Muito há sido feito em favor dos interesses imediatistas do homem.
Consideração lhe é devida, a ele e a seus desejos plausíveis; - atenção para com os seus problemas ocupa lugar de destaque nos planos de ação da Espiritualidade; - procura-se atender a todas as carências do coração preso à lide terrena; - tomam-se providências no sentido de pensar as chagas que a infantilidade vem abrindo com prodigalidade nas mais nobres realizações do orbe; buscam-se as mais edificantes terapêuticas, visando a colaborar espiritualmente em favor da carência interior da humanidade; - têm-se escrito páginas e páginas de desdobramento da Revelação Espírita, sem que – em qualquer ocasião – se esqueça do conforto material devido aos semelhantes; - brotam inspirações pela Terra inteira: o espírito de Deus sopra pelos quatro cantos do mundo, através dos arautos da Boa Nova do Reino; - aconselha-se a tolerância, insufla-se a fraternidade; - a ponderação e o despertar construtivos vêm sendo repisados nas mais diversificadas ocasiões: o Plano Espiritual fervilha em intenções.
É preciso que a Terra seja transformada em câmara de eco, respondendo aos apelos que o Senhor lança sobre ela, correspondendo-lhe à confiança.
Mas, ao contrário, o que vem acontecendo, senão a desatenção aos ditames do Mais Alto?
O que vem movendo os corações humanos, senão a sede avassaladora da fama, além da cobiça incontida dos regalos das situações privilegiadas?
Há quanto tempo a ferrugem tem estado a corroer a enxada, atirada ao depósito íntimo, considerada como instrumento irremissivelmente anacrônico?
O homem, e acima de tudo os Espíritas, tem colocado a Doutrina em plano de primariedade, negligenciando-lhe a pureza.
O Espiritismo corre o sério risco de transformar-se em nova fonte dos desejos, se lhe não forem restauradas as bases, levan-do-se em conta a gula de saber que assola o mundo.
Sim, porque o saber desenfreado perde suas mais altaneiras características e passa a ser elemento de destruição.
O Evangelho está na base de tudo; só ele destrói os caprichos.
Quem quer que se lance à prática doutrinária precisa, desde a primeira hora, começar a construir o pequeno degrau que lhe toca, com bom cimento, com boa vontade e com inaudita perseverança.
E aqueles que já labutam no seio do Espiritismo carecem urgentemente de reformulação, porque, se o Espiritismo vem movimentando em favor de todos os meios da redenção de muitos, não se justifica que outros tantos deixem de algo realizar em favor dele, apenas por se julgarem preteridos, dessa ou daquela maneira.
Afinal, o que lhe fizeram, a eles mesmos reservarão os resultados.
E não se trata de simples retribuição: o Espiritismo, como Cristianismo redivivo, prega em si e existe em si, a favor dos homens; mas, caminhará contra eles ou apesar deles, se não quiserem que lhes norteie os passos.
Como se vê, trata-se de simples opção: ou se aceita a bênção do Espiritismo – que é Jesus entre nós – e se colabora em prol dele, ou se persiste em dele afastar-se, sem mais direito às imensas e excelentes vantagens que buscam os que entendem o mundo sem pertencer a ele.
Ou se retorna à realidade da Terra, desenterrando dos subterrâneos do coração a enxada corroída e tida como ultrapassada, ou já se fica vegetando no limo parasitário ou dependurado ao balaústre da ilusão, lançando moedas às águas enganosas do sonho.
Inácio Bittencourt.
Publicada no "Reformador", de janeiro de 1975.
Um comentário:
Inácio Bittencourt (19 de abril de 1862 - 18 de fevereiro de 1943) foi um médium espírita brasileiro.
Destacou-se na História do Espiritismo no Brasil como médium receitista e curador.
Como outros, também sofreu perseguições, respondendo a vários processos sob a acusação do exercício ilegal da Medicina, sendo absolvido.
Destacou-se também como orador, recorrendo, na tribuna, para discorrer sobre os ensinamentos de Jesus Cristo, a ricas imagens, com as quais abrangia conceitos científico-filosóficos de grande profundidade
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