíritos sua boa vontade por uma observação séria e paciente, se quer por eles ser secundado. Mas, se é verdadeiro que a fé não se impõe, não o é menos dizer-se que ela não se compra.
Visitante – Eu compreendo esse raciocínio sob o ponto de vista moral; entretanto, não é justo que aquele que dá seu tempo no interesse de seu ideal, dele seja indenizado, se isso o impede de trabalhar para viver?
A.K. – Em primeiro lugar, é no interesse da causa que ele o faz ou é no seu próprio interesse? Se mudou sua posição, é que não estava satisfeito e que esperava ganhar mais ou ter menos trabalho nesse novo ofício. Não há nenhum devotamento em dar seu tempo quando é para dele tirar proveito. É como se se dissesse que o padeiro fabrica o pão no interesse da Humanidade. A mediunidade não é o único recurso; sem ela eles seriam obrigados a ganharem a vida de outra maneira. Os médiuns verdadeiramente sérios e devotados, quando não têm uma existência independente, procuram os meios de vida em seu trabalho normal, e não mudam sua posição. Eles não consagram à mediunidade senão o tempo que podem dar-lhe sem prejuízo e se o tomam do seu lazer ou do seu repouso, espontaneamente, então são devotados e se os estima e respeita mais por isso.
A multiplicidade de médiuns nas famílias, aliás, torna os médiuns profissionais inúteis, mesmo supondo-se que eles oferecem todas as garantias desejáveis, o que é muito raro. Sem o descrédito que se atribui a esse gênero de exploração, do qual me felicito de ter contribuído grandemente, ver-se-ia pulularem os médiuns mercenários e os jornais se cobrirem dos seus anúncios. Ora, para um que tivesse podido ser leal, haveria cem charlatães que, abusando de uma faculdade real ou simulada, teriam feito o maior mal ao Espiritismo. É, pois, como princípio que todos aqueles que vêem no Espiritismo alguma coisa além de exibição de fenômenos curiosos, que compreendem e estimam a dignidade, a consideração e os verdadeiros interesses da doutrina, reprovam toda espécie de especulação, sob qualquer forma ou disfarce que ela se apresente. Os médiuns sérios e sinceros, e eu dou esse nome àqueles que compreendem a santidade do mandato que Deus lhes confiou, evitam até na aparência o que poderia fazer pairar sobre eles a menor suspeita de cupidez. A acusação de tirar um proveito qualquer de sua faculdade, seria para eles uma injúria.
Concordai, senhor, inteiramente incrédulo que sois, que um médium nessas condições faria sobre vós uma outra impressão se tivésseis pago vosso lugar para vê-lo operar, ou mesmo que tivésseis obtido uma entrada de favor, se sabíeis que havia em tudo isso uma questão de dinheiro. Concordai que, vendo o médium animado de um verdadeiro sentimento religioso, estimulado só pela fé e não pelo desejo de ganho, involuntariamente ele se imporia ao vosso respeito, fosse ele o mais humilde proletário, e vos inspiraria mais confiança, porque não teríeis nenhum motivo para suspeitar de sua lealdade. Pois bem, senhor, encontrareis nestas condições mil por um, e é isso uma das causas que contribuíram poderosamente para o crédito e a propagação da doutrina, enquanto que se ela não tivesse tido senão intérpretes interesseiros, ela não contaria hoje a quarta parte dos adeptos que tem.
Compreende-se muito bem que os médiuns profissionais são raríssimos, pelo menos na França; que são desconhecidos na maioria dos centros espíritas do país, onde a reputação dos mercenários bastaria para os excluir de todos os grupos sérios, e onde, para eles, o ofício não seria lucrativo, em razão do descrédito de que seriam objeto e da concorrência de médiuns desinteressados que se encontram por toda parte. Para suprir, seja a faculdade que lhe falta, seja a insuficiência da clientela, há supostos médiuns que usam o jogo de cartas, a clara de ovo, a borra de café, etc., a fim de satisfazer todos os gostos, esperando por esses meios, na falta dos Espíritos, atrair aqueles que ainda crêem nessas tolices. Se eles não fizessem mal senão a si mesmos, o mal seria insignificante; contudo, há pessoas que, sem ir mais longe, confundem o abuso com a realidade e depois os mal intencionados delas se aproveitam para dizer que nisso consiste o Espiritismo. Vede, pois, senhor, que a exploração da mediunidade conduzindo aos abusos prejudiciais à doutrina, o Espiritismo sério tem razão de a condenar e de a repudiar como auxiliar.
Visitante – Tudo isso é muito lógico, eu convenho, mas os médiuns desinteressados não estão à disposição dos que os buscam, e não é justo desviá-los do seu trabalho, enquanto que não se teria escrúpulos de procurar aqueles que se fazem pagar, porque se sabe não fazê-los perder seu tempo. Se houvesse médiuns públicos, seria mais fácil para as pessoas que querem se convencer.
A.K. – Mas se os médiuns públicos, como os chamais, não oferecem as garantias desejadas, que utilidade podem ter para a convicção? O inconveniente que assinalais não destrói aqueles bem mais graves a que me referi. Ir-se-ia até eles mais por divertimento ou para tirar a sorte, que para se instruir. Aquele que quer, seriamente, se convencer encontra, cedo ou tarde, os meios para isso, se tem perseverança e boa vontade. Mas não é porque assistiu a uma sessão que se convencerá, se para isso não está preparado. Se ela lhe dá uma impressão desfavorável, ficará pior que antes e talvez desanimado de continuar um estudo no qual nada viu de sério; isso é o que prova a experiência.
Mas ao lado das considerações morais, os progressos da ciência espírita nos mostram hoje uma dificuldade material, que não supusemos no início, fazendo-nos conhecer melhor as condições sob as quais se produzem as manifestações. Essa dificuldade diz respeito às afinidades fluídicas que devem existir entre o Espírito evocado e o médium.
Coloco de lado todo pensamento de fraude e de mistificação e suponho a mais completa lealdade. Para que um médium profissional pudesse oferecer toda segurança às pessoas que viessem a consultá-lo, seria preciso que ele possuísse uma faculdade permanente e universal, quer dizer, que pudesse se comunicar facilmente com todos os Espíritos e a qualquer momento, para estar constantemente à disposição do público, como um médico, e satisfazer a todas as evocações que lhe fossem pedidas. Ora, isso não ocorre com nenhum médium, não mais nos desinteressados que nos outros, e isso por causas independentes da vontade do Espírito, mas que não posso desenvolver aqui porque não vos estou dando um curso de Espiritismo. Eu me limitarei a dizer que as afinidades fluídicas, que são o próprio princípio das faculdades mediúnicas, são individuais e não gerais, e que podem existir do médium para tal Espírito e não a tal outro; que sem essas afinidades, cujas nuances são muito diversificadas, as comunicações são incompletas, falsas ou impossíveis; que, o mais freqüentemente, a assimilação fluídica entre o Espírito e o médium não se estabelece senão com o tempo, é que não ocorre, uma vez em dez, que ela seja completa desde a primeira vez. Como vedes, senhor, a mediunidade está subordinada a leis, de alguma sorte orgânicas, às quais todo médium está sujeito. Ora, não se pode negar que isso não seja um escolho para a mediunidade profissional, uma vez que a possibilidade e a exatidão das comunicações prendem-se a causas independentes do médium e do Espírito (ver adiante cap. II, parágrafo Dos Médiuns).
Se, pois, repelimos a exploração da mediunidade, não é nem por capricho nem por espírito de sistema, mas porque os próprios princípios que regem as comunicações com o mundo invisível se opõem à regularidade e à precisão necessárias para aquele que se coloca à disposição do público, e que o desejo de satisfazer a uma clientela pagante conduz ao abuso. Disso não concluo que todos os médiuns interesseiros são charlatães, mas digo que o interesse de ganho conduz ao charlatanismo e autoriza a suposição de fraude se não a justifica. Aquele que quer se convencer deve, antes de tudo, procurar os elementos de sinceridade.
Eusápia Paladino
Eusápia Paladino foi a primeira médium de efeitos físicos a ser submetida a experiências pelos cientistas da época, tais como César Lombroso, Alexandre Aksakof, Charles Richet e muitos outros.
Nasceu em Nápoles, Itália, em 31 de janeiro de 1854, e desencarnou em 1918, com a idade de sessenta e quatro anos.
Sua mãe morrera quando ela nasceu e o pai quando ela alcançou a idade de doze anos.
As primeiras manifestações de sua mediunidade consistiram no movimento e levitação de objetos, quando ainda muito jovem, pois contava apenas quatorze anos. Esses fenômenos eram espontâneos e se verificavam na casa de um amigo com quem ela morava. Somente aos vinte e três anos é que, graças a um espírita convicto, Signor Damiani, ela conheceu o Espiritismo.
Por volta do ano 1888 é que Eusápia tornou-se conhecida no mundo científico em virtude de uma carta do Prof. Ércole Chiaia enviada ao criminalista César Lombroso, relatando detalhadamente as experiências já realizadas por ele com a médium, carta essa publicada no jornal "Il Fanfulla dela Domênica".
Entre outras coisas, dizia o missivista:
"A doente é uma mulherzinha de modestíssima condição social, com cerca de trinta anos, robusta, iletrada e cujo passado, porque vulgaríssimo, não merece esquadrinhado; que nada apresenta de notável, a não ser as pupilas de fascinante brilho e essa potencialidade, que os criminalistas diriam irresistível."
Em outro trecho da carta , dizia:
"Quando quiserdes, essa mulherzinha será capaz de, encerrada numa sala, divertir durante horas, por meio de surpreendentes fenômenos, todo um grupo de curiosos mais ou menos céticos, ou mais ou menos acomodatícios".
Através dessa carta, convidava, também, o célebre alienista, a investigar, diretamente, os fenômenos por ele constatados na médium.
Três anos mais tarde, em 1891, Lombroso aceitou o convite, realizando, com Eusápia, uma série de sessões. Esses trabalhos foram seguidos pela Comissão de Milão, integrada pelos professores Schiaparelli, diretor do Observatório de Milão; Gerosa, Catedrático de física; Ermacora, Doutor em Filosofia, de Munique, e o prof. Charles Richet, da Universidade de Paris. Além dessas sessões, muitas outras foram realizadas, com a presença de homens de ciência, não só da Europa, como também da América.
Lombroso, diante da evidência dos fatos, converteu-se ao Espiritismo, tendo declarado:
"Estou cheio de confusão e lamento haver combatido, com tanta persistência, a possibilidade dos fatos chamados espíritas."
A conversão de Lombroso deveu-se também ao fato de o Espírito de sua mãe haver-se materializado em uma das sessões realizadas com Eusápia.
Antes de encerrarmos esta ligeira exposição sobre a preciosa mediunidade de Eusápia Paladino, convém citarmos um trecho do relatório apresentado pela Comissão de Milão que diz:
"É impossível dizer o número de vezes que uma mão apareceu e foi tocada por um de nós. Basta dizer que a dúvida já não era possível. Realmente, era uma mão viva que víamos e tocávamos, enquanto, ao mesmo tempo, o busto e os braços da médium estavam visíveis e suas mãos eram seguras pelos que achavam a seu lado."
Como se vê, a Comissão que ofereceu este relatório era constituída por homens de ciência, o que não deixa dúvida quanto à veracidade dos fenômenos por eles constatados.
O prof. Charles Richet, em 1894, também realizou várias sessões experimentais em sua própria casa, obtendo levitações parciais e completas da mesa, além de outros fenômenos de efeitos físicos.
Sir Oliver Lodge, prof. de Filosofia Natural do Colégio de Bedford, Catedrático de Física da Universidade de Liverpool, Reitor da Universidade de Birmingham, e que foi, também, por longos anos, presidente da Associação Britânica de Cientistas, após as experiências realizadas com Eusápia, apresentou um relatório à Sociedade de Pesquisas da Inglaterra, dizendo, entre outras coisas, o seguinte:
"qualquer pessoa, sem invencível preconceito, que tenha tido a mesma experiência, terá chegado à mesma larga conclusão, isto é, que atualmente acontecem coisas consideradas impossíveis... O resultado de minha experiência é convencer-me de que certos fenômenos geralmente considerados anormais, pertencem à ordem natural e, como um corolário disto, que esses fenômenos devem ser investigados e verificados por pessoas e sociedades interessadas no conhecimento da natureza".
Eis aí, em linhas gerais, o que foi a excepcional mediuni-dade de Eusápia Paladino, figura de destaque na história do Espiritismo, que veio à Terra para cumprir a sublime missão de demonstrar a sobrevivência do Espírito, após a desencarnação.
Fonte: ABC do Espiritismo
terça-feira, 24 de março de 2009
O servir e a disciplina.
Jesus serviu a humanidade como ninguém na Terra jamais serviu.
Doou-se totalmente, de toda boa vontade e foi sacrificado por nós e para nós.
Entretanto, seu “servir” está presente entre nós até hoje. Ele é o Primogênito, o Ungido, o Responsável por nós todos, desde os primórdios da Terra.
E quanto a nós? O que fazemos corriqueiramente pelos nossos irmãos e por nós mesmos?
Há, entre a imensa maioria de nós a real disposição para o serviço fraterno?
Vamos, cada um de nós, questionar a consciência. O quê eu tenho feito de minha vida? Tenho sido um cidadão útil para a sociedade? Tenho sido um familiar correto para minha família? Tenho sido um colega justo em meu ambiente de trabalho? Tenho sido um aspirante a cristão, na Casa Espíta? Tenho agido como me recomenda o Mestre?
São muitas indagações, é verdade. Muitas, entretanto, todas necessárias. Sem exceção.
Além disso, além de me preocupar com meu comportamento, com minha postura, com minhas palavras, com meus gestos, não seria importante analisar como tenho atuado com relação à minha resposabilidade? Tenho cumprido com meus deveres mínimos? Tenho tido disciplina para com eles? Não se fala de fazer tudo com amor, quando se usa a nomenclatura espírita. Mas, como fazer as coisas com amor, se não há disciplina?
O carinho em exercitar um trabalho leva qualquer pessoa a agir com respeito e dignidade, sem que exista qualquer necessidade de outra pessoa, além dela própria, cobrar pelo esmero.
O carinho em uma tarefa leva a criatura a efetuar sua obra naturalmente, sem a necessidade de qualquer cobrança.
É certo que muitos, mesmo com ternura, no início, ainda encontram dificuldade para conseguir ter disciplina. Mas a ternura, o carinho facilitam esta aquisição e a caminhada se torna mais simples.
Aliás, as conquistas para a alma sempre são mais simples, quando este ser está bem disposto para alcançar seu intento. Quando há má vontade, nota-se que pequenos obstáclos transformam-se em paredes gigantescas, intransponíveis.
Desta forma, nota-se que o carinho, a boa-vontade na execução das tarefas andam de mãos dadas uma com a outra.
Conclui-se que o amor realmente constrói.
Mas todos, todos, sem exceção, necessitam de oportunidades. Oportunidades para aprender e para vencer. Vencer a si mesmo e vencer na vida. Vencer sob o ponto de vista moral, ético e espiritual.
Todos temos estas oportunidades, e isto sabemos por conta do amor do Criador que nos permite inúmeras chances para corrigirmos, mudar trajetória e angariar conquistas.
Isto se dá, não só nas muitas chances que a vida dá, oferece, mas também por conta das inúmeras reencarnações que temos para que se cresça, se evolua.
Enquanto estamos em uma das estações da vida, na carne, em uma das encarnações, como agora, vamos procurar mudar o que pudermos em nós, para melhor, para evoluir e alcançar o entendimento da necessidade do real desprendimento com relação às paixões.
Vamos desenvolver o prático sentido de que é melhor servir, que ser servido.
Militão Pacheco
PSICOGRAFIA – NEPT – 06.03.2009.
quinta-feira, 19 de março de 2009
PARNASO DO ALÉM TÚMULO
A teoria, tanto quanto a prática espírita, apresenta, aos leigos e inscientes, aspectos e modismos inéditos, imprevistos, bizarros, surpreendentes.
Nos domínios da mediunidade, então, o reservatório de surpresas parece inesgotável e desconcerta, e surpreende até os observadores mais argutos e avisados.
Se fôssemos minudenciar, escarificar, o assunto até às mais profundas raízes, poderíamos concluir que o comércio de encarnados e desencarnados, velho quanto o mundo, se indica mais ou menos latente ou ostensivo, em todos os atos e feitos da Humanidade.
Inspirações, idéias súbitas ou pervicazes, sonhos, premonições e atos havidos por espontâneos e propriamente naturais, radicam muito e mais na influenciarão dos Espíritos que nos cercam - por força e derivativo da mesma lei de afinidade incoercível no plano físico, quanto no psíquico - do que a muitos poderia parecer.
E assim come se não desloca nem se precipita, isoladamente, um átomo no concerto sideral dos mundos infinitos, assim também não há pensamento, idéia, sentimento, isolado no conceito consciência dos seres inteligentes, que atualizam e vivificam o pensamento divino, em ascese indefinida - sempre acendeis...
É o que fazia dizer a Luísa Michel: “um ser que morre, uma folha que cai, um mundo que desaparece, não são, nas harmonias eternas, mais que um silêncio necessário a um ritmo que não conhecemos ainda".
Mas, não há daí concluir que a criatura humana se reduza à condição de autômato, sem vontade e sem arbítrio, porque nada à revelia da Lei se verifica; e no jogo dessa atuação constante, o ascendente dos desencarnados não vai além dos lindes assinadas pela Providência; não ultrapassa, jamais, a capacidade receptiva do percipiente, seja para o bem, seja para o mal.
Não é, contudo, desse mediunismo sutil, intrínseco, consubstancial à natureza humana, que importa tratar aqui.
Nem remontaríamos, aos filões da História para considerar-lhe a identidade nos tempos da Índia, do Egito, da Grécia, das Galas e de Roma, em trânsito para a Idade Média, na qual os médiuns eram imolados ao mais estúpido dos fanatismos - a religião. Hoje, a fogueira e potro foram substituídos pela difamação, pelo ridículo alvar, pago em boa espécie monetária, ou ainda pelo cerco caviloso e interditório de quaisquer vantagens sociais.
A luta tornou-se incruenta, mas, nem por isso, menos áspera e porfiosa.
Assoalha-se que a mediunidade é fonte de mercantilismo: entretanto, nenhum grande médium, que o saibamos, chegou a acumular fortuna e rendimentos.
Muitos, ao invés, quais Homem, Cadê, Eusápia e Espérance, morreram paupérrimos e, o que mais é, tendo a planejar-lhes a memória o labéu de charlatões.
Mas, houvesse de fato esse mercantilismo e nunca se justificaria, senão por abusivo e espúrio, de vez que a Doutrina o não autoriza, sequer por hipótese. Porque, na verdade, assim se escreve a História e o maior dos médiuns, o médium Deus, só escapou ao estigma da posterioridade pela porta Eça do concílio de Nicéia, numa divinização numa acomodação acomodatícia e rendosa ao formigamento parasitário e unindo dos Constantino, que, ainda hoje, lhe exploram os feitos e o nome Augusto, com bulas políticas de vulpina retórica fática pruridos de grosseira mistificação, em bonzolatrias de cimento armado.
Entretanto, como a confirmar a tradição - "os Santos Apóstolos foram, em sua maioria, humildes pescadores" - e não só a tradição como a sentença de que os últimos seriam os primeiro -, não vêm hoje os vexilários da Verdade trazê-la magnatas da Terra, aos príncipes dos sacerdotes, escribas e fariseus hodiernos, disputantes à compita da magnífica carapuça e eles talhada e ajustada, de vinte séculos, co capítulo XXIII de Mateus.
Ao contrário, esses escolas do Além parece preferirem os operários modestos, modestos e rústicos, rústicos e bons, como tão sutilmente os define o Eça em magistral mensagem:
"Tipos originais, mãos calosas que se entregam aos rudes trabalhos braçais, a fazerem a literatura do além-túmulo; homens a que Tartufo chama bruxos e Esculpiu qualificado basbaque, mistificadores, ou simples casos patológicos a estudar...”.
É verdade tudo isso; mas, convenhamos, também o é para maior glória de Deus.
Não ignoramos que homens de alta cultura e renome científico têm versado o assunto, investigado, perquirido e proclamado a verdade, acima e além das conveniências e preconceitos políticos, científicos, religiosos. Nomeá-los aqui, seria fastidioso quanto inútil.
O vulgo que não lê, ou que lê pela cartilha só Sr. vigário nos conselhos privados da família beata, não deitaria os seráficos olhares a estas páginas e seguiria, clamoroso ou contente, de qualquer forma inconsciente, - infinitos stultorum números - a derrota do seu calvário, no melhor dos mundos, a Pangloss.
O outro, o vulgo que lê e compreende, mas para o qual o magister deste é a melhor fórmula de concessão e acomodação consegue mesmo, estômago e vísceras em função, sofra a quem sofrer, doa a quem doer - esse, bazofiando ciência em gestos largos de animalidade superior, se estas linhas chegasse a ler, haveria de esboçar aquele sorriso fino e bom que Bonnemère não sabia definir se seria de Voltaire, ou do mais refinado dos idiotas...
Adiante, pois, na tarefa nada espartana, de apresentar esta prova opima das esmolas de luz que nos chegam em revoada de graças, a encher-nos o coração de alvissareiras esperanças.
Quem quiser certezas maiores, explanações técnicas e eruditas do fenômeno em apreço, que as procure no livram Do País da Luz, obra similar, editada, há uma vintena de anos, psicografada pelo médium português Fernando de Lacerda, e que fez, nas rodas profanas de Lisboa, o mais ruidoso sucesso.
Nessa obra, o ilustre Dr. Sousa Couto, em magistral prefácio, esgotou o assunto ao encará-lo sob todos os prismas de uma severa crítica, para concluir pela transcendência do fenômeno, rebelde a todos os métodos de classificação científica e, sem embargo, realismo em sua especificidade.
Pois, a nosso ver, maior é o mérito, por mais opulenta a polpa mediúnica, desta obra.
É que lá em Do País da Luz, avulta a prosa, com raras exceções; ao passo que aqui desborda o verso, mais original, mais difícil, mais precioso como índice de autenticidade autoral.
Lá, as mensagens características são exclusivas de escritores lusos, únicas que podem, a rigor, identificar pelo estilo os seus autores.
As de Napoleão I, Teresa de Jesus, etc., são incontestavelmente belas no fundo e na forma, mas não características de tais entidades.
Aqui, pelo contrário, não só concorrem poetas brasileiros e portugueses, como retinem cristalinas e contrastantes as mais variadas formas literárias, como a facilitarem de conjunto a identificação de cada um.
Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas obtivamente, a sobrevivência dos seus intérpretes.
É ler Casimiro e reviver Primaveras; é recitar Castro Alves e sentir Espumas flutuantes; é declamar Jongueiro e lembrar a Morte de D. João; é frasear Augusto dos Anjos e evocar Eu.
Senão vejamos:
Oh! Que clarão dentro Dalmar.
Constantemente cismando,
O pensamento sonhando
E o coração a cantar,
Na delicada harmonia
Que nascia da beleza,
Do verde da Natureza,
Do verde do lindo mar!
É Casimiro...
Há mistérios peregrinos.
No mistério dos destinos.
Que nos mandam renascer;
Da luz do Criador nascemos, múltipla vida vive, para a mesma luz volver.
É Castro Alves...
Pairava na amplidão estranho resplendor.
A Natureza inteira em lúcida poesia
Repousava, feliz, nas preces da harmonia!...
Era o festim do amor, no firmamento em luz, que celebrava.
A grandeza de uma alma que voltava.
Ao redil de Jesus.
É Jongueiro...
Descansa agora, vibrião das ruínas, esquecem o verme, as carnes, os estrumes.
Retempera-te em meio dos perfumes Cantando a luz das amplidões divinas.
É Augusto dos Anjos.
E todos, todos os mais, aí estão vivos, ardentes, inconfundíveis na modulação de suas liras encantadas e decantadas.
E na prosa - exceto a Fernando de Lacerda, cujo estilo não temos elementos para identificar - o mesmo traço de originalidade personalíssima se impõe.
Duvidamos que o mais solerte plumitivo, o mais intelectual dos nossos literatos consiga imitar, sequer, ainda que premeditadamente, esta produção.
E isto o diz porque o médium Xavier, um quase adolescente, sem lastro, portanto, de grande cultura e treino poético, recebe-a de jacto, e mais - quando de alguns autores não conhece uma estrofe!
É extraordinário, será maravilhoso, mas é a verdade nua e crua; verdade que, qual a Luz, não pode ficar debaixo do alqueire.
Foi por assim pensarmos que conseguimos vencer a relutância do médium em sua natural modéstia para lançar ao público, em geral, e aos confrades, em particular, esta obra mediúnica, que, certo estamos, ficará como baliza fulgurante, na história a tracejar do Espiritismo em nossa pátria.
Mas, perguntarão: - quem é Francisco Cândido Xavier? Será um rapaz culto, um bacharel formado, um acadêmico, um rotulado desses que por aí vão felicitando a Família, a Pátria e a Humanidade?
Nada disso.
O médium polígrafo Xavier é um rapaz de 21 anos, um quase adolescente, nascido ali assim em Pedro Leopoldo, pequeno rincão do Estado de Minas. Filho de pais pobres, não pôde ir além do curso primário dessa pedagogia incipiente e rotineira, que faz do mestre-escola, em tese, um galopam eleitoral e não vai, também em tese, muito além das quatro operações e da leitura corrida, com borrifos de catecismo católico, de contrapeso.
Órfão de mãe aos cincos anos, o pai infenso a literatices e, ao demais, premido pelo ganha-pão, é bem de ver-se que não teve, que não podia ter o estímulo ambiente, nem uma problemática hereditariedade, nem um, nem dez cerídeos que o conduzissem por tortuosos e torturantes labirintos de acesso aos alatinados passos do Olimpio para o idílico convívio de Calíope e Pollímnia.
Tudo isso é o próprio médium quem no-lo diz, em linguagem eloqüente, porque simples como a própria alma cedo esfolhada de sonhos e ilusões, para não pretender colimar renomes literários.
Ao lhe formularmos um questionário que nos habilitasse a pôr de plano estes detalhes essenciais - de vez que, em obra deste quilate o que se impõe não é a apresentação do operário, mas da ferramenta por eles utilizada, tanto quanto do seu manuseio; e não querendo, por outro lado, endossar um fenômeno cuja ascendência sobejamente conhecemos para não recusar, mas, cujo flagrante não presenciamos - ele, o médium, veio "candidamente" ao nosso encontro com Palavras minhas, nas quais estereotipa a sua figura moral, tanto quanto retrata as impressões psicofísicas que lhe causa o fenômeno.
Nós mesmos vimos, certeza, em S. Paulo, o médium Mirabelli cobrir dezoito laudas de papel almaço, no exíguo tempo de 13 minutos marcados a relógio, enquanto conosco descritiva em idioma diverso da mensagem escrita.
É um fato. Do seu mecanismo intrínseco e extrínseco, porém, nada nos disse o médium.
Agora, diz-nos este que também as produções são recebidas de jacto.
Não há ideação prévia, não há encadeamento de raciocínios, fixação de imagens.
É tudo inesperado, explosivo, torrencial!
Do que escreve e sabe que está escrevendo, também sabe que não pensou e não seria capaz de escrever.
Há vocábulos de étimo que desconhece; há fatos e recursos de hermenêutica, figuras de retórica, que ignora; teorias científicas, doutrinas, concepções filosóficas das quais nunca ouviu falar, de autores também ignorados e jamais lidos!
Como explicar, como definir e transfixar a captação, a realização essencial do fenômeno?
Só o médium poderia fazê-lo, e isso ele o faz seguir, de maneira impressionante, e de modo a satisfazer aos familiares da Doutrina.
Aos outros, aos cépticos, fica-lhes a liberdade de conjeturar, para melhor explicar, sem, contudo negar, porque o fato aí está na plenitude de sua realidade, e um fato, por mais insólito que seja, vale sempre por mil umas teorias que nada explicam, antes complicam...
Como nota final aos Argos da crítica, Catões e Zelos de compasso e metro, faisqueiros de negas e nicas, na volúpia de escandir quando mente, diremos que, encarregado de apresentar esta obra, não nos dispôs a escoimá-la possíveis defeitos de técnica, não só por nos falecer autoridade e competência, como por julgar que tal ousio seria uma profanação.
Trata-se, precisamente, de um trabalho de identificação autoral, e de entidades hoje mais lúcidas e respeitáveis do que porventura o foram aqui na Terra.
Tal como no-lo deram, esse trabalho melhor corresponde à sua finalidade altíssima, e que a legítima ética doutrinária aponta é que quaisquer lacunas, ou tales devem ser atribuídas ou enrugadas ao possivelmente precário aparelhamento de transmissão, ou a fatores outros, em suma, que mal podemos imaginar e que, no entanto, racional e logicamente devem existir, mais sutis e delicados do que esses que, amiúde, ocorrem na telepatia, na radiofonia, em tudo, enfim, que participa do meio físico contingente.
Que os arautos da Boa Nova aqui escalonados, por vindos de tão alto, nos perdoem a vacuidade e a insulsice destas linhas, e que os leitores de boa vontade as desprezem como inúteis, para só apreçarem a obra que ora lhes apresentamos, na pauta evangélica que diz: - A árvore se conhece pelo fruto.
M. Quintão (*)
(*) MANUEL Justiniano de Freitas QUINTÃO, nascido em 28 de maio de 1874, na Estação de Quirino, Marquês de Valença, RJ, e desencarnado em 16 de dezembro de 1954, no Rio de Janeiro. Foi guarda-livros, depois de lutar com imensas dificuldades, como jovem sem recursos financeiros, nas posições mais modestas do comércio. Chefe de família numerosíssima. Estudioso incansável conseguiu, como autodidata, invejável cultura humanística. Foi jornalista. Ingressou na FEB em 1903, integrando-lhe o quadro social por 44 anos. Médium curador e espírita militante durante mais de meio século, exerceu cargos na Diretoria da Federação Espírita Brasileira ao longo de vários decênios, inclusive a Presidência nos anos 1915, 1918,1919 e 1929. Como membro do "Grupo Ismael" foi sempre dos mais assíduos e proficientes no estudo do Evangelho de Jesus. Traduziu diversos livros espíritas e publicou alguns de sua autoria, muito apreciados, dentre eles "Cinzas do meu Cinzeiro" (coletânea de trabalhos publicados no "Reformador") e "O Cristo de Deus", este último editado pela FEB. Em 1939, escreveu notas autobiográficas endereçadas ao Reformador, para serem publicadas após a sua desencarnação: estão estampadas na edição de janeiro de 1955. (Nota da Editora)
Batuíra
(do livro Mais Luz)
terça-feira, 17 de março de 2009
O Pensamento
A inteireza moral é uma defesa para qualquer tipo de agressão, difícil de atingida; a conduta digna irradia forças contrárias às investidas perniciosas; o hábito da prece e da mentalização edificante aureola o ser de força repelente que dilui as energias de baixo teor vibratório; a prática do bem fortalece os centros vitais do perispírito que rechaça, mediante a exteriorização de suas moléculas, qualquer petardo portador de carga danosa; o conhecimento das leis da Vida reveste o homem de paz, levando-o a pensar nas questões superiores sem campo de sintonia para com as ondas carregadas de paixão e vulgaridade".
Manoel Philomeno de Miranda
segunda-feira, 16 de março de 2009
Mensagem de Herculano Pires
CANTO DE LIBERTAÇÃO
I
Oh tu que fechaste a doutrina
Na concha isolada do teu centro
E rezas,
Rezas
Rezas
Espargindo passes e água fluida
Como um sacerdote de hissope em punho,
Oh tu, que convertes os espíritos em santos
E só queres milagres,
Milagres,
Milagres
Olha um pouco à janela,
E vê o rio da vida borbulhando na planície
Os astros da noite cavalgando a montanha
As flores do campo aromando o vale
A dor,
Como uma aurora noturna
Avermelhando a terra e o mar
O mar e o céu.
Oh tu
Que pregas a caridade da doutrinação e da esmola,
Ouve a advertência de Paulo,
Escuta a lição de Kardec
Aprende que a humanidade sangra na ferida de um mendigo
E o choro de um órfão
No arrabalde esquecido
É o cantochão universal
Do choro de todos os órfãos do mundo reunidos.
Oh tu que recorres ao médium curador
E confias teus males ao poder misterioso de Hahnemann.
Não te esqueças de que há povos sangrando
Em hemoptises fratricidas
Não te esqueças da fome que devora
Teus irmãos agonizando entre riquezas
Não te esqueças
Dos abutres guerreiros
Que dividem o tempo em guerra e paz para o banquete metálico dos lucros.
Ergue os olhos do livro de preces, espírita,
Arranca do silencio a flor de sangue do teu coração
Recorda o Mestre no caminho do Gólgota
E marcha
Marcha
Marcha
De braços abertos e de fronte sangrando
Para a nova aurora da ressurreição
II
Não serás o que empunha o fuzil ou a baioneta
Porque já decifraste o mistério
Descobriste a chave dourada e frágil
Da enigmática porta do amanhã
Mas, empunha o teu coração como um archote
Rompe as trevas do egoísmo e da avareza
Marcha
Marcha
Marcha
Além do círculo das mesas e dos grupos
Semeando estrelas para o amanhecer.
Tua justiça não floresce no chão negro do ódio
Teu pão não é feito do trigo vermelho,
Empapado de sangue e de lágrimas.
Teu fuzil, é a verdade, disparando relâmpagos em vez de balas
Tua baioneta, é a palavra,
tersa e lúcida, como lâmina.
III
Não penses, porém, que ensinar é o bastante.
A doutrina que possuis não é máquina, é vida
Não podes conhecê-la e distribuí-la através de engrenagens
de pinos
de alavancas
de roelas
Tens de lançar-te de corpo inteiro a esse mar salgado e revolto
Tens de dominá-lo com teus braços e tuas pernas
Tens de senti-lo em todo o corpo
De beber a espuma e a salsugem
De ir ao fundo, em mergulhos de escafandro
Buscar a pérola escondida!
Não, não te enganes. Não penses que o mundo te espera como a um doutor.
Deixa aos fariseus o protocolo, a rabugice, a sapiência, o mistério.
Atira-te ao mar de peito nu, de braços nus , de pernas nuas.
E como um nadador,
Oferece aos homens,
Na ponta dos dedos gotejantes,
A rosa dos ventos
Colhida num golpe entre as espumas,
Com suas pontas vibráteis e límpidas
sem a lama teológica, nem o líquen dos rituais.
IV
O mundo te espera
Anseia pela aurora que fechaste na concha da mão
Pede um dilúvio
Da água que arrolhaste em tuas garrafas sobre a mesa
Rompe a casca sectária do medo
Quebra
Espatifa as tuas garrafas egoístas
Abre, de par em par, as portas e as janelas.
Deixa a estola, a pia, o altar, o incenso, [a imagem, a exegese e o terço]
Para os sacerdotes e os beatos.
Tua tarefa é outra, teu caminho é outro, teu destino é outro
A reencarnação não te ensina a esperar, mas a lutar!
Teu dever é rasgar as estradas do amanhã
Atravessando a carne densa da noite
Como a flecha da estrela matutina
V
Que fazes do poder dialético,
Da constelação de causas e efeitos
Que puseram em tuas mãos como um colar de estrelas e de sóis?
Que fazes, espírita, do mistério revelado
Erguendo a lápide como Lázaro?
Queres dormir ao som de rezas e promessas?
Queres sonhar com fadas e gnomos
Revividos em guias e protetores,
Quando o combate é teu, a luta é tua, é tua a experiência
E ninguém pode abrir
O desvão de pedra que te compete
Que pertence às tuas mãos e aos teus ombros?
Ouve, ouve ao longe
Sacudindo continentes e oceanos,
O soluço do mundo
Ouve o coro
Não dos anjos celestes nimbados de luz
Mas dos anjos terrenos famintos e sujos
Fenecendo como flores na lama
Ouve o clamor dos povos esgotados
Ouve o urro dos irmãos convertidos em chacais
E atira-te
Atira-te
Atira-te
a construir sobre o sangue e as lágrimas
certo
sereno
firme
seguro
confiante
como o ferreiro que conhece o poder do martelo
o ritmo da forja
Caminha para a frente!
Não mais o crucifixo,
A morte, o luto, o desespero, a câmara fúnebre,
Não mais a paixão e as trevas, a lança e os cravos,
Mas a ressureição
A vida
O espírito.
A alvorada fremindo em teus olhos
como um pássaro na vertigem do vôo
para que a Terra se eleve
estrela e sol
grito e clarão
sonho e aroma
flor e fruto
relâmpago e trovão
na escala dos mundos.
Essa a tua missão, oleiro esquecido no barro na terra.
Esse o teu dever.
Ergue o planeta nas mãos
Vaso modelado por ti mesmo
Amassado em teu sangue e em tuas lágrimas
Ergue-o nos dedos
Ardente e sonoro
Como um cântaro fresco
Caminha para a frente!
sexta-feira, 13 de março de 2009
Erasto
A primeira, afirmativa do próprio Codificador, é de que ele seria discípulo de Paulo de Tarso (O livro dos médiuns, cap. V, item 98). A afirmativa tem procedência. Na segunda epístola a Timóteo, escrita quando prisioneiro em Roma, relata o Apóstolo dos Gentios: "Erasto ficou em Corinto." ( IV,20). Segundo consta na epístola aos Romanos, na saudação final, este mesmo Erasto tinha cargo na cidade, pois se encontra no cap. 16, vers. 23: "Saúda-vos Erasto, tesoureiro da cidade".
Em Atos dos Apóstolos (XIX,22) lemos que Paulo enviou à Macedônia "...dois dos que lhe assistiam, Timóteo e Erasto..." , enquanto ele próprio, Paulo, permaneceu na Ásia. Interessante observar a proximidade dos dois discípulos de Paulo, pois em O Livro dos Médiuns, cap. XIX, encontramos longa mensagem assinada por ambos, a respeito do papel do médium nas comunicações (item 225). Juntos no século I da era cristã, juntos na tarefa da Codificação.
Ainda em O livro dos médiuns são de sua lavra os itens 98, cap. V, algumas respostas a perguntas constantes no item 99, itens 196 e 197 do cap. XVI, itens 230 do cap. XX, onde se encontra a célebre frase: "Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea." Finalmente, na comunicação de nº XXVII. Em O Evangelho segundo o espiritismo, lê-se várias mensagens assinadas por Erasto. A primeira se encontra no cap. I, item 11, a segunda no cap. XX, item 4 e se intitula: Missão dos espíritas, trazendo a assinatura de Erasto, anjo da guarda do médium, aditando oportunamente o Codificador de que o médium seria o sr. d'Ambel.
As demais compõem os itens 9 (Caracteres do verdadeiro profeta) e 10 (Os falsos profetas da erraticidade), ambas datadas de 1862, sendo que na última é o próprio espírito que se identifica como "discípulo de São Paulo", o que igualmente faz no cap. I, item 11 de O evangelho segundo o espiritismo e cap. XXXI, nº XXVII de O livro dos médiuns.
A outra referência a esse espírito se encontra na Revista Espírita, ano de 1869, da Edicel, no índice Biobibliográfico, onde é apresentado como tendo sido Thomaz Liber, dito Erasto, médico, filósofo e teólogo alemão, nascido em 1524 e morrido em 1583. Foi professor de Medicina em Heidelberg e de Moral, em Basiléia.
No campo da Teologia, combateu o poder temporal da Igreja e se opôs à disciplina calvinista e à ordem presbiteriana. Sua posição lhe valeu uma excomunhão, sob suspeita de heresia, sendo reabilitado algum tempo depois.
Suas teorias tiveram muitos partidários, sobretudo na Inglaterra. Legou somas consideráveis aos estudantes pobres, sendo especialmente respeitado por seus gestos de benemerência.
De qualquer forma, o que resta incontestável, segundo Kardec, é que "...era um Espírito superior, que se revelou mediante comunicações de ordem elevadíssima..."(O livro dos médiuns, cap. XIX, item 225)
O que importa realmente é a tarefa desenvolvida à época de Paulo de Tarso e ao tempo de Kardec, por um espírito.
Encarnado, o seu grande trabalho pela divulgação das idéias nascentes do Cristianismo, em um ambiente quase sempre hostil. Desencarnado, ombreando com tantas outras entidades espirituais, apresentando elucidações precisas em favor da Codificação da Doutrina Espírita, respondendo a questões de vital importância para uma também doutrina nascente, a Terceira Revelação, o Consolador prometido por Jesus.
Revista Reformador (FEB) de outubro 1993 - Um espírito chamado Erasto
quinta-feira, 12 de março de 2009
Aos Evangelizadores
Queridos irmãos!
Todos vocês se prepararam para realizar a evangelização das almas na Terra.
Nosso bondoso Pai enviará junto a cada um, um irmão mais experiente e dedicado, a fim de lhes auxiliar no cumprimento das suas tarefas.
O trabalho não será fácil e muito menos reconhecido pela maioria.
As forças inferiores tentarão desviá-los deste caminho abençoado, mas todos possuem dentro de si, a força necessária para vencê-las.
Mantenham a fé, através deste trabalho terão oportunidade de redimir-se de seus erros, ajudarão a acender as luzes das almas aflitas e os maiores beneficiados serão vocês.
Lembrem-se que as crianças com aparência angelical, são espíritos milenares, com muitos débitos, mas também com o germe da perfeição a ser desenvolvido e despertado pela dedicação de cada um.
Somente o amor poderá sensibilizar as crianças.
Elevem suas vibrações a fim de que o ambiente possa ser impregnado por nós de energias salutares e reconfortantes.
Caso contrário, as crianças não conseguirão sintonia, impedindo nossa intervenção.
Não desanimem! Procurem sempre a união! Quando precisarem de auxílio, estaremos em contato mais direto através da prece.
Utilizem este recurso valioso para se reestabelecerem de energias.
No momento oportuno serão convidados a evangelizar. Pensarão que foi ao acaso, mas aos poucos sentirão aflorar a preparação aqui realizada.
Quem é evangelizador já reencarna com esta incumbência.
Sigam em frente! O trabalho os aguarda.
Fiquem em paz!
Texto extraído de site do Grupo Espírita Seara do Mestre, de: Liamara Nascimento - Voz: Jonas Demeneghi
quarta-feira, 11 de março de 2009
Estudos de André Luiz
CONCENTRAÇÃO E DESDOBRAMENTO -Quantos se entregam ao labor da arte, atraem, durante o sono, as inspirações para a obra que realizam, compreendendo-se que os Espíritos enobrecidos assimilam do contato com as Inteligências superiores os motivos corretos e brilhantes que lhes palpitam nas criações, ao passo que as mentes sarcásticas ou criminosas, pelo mesmo processo, apropriam-se dos temas infelizes com que se acomodam, acordando a ironia e a irresponsabilidade naqueles que se lhes ajustam aos pensamentos, pelo trabalho a que se dedicam.
Desdobrando-se no sono vulgar, a criatura segue o rumo da própria concentração, procurando, automaticamente, fora do corpo de carne, os objetivos que se casam com os seus interesses evidentes ou escusos.
Desse modo, mencionando apenas um exemplo dos contatos a que aludimos, determinado escritor exporá idéias edificantes e originais no que tange ao serviço do bem, induzindo os leitores à elevação de nível moral, ao passo que outro exibirá elementos aviltantes, alinhando escárnio ou lodo sutil com que corrompe as emoções de quantos se lhe entrosam à maneira de ser.
INSPIRAÇÃO E DESDOBRAMENTO - Dormindo o corpo denso, continua vigilante a onda mental de cada um - presidindo ao sono ativo, quando registra no cérebro dormente as impressões do Espírito desligado das células físicas, e ao sono passivo, quando a mente, nessa condição, se desinteressa, de todo, da esfera carnal.
Nessa posição, sintoniza-se com as oscilações de companheiros desencarnados ou não, com as quais se harmonize, trazendo para a vigília no carro de matéria densa, em forma de inspiração, os resultados do intercambio que levou a efeito, porquanto raramente consegue conscientizar as atividades que empreendeu no tempo de sono.
Muitos apelos do plano terrestre são atendidos, integralmente ou em parte, nessa fase de tempo.
Formulado esse ou aquele pedido ao companheiro desencarnado, habitualmente surge a resposta quando 0osolicitante se acha desligado do vaso físico. Entretanto, como nem sempre o cérebro físico está em posição de fixar o encontro realizado ou a informação recebida, os remanescentes da ação espiritual, entre encarnados e desencarnados, permanecem, naqueles Espíritos que ainda se demorem chumbados à Terra, à feição de quadros simbólicos ou de fragmentarias reminiscências, quando não sejam na forma de súbita intuição, a expressarem. de certa forma, o socorro parcial ou total que se mostrem capazes de receber.
DESDOBRAMENTO E MEDIUNIDADE - As ocorrências referidas vigem na conjugação de ondas mentais, porque apenas excepcionalmente consegue a criatura encarnada desvencilhar-se de todas as amarras naturais a que se prende, adstrita as conveniências e necessidades de redenção ou evolução que lhe dizem respeito.
É imperioso notar, porém, que considerável numero de pessoas, principalmente as que se adestraram para esse fim, efetuam incursões nos planos do Espírito, transformando-se, muitas vezes, em preciosos instrumentos dos Benfeitores da Espiritualidade, como oficiais de ligação entre a esfera física e a esfera extrafísica.
Entre os médiuns dessa categoria, surpreenderemos todos os grandes místicos da fé, portadores de valiosas observações e revelações para quantos se decidam marchar ao encontro da Verdade e do Bem.
Cumpre destacar, entretanto, a importância do estudo para quantos se vejam chamados a semelhante gênero de serviço, porque, segundo a Lei do Campo Mental, cada Espírito somente logrará chegar, do ponto de vista da compreensão necessária, até onde se lhe paire 0 discernimento.
(Mecanismos da Mediunidade, cap. XXI, André Luiz/Chico Xavier/Waldo Vieira, FEB)
sábado, 7 de março de 2009
…de Obras Póstumas
“(...) trabalhai sem descanso para extirpar o vírus do orgulho e do egoísmo, porque aí está a fonte de todo mal, o obstáculo real ao reino do bem; destruí nas leis, nas instituições, nas religiões, na educação, até os últimos vestígios, os tempos de barbárie e de privilégios, e todas as causas que mantêm e desenvolvem esses eternos obstáculos ao verdadeiro progresso, (...); só então os homens compreenderão os deveres e os benefícios da fraternidade; então, também, se estabelecerão por si mesmos, sem abalos e sem perigo, os princípios complementares da igualdade e da liberdade. (...)” – do capítulo Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
“Estes princípios, para mim, não são apenas uma teoria, eu os coloco em prática; faço o bem tanto quanto o permite a minha posição; presto serviço quando posso; os pobres jamais foram rejeitados em minha casa, ou tratados com dureza; (...) Continuarei, pois, a fazer todo o bem que puder, mesmo aos meus inimigos, porque o ódio não me cega; e eu lhes estenderia sempre a mão para tirá-los de um precipício, se a ocasião disso se apresentasse. Eis como entendo a caridade cristã; compreendo uma religião que nos ordena retribuir o mal com o bem, com mais forte razão restituir o bem pelo bem. Mas não compreenderia jamais a que nos prescrevesse retribuir o mal com o mal.” – do capítulo Fora da Caridade não há salvação.
Para nossa reflexão…
quinta-feira, 5 de março de 2009
Filosofia Espírita
O Espiritismo, inclusive o nome, surge em 18 de abril de 1857, quando é colocado à venda na Livraria Dentu (Palais-Royal, Galeria) a obra "O Livro dos Espíritos", assinada por Allan Kardec, pseudônimo utilizado por Rivail para não confundir a obra com o autor, já por demais conhecido, trazendo pouco mais de quinhentas perguntas e respostas classificadas por assuntos e divididas em capítulos. Em seis meses a primeira edição esgotou, apesar dos ataques acadêmicos, da zombaria da imprensa e da proibição da Igreja Católica. A segunda edição, revista, ampliada, e que se tornaria definitiva, saiu com 1.019 perguntas e respostas, mais os comentários, introdução e conclusão assinados por Kardec.
Os princípios básicos do Espiritismo que compõem sua filosofia são os seguintes:
Deus
"Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas." (questão 01 de "O Livro dos Espíritos").
"Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom." (questão 13 de "O Livro dos Espíritos").
O ensino dos Espíritos Superiores é concorde com o pensamento iluminista que afirma a existência de um ser supremo, embora às vezes confunda o mesmo com a razão, o que o Espiritismo não faz, deixando claro tratar-se de um ser incriado, causa de tudo o que existe no universo, e que pelos seus atributos, coerentes e magnânimos, a tudo preside, mas não de forma inflexível, pois "a cada um é dado segundo suas obras". A lei divina é imutável mas não é rígida e fria. Por ser a bondade suprema, Deus deseja a sua criaturas somente o bem.
Imortalidade da Alma
"Podemos dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o universo, além do mundo material." (questão 76 de 'O Livro dos Espíritos").
"As almas (os homens) não são mais do que Espíritos. Antes de ligar-se ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, e depois reveste temporariamente um invólucro carnal, para se purificar e esclarecer." (questão 134-b de "O Livro dos Espíritos").
A definição do homem e sua destinação futura, contrapondo à morte a imortalidade da alma é perfeito complemento do artigo 4 da "Declaração dos Direitos do Homem", quando diz: "A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudicar a outrém", porque a vida continua e prestamos contas de nossos atos gravados na consciência. O Espiritismo revive o ensino de Jesus "faça ao próximo somente o que você queira que o próximo lhe faça", exatamente como o faz o espírito da "Declaração".
O homem possui liberdade de ação, através do uso da razão. Deus lhe concede o livre arbítrio, o poder de decidir, de escolher, sendo portanto, responsável de si mesmo perante os outros e diante da lei divina. Para cada liberdade existe uma responsabilidade. Para cada direito consiste um dever.
Pluralidade das Existências
"A alma que não atingiu a perfeição durante a vida corpórea, como acaba de depurar-se? - Submetendo-se à prova de uma nova existência." (questão 166 de "O Livro dos Espíritos").
"(...)A razão não diz que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna aqueles cujo melhoramento não dependeu deles mesmos? Todos os homens não são filhos de Deus?(...)." (questão 171 de "O Livro dos Espíritos").
A reencarnação e a vida em outros mundos vem ampliar o conceito iluminista "que o homem se aperfeiçoa graças à razão e, iluminado por ela, pode alcançar a prosperidade e a felicidade". Sim, o fim último do homem é ser feliz, mas isso ele somente conseguirá quando estiver plenamente aperfeiçoado, quando tiver em plenitude a inteligência e o amor. Até lá ele estará com a felicidade relativa, tentando equilibrar a fé com a razão, porque não basta uma ou outra, mas ambas.
E se a felicidade neste mundo é relativa, onde a justiça divina para com aqueles que não puderam construir, por variados motivos, essa felicidade e encontram-se às portas da morte? Ela está na reencarnação, na continuidade da vida, quando, em próxima existência, o estado social, orgânico, cultural, etc., será outro, para novas experiências, novos aprendizados. Então o rico sentirá em si mesmo a luta do dia-a-dia pelo pão, e o antigo operário, agora elevado de categoria social pelo novo nascimento, experimentará as vicissitudes da riqueza. Assim compreenderão o quanto é profunda a "Declaração dos Direitos" e se esforçarão em colocá-la em prática, para que toda sociedade garanta os direitos de seus cidadãos.
Comunicabilidade dos Espíritos
"Teu Espírito é tudo; teu corpo é uma veste que apodrece, eis tudo." (questão 196-a de "O Livro dos Espíritos").
Tudo é solidário na criação divina, tudo concorre para a evolução do homem, a vida e a morte são estágios interligados e como o Espírito - que todos somos - é tudo, nada impede que aqueles que já se transferiram para o mundo espiritual, após a morte do corpo, se comuniquem com os que ainda aqui se encontram. O canal dessa comunicação chama-se mediunidade, abrindo vasto campo à pesquisa e, também, à continuidade de trabalhos aqui iniciados.
Pela comunicabilidade ficamos sabendo da vida dos Espíritos, recebemos mensagens consoladoras e de esclarecimento, podemos interferir beneficamente em favor dos que partiram. É um vasto mundo que se abre, real, comprobatório de que não somos o corpo, nem o sangue, nem a posição social, com fatos irrecusáveis que mais engrandecem os reclamos iluministas pelos direitos comuns a todos.
Evolução
"Os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou são eles mesmos que procuram melhorar-se? - Os Espíritos mesmos se melhoram; melhorando-se, passam de uma ordem inferior para uma superior." (questão 114 de "O Livro dos Espíritos").
Este princípio espírita é fundamental e vem de encontro ao pensamento original de Jean Jacques Rousseau, "o homem em estado de natureza é bom e puro", apenas esclarecendo que esse estado de natureza é a condição primeira do Espírito, pois após as primeiras encarnações, acrescido de experiências e tendo utilizado o livre arbítrio, já não é mais puro no sentido empregado por Rousseau, mas inocente por estar no período infantil, pronto para receber as influências da educação. Esforçando-se por melhorar, por se aperfeiçoar, ele alcançará o estado de Espírito puro, ou seja, aquele estado final de progresso moral e intelectual.
Bons em potência são todos os homens porque Deus é bondade, e puros todos os homens serão por força de sua evolução facultada pelo esforço próprio e pela determinação da lei divina.
quarta-feira, 4 de março de 2009
Cairbar de Souza Schutel
No dealbar do século XX, quando eram ensaiados os primeiros passos no grandioso programa de divulgação do Espiritismo, e quando a Doutrina dos Espíritos era vista como uma novidade que vinha abalar os conceitos até então prevalecentes sobre a imortalidade da alma e a comunicabilidade dos Espíritos, dentre os pioneiros da época, surgiu um vulto que se destacou de forma inusitada, fazendo com que a difusão da nova Doutrina tivesse uma penetração até então desconhecida.
O nome desse seareiro era Caibrar de Souza Schutel, nome esse que se impôs, em pouco tempo, ao respeito e consideração de todos. Ele jamais esmoreceu no propósito de fazer com que a nova revelação, que vinha fazer o mundo descortinar novos horizontes e prometia restaurar, na Terra, as primícias dos ensinamentos legados por Jesus Cristo quase vinte séculos antes, pudesse conquistar os corações dos homens, implantando-se na face do nosso planeta como uma nova força cujo objetivo básico era de extirpar o fantasma do materialismo avassalador.
Biografar um vulto dessa estirpe não é fácil tarefa, uma vez que as suas atividades não conheciam limitações nem eram bitoladas por conveniências de grupos ou de pessoas. Conseqüentemente, tudo aquilo que se disser sobre Caibrar Schutel não passa de uma súmula muito apagada de uma vida cheia de lutas, de percalços e sobretudo de ardente idealismo.
Caibrar de Souza Schutel, aos nove anos de idade, ficava órfão de pai e, seis meses após, de mãe. Seu avô, Dr. Henrique Schutel, interessou-se pela sua educação, matriculando-o no Colégio Nacional, depois Colégio D. Pedro II, onde estudou durante dois anos.
Animado de novos propósitos, abandonou os estudos e a casa do avô, passando a trabalhar como prático em farmácia, o que fez com que, aos 17 anos de idade já se tornasse respeitável profissional desse ramo. Nessa época abandonou a antiga Capital Federal e rumou para o Estado de S. Paulo, onde se localizou primeiramente em Piracicaba e logo após em Araraquara e Matão. Esta última cidade era então um lugarejo muito singelo, com poucas casas e dependendo quase que exclusivamente do comércio de Araraquara, a cujo município pertencia.
Nessa humilde cidade, Caibrar Schutel acalentou o propósito de servir à coletividade, o que fez com que batalhasse arduamente para que Matão subisse à categoria de Município. Conseguindo colimar esse desiderato, foi eleito seu primeiro Prefeito. Homem dotado de ilibado caráter, de ampla visão e de grande humildade, conseguiu conquistar os corações de todos. Na política não enfrentava obstáculos. Deve-se a ele a edificação do prédio da Câmara Municipal, o que fez com seus próprios recursos financeiros.
A política, no entanto, não era o seu objetivo, por isso, tão logo ele teve a sua Estrada de Damasco, representada pela sua conversão ao Espiritismo, abandonou esse campo, passando a dedicar-se inteiramente à nova Doutrina.
Conheceu o Espiritismo através de Manoel Pereira do Prado, mais conhecido por Manoel Calixto, que na época era um dos poucos e o mais destacado espírita do lugar. Embora não sendo profundo conhecedor dos princípios básicos da Codificação Kardequiana, Manoel Calixto conseguiu impressionar o futuro apóstolo, com uma mensagem mediúnica de elevado cunho espiritual, recebida por seu intermédio.
Em seguida a esse episódio, Caibrar integrou-se no conhecimento das obras fundamentais da Doutrina Espírita e, tão logo se sentiu compenetrado daquilo que ela ensina, fundou, no dia l5 de julho de 1904, o primeiro núcleo espírita da cidade e da zona, denominando-o "Centro Espírita Amantes da Pobreza".
Não satisfeito com essa arrojada realização, no mês de agosto de 1905, lançou a primeira edição do jornal "O Clarim", órgão esse que vem circulando desde então e que se constituiu, de direito e de fato, num dos mais tradicionais e respeitáveis veículos da imprensa espírita.
Numa época quando pontificava verdadeira intolerância religiosa e quando o Espiritismo e outras religiões sofriam o impacto da ação exercida pela religião majoritária, Caibrar Schutel também teve o seu Calvário: um sacerdote reacionário e profundamente intolerante, resolveu promover gestões no sentido de fechar as portas do Centro Espírita, usando como arma ardilosa uma campanha persistente no sentido de fazer com que a farmácia de Caibrar fosse boicotada pelo povo.
Com o apoio do delegado de polícia, conseguiu deste a ordem para o fechamento do Centro onde se difundia o Espiritismo. Caibrar Schutel, no entanto, não era dos que se intimidam e, contra o padre e o delegado, levantou a barreira da sua autoridade moral e da sua coragem. A ordem do delegado não foi respeitada por atentar contra a letra da Constituição Federal de 1891, e o valoroso espírita foi à praça pública protestar contra tamanho desrespeito. O padre, não tolerando aquela manifestação promovida por Caibrar, também promoveu uma passeata de desagravo. Outros sacerdotes, nessa época, já estavam em Matão, apregoando a necessidade de se manter o "herético" circunscrito, de nada se adquirirem sua farmácia, e, sobretudo proibindo a todos a freqüência ao Centro Espírita.
Em face da tremenda pressão exercida, Caibrar anunciou que falaria ao povo em praça pública, refutando ponto por ponto todas as acusações gratuitas que lhe eram atribuídas pelos sacerdotes. O delegado proibiu-o de falar. Caibrar não acatou a proibição do delegado e, estribando-se na Constituição, dirigiu-se para a praça pública, falando aos poucos que, não temendo as represálias do padre, tiveram a coragem de lá comparecer. Este, por sua vez, expressou a idéia de que, se a liberalíssima Constituição brasileira permitia esse direito a Caibrar, a Igreja de forma alguma consentiria e, aliciando um grupo de homens fanatizados, marchou para a praça pública, cantando hinos e cantorias fúnebres, portando, além disso, vários tipos de armas. O objetivo da procissão noturna era de abafar a voz do orador e atemorizar o povo.
Essa barulhenta manifestação provocou a repulsa de algumas pessoas cultas da cidade, as quais, dirigindo-se à praça, pediram a aquiescência do orador para, de público, manifestarem a desaprovação àquelas manifestações e responsabilizando o padre pelas conseqüências danosas daquele desrespeito à Carta Magna, afirmando que o orador tinha todo o direito de falar e de se defender. Diante dessa reação, o padre ficou assombrado e decidiu dispersar os acompanhantes, o que possibilitou a Caibrar prosseguir na defesa dos seus direitos e dos seus ideais.
Caibrar sabia ser amigo até dos seus próprios inimigos. Sempre inspirava simpatia e respeito. Sempre feliz no seu receituário, tornou-se, dentro em pouco, o Médico dos Pobres e o Pai da Pobreza, de Matão. Além de prescrever o medicamento, ele o dava gratuitamente aos necessitados. Sua residência tomou-se um refúgio para os pobres da cidade. Muitas pessoas eram socorridas pela sua generosidade. Muitos recebiam socorros da mais variada espécie, em víveres, em roupas e sobretudo assistência espiritual.
O sentimento de amor ao próximo teve nele incomparável paradigma. Estava sempre solícito e pronto para socorrer um enfermo ou um obsedado. Atos de renúncia e de desapego eram comuns em sua vida. Sua residência chegou a ser transformada em hospital de emergência para doentes mentais e obsedados. Em vista do crescente número de enfermos, em 1912 alugou uma casa mais ampla, na qual tratava com maiores recursos e com mais liberdade todos aqueles que apelavam para a sua ajuda fraternal.
No dia 15 de fevereiro de 1925, lançou o primeiro número da "Revista Internacional de Espiritismo", órgão que desde então vem circulando sem solução de continuidade.
Quando foi rasgada a Constituição ultra-liberal de 1891, Caibrar Schutel foi à praça pública apoiando a Coligação Nacional Pró- Estado Leigo, entidade fundada no Rio de Janeiro pelo Dr. Artur Lins de Vasconcelos Lopes. Nesse propósito combateu sistematicamente a pretensão, esposada por alguns grupos, de se introduzir o ensino religioso obrigatório nas escolas. Certa vez programou uma reunião num cinema de cidade vizinha para abordar esse tema. Na hora aprazada ali estavam apenas alguns dos seus amigos, dentre eles José da Costa Filho e João Leão Pitta. Caibrar não se perturbou. Mandou comprar meia dúzia de foguetes e soltou-os à porta do cinema. Daí a 20 minutos o recinto estava repleto.
Foi pioneiro no lançamento de programa espírita pelo rádio, pois em 1936 inaugurou, pela PRD- 4 -- Rádio Cultura de Araraquara, uma série de palestras que mais tarde publicou num volume de 206 páginas.Como jornalista escreveu muito. Durante muito tempo manteve uma secção de crônicas e reportagens no "Correio Paulistano" e na "Platéia", antigos órgãos da imprensa leiga.
Sua bibliografia é bastante vasta, dela destacamos as seguintes obras: "Espiritismo e Protestantismo", "Histeria e Fenômenos Psíquicos", "O Diabo e a Igreja", "Médiuns e Mediunidade", "Gênese da Alma", "Materialismo e Espiritismo", "Fatos Espíritas e as Forças X", "Parábolas e Ensinos de Jesus", "O Espírito do Cristianismo", "A Vida no Outro Mundo", "Vida e Atos dos Apóstolos", "Conferências Radiofônicas", "Cartas a Esmo" e "Interpretação Sintética do Apocalipse".
Fundou também a Empresa Editora "O Clarim", que passou a editar livros de outros autores. Caibrar Schutel foi um homem de fé, orador convincente, trabalhador infatigável, dinâmico, realizador e portador dos mais vivificantes exemplos de virtude cristã.
terça-feira, 3 de março de 2009
Nascimento da Educação Espírita
Cada fase da evolução histórica é marcada por uma nova concepção do homem e do mundo. É conhecido o esquema formulado por Augusto Comte mas convém repeti-lo. A evolução humana se processa em três estados ou três fases bem caracterizadas: 1o) o estado teológico, representado pelas civilizações teocráticas e mitológicas da Antigüidade; 2o) o estado metafísico, simbolizado pela Idade Média; 3o) o estado positivo, a que corresponde o Positivismo como filosofia científica, representado pela era das Ciências.
Um leitor da Revista Espírita escreveu a Allan Kardec propondo a esse esquema, que Comte chamou de lei dos três estados, o acréscimo do estado psicológico. Kardec publicou a carta na Revista de Abril de 1869 e considerou acertada a sugestão do leitor. De fato, com o advento do Espiritismo em 1857 o estado positivo havia sido superado, a Humanidade entrava em nova fase evolutiva caracterizada pelo predomínio das pesquisas psicológicas.
O acerto dessa proposição se confirmou no decorrer da Segunda metade do século XIX e na primeira metade do século XX.
As Ciências Psicológicas, tanto no que respeita à Psicologia quanto no tocante ao Espiritismo e às Ciências Psíquicas por ele geradas, desenvolveram-se de tal maneira nesse período que acabaram predominando na cultura do século.
Nesta segunda metade do século XX, em que nos encontramos, o avanço nesse campo de pesquisas e estudos ultrapassou toda expectativa.
Estamos hoje, inegavelmente, na Era do Espírito. Já passamos além do estado psicológico, que era apenas o vestíbulo de uma fase decisiva da evolução humana. Estamos no estado espírita.
Em apenas alguns anos, de 1930 à 1970, demos um gigantesco salto qualitativo –– da Psicologia animista, reduzida às investigações do comportamento humano, à Parapsicologia, que rapidamente avançou na demonstração da realidade do espírito, a partir dos fenômenos rudimentares de clarividência e telepatia até à pesquisa e comprovação das comunicações de espíritos (fenômenos theta) e da reencarnação (memória extrasensorial).
Ao mesmo tempo, a Física, Ditadora das Ciências, como Rhine a chamou, cujos conceitos e métodos de investigação materialista se impuseram discricionariamente a todo o campo do conhecimento, saltou repentinamente além da matéria, descobrindo a antimatéria, reconhecendo a sua importância fundamental na estrutura do Universo, e logo mais descobrindo o corpo bioplástico dos vegetais, dos animais e do homem.
Corroborando essas conquistas terrenas houve também o assalto ao Cosmos pela Astronáutica. Esse mergulho no Infinito trouxe mais uma possibilidade de confirmação da chamada hipótese espírita, tão ridicularizada e menosprezada pelos homens positivos, no tocante à existência de uma escala de mundos.
Pesquisas astrobiológicas revelaram a existência de elementos vitais na imensidade cósmica e os cientistas mais eminentes já não temem declarar a sua convicção da possibilidade de vida humana em outros planetas.
Para negar que estamos na Era do Espírito seria preciso negar todos esses avanços da Ciência, o que evidentemente ninguém pode fazer.
A outra face do real
No mesmo instante em que o homem conseguiu ver, pela primeira vez na História, a face oculta da Lua, os cientistas soviéticos (logo eles) conseguiram, em suas pesquisas com a câmara Kirilià, na Universidade de Alma Ata, nos confins do Kazakistã, próximo à fronteira chinesa (bem escondidos nas selvas) ver e fotografar o corpo espiritual do homem. E conseguiram mais, em experiências com moribundos, pesquisando o fenômeno da morte, constatar que esse fenômeno só ocorre quando o corpo bioplástico (como o chamaram) se retira do corpo carnal, que então e só então se cadaveriza.
O Cristianismo havia conseguido a conversão do mundo. O Espiritismo está conseguindo a conversão da Ciência. A visão nova dos cristãos modificou as relações humanas, mesmo nas áreas não dominadas pelo Cristianismo, e criou uma nova cultura.
A visão novíssima do Espiritismo deu novas dimensões à visão cristã e está criando uma nova civilização. Segundo a conceituação de Kerchensteiner a cultura se divide em objetiva e subjetiva. A cultura objetiva se constitui dos bens concretos que formam a civilização, a cultura subjetiva representa o acervo de conhecimentos abstratos que formam o saber de cada civilização.
A cultura, tanto objetiva como subjetiva, da Era do Espírito, não pode ser transmitida às novas gerações através dos limitados recursos da Educação Cristã ou da Educação Leiga, ambas irremediavelmente superadas.
O conflito materialismo versus espiritualismo, que gerou essas duas formas de educação, não tem mais possibilidade de sobreviver na cultura atual. A nova concepção do homem e do mundo que marca o nosso tempo exige uma nova educação de dimensões cósmicas e espirituais. Porque a Era do Espírito é também a Era Cósmica.
E só o Espiritismo tem condições para atender a essa exigência do nosso tempo, através da Educação Espírita, que já se desenvolve espontaneamente aos nossos olhos e por sua vez exige a sua formulação pedagógica.
A descoberta do espírito
Em 1854 o Prof. Denizard Rivail começou a investigar os fenômenos psíquicos que haviam nove anos antes, abalado os Estados Unidos e repercutido intensamente na Europa.
Discípulo de Pestalozzi, o grande pedagogo da época, e ele também pedagogo, interessava-se por todos os fenômenos que pudessem dar-lhe um conhecimento mais profundo da natureza humana.
Partia do princípio de que o objeto da Educação é o homem e por isso o pedagogo tinha por dever aprofundar o conhecimento deste.
Em 1857 lançava em Paris O Livro dos Espíritos como primeiro fruto de suas pesquisas. Havia descoberto o espírito, determinado a sua forma, a sua estrutura, as leis naturais (e não sobrenaturais) que regem as sua relações com a matéria.
Podia afirmar, baseado em provas, que a natureza do homem é espiritual e não material, que ele sobrevive à morte, que possui um corpo energético e se submete ao processo biológico da reencarnação para evoluir como Ser, despertando em sucessivas existências as suas potencialidades ônticas.
Se Jesus ensinara essas coisas, na medida do possível, nos limites culturais do seu tempo, Denizard Rivail, que para tanto adotava o nome de Allan Kardec, passava então a ensiná-las de maneira mais ampla e com maiores recursos culturais. Tornou-se o professor de Espiritismo, como passaram a chamá-lo os que aceitaram a sua verdade.
Para isso lançou uma revista especializada, a Revue Spirite, e passou a fazer conferências e publicar livros e folhetos em linguagem didática, bem acessível ao povo. Estava iniciada a Educação Espírita.
Para bem configurarmos o nascimento da Educação Espírita convém lembrar que Amélie Boudet, esposa de Kardec, era também professora. Sabemos como ela colaborou na obra do marido e como, após o passamento deste, emprenhou-se em honrar-lhe a memória. O casal não teve filhos. A Educação Espírita foi assim a sua única filha. Essa filha mimada, extremamente querida, esteve junto ao seu coração até o fim de sua existência. O Prof. Rivail serviu-se dela para educar e instruir o seu tempo, não só no tocante à França, mas a todo o mundo.
André Moreil, em sua Vida e Obra de Allan Kardec, mostra-nos que o Prof. Rivail não foi apenas discípulo de Pestalozzi, mas o continuador da obra educacional do mestre: "É interessante notar que a impressão das obras completas de Pestalozzi termina exatamente no ano em que Rivail publicou a sua primeira obra, em 1824. Esta coincidência que uma tocha foi passada de mão para mão. Rivail iria trabalhar durante trinta anos para educação da juventude francesa, antes de se consagrar, nos seu últimos quinze anos, aos princípios do Espíritismo".
Poderiam perguntar porque motivo Kardec não nos deixou nenhuma obra específica de Educação Espírita. A resposta é evidente: porque ainda era cedo para isso e porque faltou-lhe tempo para se dedicar a assunto tão complexo.
A codificação do Espíritismo, a Revista, as obras subsidiárias, os trabalhos de observação e pesquisa, a refutação incessante dos ataques feitos à doutrina consumiam-lhe o tempo. E os espíritos recomendavam-lhe a todo momento poupar energias, para não deixar de concluir sua missão de implantar a nova doutrina entre os homens.
A obra pedagógica e didática do Prof. Rivail é enorme e foi adotada pela Universidade de França. Mas o Tratado de Pedagogia com que ele sonhara não pode ser escrito. Sua missão espírita era demasiado absorvente, e ele estava só, terrivelmente só. A esposa o auxiliava e havia muitos colaboradores sinceros, mas só ele percebia o alcance real do Espiritismo. Assim, os grandes trabalhos não podiam ser feitos por mais ninguém.
Mas se não conseguiu fazer o necessário no tocante à Educação Espírita, a verdade é que deixou a sua obra doutrinária impregnada do ideal educacional. O Espiritismo, diziam-lhe os Espíritos, tem por missão modificar o mundo inteiro. E Kardec afirmaria em O Livro dos Espíritos, de acordo com a sua orientação anterior de pedagogo: "A educação é a chave do progresso moral".
Encarando o problema da evolução do mundo, Kardec adverte em sua obra fundamental: "O Espírito só pode avançar gradualmente. Não pode transpor de um salto a distância que separa a barbárie da civilização" (perg. 271). A importância da Educação Espírita ressalta deste trecho: "Encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível na infância às impressões que recebe e podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação" (perg. 383).
A Educação Espírita aparece em Kardec também no seu aspecto transcendente. Não é apenas a educação do homem pelo homem. É também a educação ministrada pelos Espíritos Superiores.
Que bela visão desse processo educativo ele nos oferece neste trecho: "A verdadeira doutrina espírita está no ensino dos Espíritos. Os conhecimentos que esse ensino encerra são demasiado sérios para serem adquiridos sem um estudo profundo e continuado, feito no silêncio e no recolhimento".
O ensino espírita
O que Kardec entendia por estudo profundo e continuado não era apenas autodidatismo, segundo parece sugerir a expressão: no silêncio e no recolhimento. Alguns espíritas desavisados escudam-se nessa expressão para condenar os cursos doutrinários.
E o fazem em nome do pedagogo e professor que passou a sua vida dando cursos e nos deixou, no Projeto de 1886, este conselho que é ao mesmo tempo uma advertência:
Um curso regular de espiritismo seria dado com o fim de desenvolver os princípios da Ciência Espírita e propagar o gosto pelos estudos sérios.
Esse curso terá a vantagem de criar a unidade de princípios, de obter adeptos esclarecidos, capazes de difundir as idéias espíritas e de desenvolver grande número de médiuns.
Encaro este curso como capaz de exercer influência capital no futuro do Espiritismo e em suas conseqüências.
Hoje, mais do que nunca, diante da expansão do Espiritismo em nosso país e de sua repercussão no mundo, o problema do ensino espírita se acentua como necessidade imperiosa. O Espiritismo é uma ciência, como ensinava Kardec, da qual resultam naturalmente uma filosofia e uma religião.
Seria possível a divulgação de uma doutrina assim complexa, que toca em todos os ramos do saber, segundo o próprio Kardec afirmou, sem a criação de cursos regulares, dados por professores competentes? Quem negar isso deve estar seriamente afetado por uma doença muito grave, que nos vem da Idade da Pedra: a alergia à cultura.
O Prof. Ramy Chauvin, da Escola de Altos Estudos de Paris, declarou há pouco tempo que existe entre os cientistas uma doença semelhante, e que deu o nome de alergia ao futuro.
No meio espírita constatamos hoje a existência, em forma aguda e até mesmo delirante, de uma conjugação dessas duas formas de alergia.
Os espíritas anti-culturais não querem os cursos (alergia à cultura) porque temem as modificações salutares que eles produzirão na rotina das igrejinhas espiritóides (alergia ao futuro). Querem continuar dormindo nas suas ilusões, balançando-se na rede de suas idéias fragmentárias e seus conhecimentos superficiais da Doutrina Espírita.
Podem escrever muito e falar demais, mas basta um ligeiro exame das suas idéias para que a doença grave se revele na análise.
O ensino espírita, como todo e qualquer ensino, requer sistematização escolar. A fase sem escolas da Educação Espírita, como a de qualquer outra forma educacional, pertence aos primórdios do movimento espírita. E isso não se precisa demonstrar por argumentos, pois os fatos o estão demonstrando aos nossos olhos. Onde os fatos falam por si mesmos os argumentos ficam sobrando.
A rede escolar espírita é hoje uma realidade concreta e se estende desde o grau mínimo ao grau máximo do ensino, desde o pré-primário até o universitário.
Além dessa propagação, que vai num crescendo irreversível, da escola espírita em todos os graus de ensino, temos os cursos de preparação doutrinárias nas Federações, nos Centros, nos Grupos, nos Hospitais e assim por diante.
Temos ainda os Institutos de Cultura Espírita, que realizam cursos regulares e estão se multiplicando pelo país. A escola espírita não é mais um sonho, uma hipótese, uma utopia –– é uma realidade concreta, social e cultural, que avança para um futuro esplendente.
Alguns observadores menos avisados (seria bom que estivessem avisados da inutilidade da luta contra o progresso) estranham o que chamam de mistura de matérias escolares com princípios espíritas. Esse é mais um grave sintoma de misoneísmo. Revelam assim uma concepção muito estreita do Espiritismo, esquecendo-se de que o próprio Kardec afirmou em A Gênese, respondendo aos que perguntavam porque o Espiritismo veio tão tarde, que isso aconteceu porque ele toca em todos os ramos da Ciências e era preciso que estas se desenvolvessem para que ele surgisse.
A tragédia espírita tem sido essa, desde o tempo do Codificador. Há sempre em nosso meio um certo número de pessoas ilustradas que se revelam incapazes de abranger no seu entendimento as dimensões da doutrina. Empacaram no meio do caminho e não querem avançar nem permitir que os outros avancem. Talvez seja um fenômeno de apego afetivo, com fundas raízes no egoísmo. Querem o Espiritismo somente para elas ou para um reduzido número de eleitos entre os quais figuram. Mas desde que Eurípedes Barsanulfo fundou e dirigiu, com admirável proveito, o Colégio Allan Kardec em Sacramento, lá pelos idos de 1909, ninguém mais conseguiu nem conseguirá deter a marcha da escola espírita. Porque ela corresponde a uma necessidade vital desta fase de transição da vida terrena. É uma exigência da evolução da Humanidade, do progresso da Terra.
Por isso mesmo a Educação é hoje o tema mais importante da atualidade doutrinária. Todos querem progredir, esclarecer-se, orientar seus filhos. E todos sentem, todos sabem que a escola espírita é a única realmente capaz de preparar as novas gerações para a nova era que está surgindo. Só os alérgicos resmungam contra essa maravilhosa vitória do Espiritismo no mundo, contra essa manifestação incontrolável do poder das idéias espíritas –– que tudo arrastam em direção ao futuro. Felizes as novas gerações brasileiras, que dentro em breve poderão formar-se inteiramente nas escolas espíritas, recebendo a educação integral que só elas podem dar, –– sem as deturpações dogmáticas do sectarismo religiosa e sem as deformações pretensiosas do academismo materialista.
Neste Natal devemos agradecer a Jesus a concessão que nos fez, permitindo ao Brasil a graça de ser o país pioneiro da Educação Espírita na Terra. A Argentina já nos acompanha com entusiasmo. No Congresso de Mar Del Prata, no ano passado, o tema central de estudos e debates foi a Educação Espírita, que empolgou as delegações da Confederação Espírita Pan-americana, revelando a unidade continental dos espíritas a respeito. O Congresso, num dos itens das suas conclusões, reconheceu a existência da Educação Espírita em forma institucionalizada. Esse reconhecimento foi feito em face da situação escolar espírita no Brasil e graças à revista Educação Espírita, que leva hoje para o mundo a boa nova das nossas realizações educacionais.
Testemunho de Kardec
Kardec não foi apenas o iniciador da Educação Espírita. Foi também a primeira testemunha da eficácia dessa nova forma de educar. Na Revista Espírita de Fevereiro de 1864, no editorial intitulado Primeiras lições de moral na infância (página 37 da edição brasileira) analisa com exemplos algumas contribuições do Espiritismo para modificar a educação vigente. E afirma: "Ele já prova a sua eficácia pela maneira mais racional por que são educadas as crianças nas famílias verdadeiramente espíritas".
Esse testemunho de Kardec é dos mais significativos por mostrar como toda forma nova de educação é inerente a uma nova concepção do mundo.
Esse é um princípio pacífico em filosofia educacional, mas os leigos no assunto não o conhecem. Por isso, muitas pessoas que falam e escrevem no meio espírita, podendo ser ilustradas em outros setores, chegam a estranhar que se fale em educação espírita, coisa que lhes parece estranha e descabida.
Um pouco de observação lhes mostraria que, sendo a educação o meio de transmissão da cultura, toda alteração fundamental no conhecimento, no saber, terá forçosamente de repercutir na educação.
Por outro lado, esse testemunho de Kardec nos mostra que a Educação Espírita começou bem cedo, na forma tradicional de educação familiar.
Nas famílias espíritas da França de então as crianças já eram iniciadas na maneira nova de ver o mundo que o Espiritismo oferece. O pedagogo e o educador que era Kardec não podia deixar de observar esse fato com alegria. Porque esse fato confirmava, ao mesmo tempo, o valor e a legitimidade da Filosofia Espírita –– pois toda Filosofia, como nos ensinam os mestres, desemboca fatalmente numa Moral, que por sua vez exige uma Educação para transmitir-se às novas gerações.
Formação do novo homem
A tarefa da Educação Espírita é a formação de um homem novo. A Educação Clássica greco-romana formou o cidadão, o homem vinculado à cidade e suas leis, servidor do Império; a Educação Medieval formou o cristão, o homem submisso a Cristo e sujeito à Igreja, à autoridade desta e aos regulamentos eclesiásticos; a Educação Renascentista formou o gentil-homem, sujeito às etiquetas e normas sociais, apegado à cultura mundana; a Educação Moderna formou o homem esclarecido, amante das Ciências e das Artes, céptico em matéria religiosa, vagamente deísta em fase de transição para o materialismo; a Educação Nova formou o homem psicológico do nosso tempo, ansioso por se libertar das angústias e traumas psíquicos do passado, substituindo o confessionário pelo consultório psiquiátrico e psicanalítico, reduzindo a religião a mera convenção pragmática.
Nesse rápido esquema temos uma visão do desenvolvimento do processo educacional e de suas conseqüências. Não pretendemos que seja uma visão perfeita e completa. É apenas um esboço destinado a nos orientar na compreensão do assunto. E vemos que ele pode nos dar uma idéia negativa da Educação, mas se refletirmos a respeito veremos o contrário.
Do homem submisso ao Estado ou a Deus, preso a leis, regras e convenções que o amoldam e desfiguram, avançamos para o homem livre do futuro, responsável por si mesmo, que chega a se revoltar contra o próprio Deus no seu profundo anseio de liberdade, mas sempre em busca da sua afirmação como Ser.
Essa afirmação é a que nos traz o Espiritismo com as provas científicas da sobrevivência e a perspectiva da imortalidade, com a desmitização da morte, com a racionalização do nebuloso conceito de Deus e de suas relações com o homem, com o esclarecimento decisivo do destino do homem e da razão de ser da vida e suas peripécias.
Cabe, portanto, à Educação Espírita formar o homem consciente do futuro, que já começa a aparecer na Terra, senhor de si, responsável direto e único pelos seus atos, mas ao mesmo tempo reverente a Deus, no qual reconhece a Inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas.
Não é mais possível educar as gerações novas segundo nenhum dos tipos anteriores de Educação. Daí a rebeldia que vemos nas escolas, a inquietação da juventude, insatisfeita com a ordem social e cultural, ambas obsoletas, em que se encontram.
A Educação Espírita se impõe como exigência dos tempos. Só ela poderá orientar os espíritos para a formação do homem novo, consciente de sua natureza e de seu destino, bem como de pertencer à Humanidade Cósmica e não aos exíguos limites da humanidade terrena.
Só ela pode nos dar, nesse homem novo, a síntese de todas as fases da evolução anterior, numa formulação superior. Porque o homem espírita –– ou o homem consciente –– que essa nova Educação nos dará, será ao mesmo tempo o cidadão, o cristão, o gentil-homem, o homem esclarecido e o homem psicológico, mas na conjugação de todos esses elementos numa dimensão espiritual e cósmica.
Com isso não queremos dizer que toda a Humanidade se converta ao Espiritismo, mas tão somente que os princípios fundamentais do Espiritismo serão as coordenadas do futuro, marcando o âmbito conceptual e ético da nova formação educacional.
Não foi necessário que toda a Humanidade se convertesse ao Cristianismo para que os princípios deste remodelassem o mundo. O mesmo acontecerá com o Espiritismo.
A função da Educação Espírita é portanto a de abrir perspectivas novas ao processo educacional, adaptando-o às necessidades novas que surgiram com o desenvolvimento cultural e espiritual do homem. As escolas espíritas –– como as escolas cristãs o fizeram –– serão os centros dinamizadores da renovação. E a Pedagogia Espírita –– como o fez a Pedagogia Cristã –– orientará a nova concepção educacional que está nascendo em nossos dias.
Por outro lado, correntes avançadas da Pedagogia Contemporânea, como especialmente a do néo-kantismo, representada por Kerchensteiner na Alemanha e René Hubert na França, darão sua contribuição para o desenvolvimento dessa profunda revolução educacional em marcha.
Seria bom, por sinal, que os educadores espíritas procurassem aprofundar-se no estudo do Traité de Pédagogie Générale, de Hubert, que nos parece um verdadeiro monumento de renovação educacional dentro das coordenadas espíritas.
Como vemos, o nascimento da Educação Espírita ainda não se completou. Começando com Kardec, há mais de um século, ainda está se processando em nossos dias. Por isso mesmo, somos todos convocados a participar desse acontecimento espiritual, contribuindo cada qual da maneira que puder para que ele se complete o quanto antes.
Do livro: Pedagogia Espírita