Eis aqui um ensino pacífico e notório de "O Livro dos Espíritos": “Os Espíritos pertencem a diferentes classes e são desiguais em poder, inteligência e moralidade”. É um ensino muito oportuno. Mas muitas pessoas ainda pensam, ingenuamente, que o fato de um Espírito passar para o lado de lá, já é suficiente para que se torne um sábio ou um santo. Nem todos quantos acreditam nas comunicações dos Espíritos têm o necessário conhecimento da Doutrina, daí por toda parte muitas suposições errôneas...
Ora, se o mundo espiritual é a continuação do nosso em relação ao curso das experiências individuais, é óbvio que por lá também se estuda e se aprende. Há espíritos que, por algum tempo, ainda se utilizam das noções adquiridas neste mundo e, aos poucos, vão enriquecendo sua bagagem ou modificando certos conceitos. Nada, porém, se realiza de um momento para outro ou de um salto. André Luiz, entre vários outros, é um exemplo muito elucidativo.
Como se sabe, ele foi médico na Terra e, por isso, ao defrontar-se com alguns problemas na Espiritualidade, teve as suas surpresas. Com o tempo, recebendo novas noções, André Luiz reformulou algumas de suas ideias, na medida em que ia recebendo enriquecimentos da experiência.
Quanto mais aprende e renova-se, o Espírito vai proporcionalmente alargando suas perspectivas e vendo as coisas por outro prisma. Isso significa que o aprendizado continua no plano espiritual, não para nunca! Como é, então que se pretende transformar qualquer Espírito em verdadeiro sábio, se o conhecimento é progressivo, tanto faz na Terra como no mundo espiritual?
Há Espíritos que levam para o Além muita ciência, muita cultura humana, mas tudo isso é apenas um meio, um instrumento, não é a sabedoria, que não pode ser confundida com o saber puramente teórico. Sabedoria é também vivência do Espírito e, por isso mesmo, não se adquire de um momento para outro; é iluminação gradativa, exigindo esforço, disposição e tempo...
É natural, pois, que os Espíritos ensinem apenas o que está dentro de sua faixa de experiência e conhecimento.
Muita gente, entretanto, quer que os guias espirituais digam tudo, logo de uma vez, como se já trouxessem a sabedoria pronta e acabada. É um engano!
Não podemos, finalmente, propor umas tantas questões transcendentes a qualquer Espírito, principalmente se é um Espírito que ainda está aprendendo, como se a desencarnação abrisse imediatamente as portas da sabedoria. Há ocasiões em que o próprio espírito reconhece que não está em condições de responder certas perguntas e, por isso, aconselha mais prudência até que venha uma Entidade espiritual mais esclarecida. Por conseguinte, nem todo guia pode, por exemplo, equiparar-se a Emmanuel.
E é preciso notar também que para adquirir a sabedoria que já adquiriu, o próprio Emmanuel teve muitas experiências e aprendeu muito. É a ordem natural do progresso.
Se, portanto, os Espíritos não são iguais em poder, inteligência e moralidade, como ensina a Doutrina, logicamente nenhum deles pode dar mais do que sabe. Seria até imprudência de nossa parte, em última análise, querer que um Espírito, simplesmente porque já não pertence ao plano terreno, seja capaz de prelecionar ou doutrinar sobre qualquer assunto.
Ninguém sensatamente iria exigir que um aluno do primeiro grau resolvesse equações da mais alta matemática. Assim também ocorre no mundo espiritual. Há uma escala de conhecimentos e moralidade, pois nenhum Espírito conquista a plenitude do saber sem esforço, sem a sua própria transformação, sem a escola da experiência até chegar ao vértice da ascensão: a aliança da ciência com a moral.
1 KARDEC,Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, Introdução.
2 KARDEC,Allan. O Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 192 e 791.
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