Mensagem

"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."

Militão Pacheco

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O trabalho voluntário na Casa Espírita.

Há pelo menos dois enfoques diferentes para entender melhor este assunto, sendo que um é a questão do voluntariado em si e como deve ser encarado de modo a proteger a Casa Espírita das estocadas de pessoas interessadas em prejudicar o andamento natural do trabalho assistencial que é executado e para manter o interesse daqueles que têm interesse em cultivar o trabalho, por acreditarem nele, por defenderem os princípios doutrinários que pregam a caridade e a fraternidade por base cristã de entendimento.
O outro enfoque, se é que não há outros, é aquele que diz respeito ao trabalho propriamente dito, seus resultados efetivos, sua divulgação, seus métodos e sua disciplina. Veja que se trata de questão complexa que demanda compreensão mais aprofundada para que não se perca a base do próprio movimento, mantendo diretriz segura e consistente, para respeitar aos fundamentos doutrinários e a melhor relação entre os trabalhadores dispostos a permanecer voluntariamente doando seu tempo e sua boa disposição em prol da Instituição, da Casa Espírita.
Com relação a este enfoque, a Instituição é a responsável pelos trabalhos e é ela que deve traçar as diretrizes para que os trabalhos possam seguir dentro de princípios que respeitem seus estatutos e a vontade da maioria representativa que dirija os caminhos que ela deve seguir.
Evidente que ela será representada por alguém que esteja á frente dos trabalhos sociais que são o contato com as pessoas que serão assistidas por este setor da Casa. Aliás, já fica aqui a citação da necessidade de se organizar o trabalho, criando um setor ou um departamento, pois a Casa Espírita é um organismo que necessita de organização.
Previamente, os responsáveis pela direção e pelos trabalhos da Casa precisarão cuidar de gerir a mesma como sendo um organismo que necessita de órgãos que se responsabilizam por tarefas específicas, que receberão as diretrizes em conformidade com os estatutos, como já foi citado, para que os trabalhos sejam efetuados com a necessária disciplina organizacional em respeito à vontade de uma maioria que se expresse dentro destes princípios, sempre seguindo o necessário para que não exista choque na elaboração, no desenvolvimento e no fechamento dos trabalhos assistenciais.
Órgãos são setores ou departamentos que são criados em uma Instituição para que executem suas respectivas finalidades. O Departamento ou Setor de Serviços Sociais é criado para que seja responsável por todos os trabalhos sociais da Casa. Como todos os demais setores, devem seguir as diretrizes da Casa, respeitando princípios estatutários.
Os responsáveis pelo Departamento ou Setor Social irão propor trabalhos que assistirão os necessitados de cunho material, suprindo, quando possível, à falta de alimento, roupas e educação. São três problemas que atingem camadas menos favorecidas de pessoas que ficam à margem da sociedade que sequer conhecem potenciais possibilidades de mudar seus quadros de ordem material.
Mas como sempre é bom lembrar, ao efetuarem o trabalho assistencial material, os responsáveis pelo Departamento Social precisarão ter a preocupação cristã de levar a palavra do Cristo a quem necessita não só do pão material, mas também do pão espiritual, como se entende com facilidade. Sacia-se a fome material, o frio material, educa-se para que as pessoas possam elevar-se acima das próprias limitações, mas também é necessário a Evangelização.
Não como forma de convencimento de que se aceite a Doutrina, ou, pior, à base de troca, isto é, dá-se o pão à custa de ouvir o Evangelho, mas como forma de complementar a educação que se pode dar, levando as novas perspectivas das Vidas Futuras, da Lei de Ação e Reação, Causa e Efeito, da Reencarnação, enfim. Falar do Cristo, falar da Doutrina.
Os movimentos que surgem dentro da Casa Espírita, voluntariamente, espontaneamente, criado por pessoas que a freqüentam e que são ávidos por doar-se em prol dos necessitados materiais, precisam ser comunicados para a Casa, para o Departamento Social, para aqueles que já têm alguma experiência no trabalho, para que sejam ouvidos na voz da razão e para que o trabalho da própria Instituição seja mantido dentro de móveis pertinentes, com respeito aos propósitos que a própria Casa mantém, pois, se assim não acontecer, os eventuais erros que venham a acontecer, podem refletir para a Casa, correndo o risco de manchar sua reputação e seu nome.
Lembro-me de uma vez na qual estava em trânsito e fui abordado por algumas pessoas, no semáforo, pedindo auxílio para um trabalho assistencial em nome da Casa Espírita que eu freqüentava e ajudava nos trabalhos da direção. Havia até mesmo uma faixa com o nome da Casa e tudo. As pessoas não me conheciam e tive a oportunidade de investigar com algumas perguntas até concluir que se tratava de um movimento que surgiu em seu interior, por conta de pessoas de boa vontade, mas que haviam terceirizado o trabalho de arrecadação de fundos para que a caridade fosse colocada em prática, em nome da Casa, mas sem a aquiescência da Casa! Evidente que tomamos as atitudes legais para que tudo fosse corrigido.
Depois, ficamos sabendo que o grupo de pessoas que estava “prestando serviços” aos freqüentadores da Casa, simplesmente se aproveitava da situação e ficava com o dinheiro recolhido! Veja como é perigoso deixar que os trabalhos aconteçam à vontade...
Então, prestar contas faz parte do processo de trabalho em favor do próximo. Trocar informações entre todos os trabalhadores, também faz parte! As decisões precisam acontecer em equipe, com o responsável pelos trabalhos presente às reuniões. Se ele não estiver presente, as decisões não terão valor e consistência. Uma simples decisão tomada por pessoas inexperientes poderá gerar problemas dos mais variados e até de difícil solução. A experiência de alguém tem peso e precisa ser creditada.
Não pense que trabalho assistencial não tem dificuldades, pois tem. E algumas vezes sérias! Trabalhar com moradores de rua, com pessoas desprovidas de possibilidades não é uma seara de facilidades e você não encontrará pessoas dóceis e de personalidade fácil, simplesmente por serem pobres! A miséria pode endurecer e criar arestas que machucam e dificultam o trabalho. Por isso, é melhor que a equipe que vai a campo para a assistência esteja afinada entre si e falando a mesma linguagem da Casa Espírita que representam.
Em nome da boa vontade alguns geram exposições desnecessárias e podem comprometer todo um trabalho. É bom evitar com diálogo e entendimento recíproco entre todos, sempre que possível.
A Casa Espírita é, na verdade, um grande pronto-socorro de almas endividadas em busca de alívio para suas dores e nem sempre conscientes de que necessitam de auxílio, mas portadores de variados graus de orgulho que dão campo para envolvimentos em melindres e outros acessos complexos por conta de disputas que geram o que costumo chamar de “síndrome do pequeno poder”, quadro no qual as pessoas verdadeiramente guerreiam entre si o direito, a primazia, o posto, o reconhecimento, enfim, qualquer coisa que lhe dê destaque. Por este motivo e outros, é mister que se cuide para que todos os trabalhos sigam determinada diretriz, eu insisto.
Como ninguém está livre de uma obsessão, é necessário que inclusive os dirigentes mais eminentes sejam extremamente vigilantes para não cair em tentação e permitirem-se cair no desfiladeiro da vaidade, portando em si mesmos todas as outorgas de poder, esquecendo-se de que o importante na Seara do Mestre não é ele, mas o trabalho do qual ele faz parte. Aliás, ele faz parte do trabalho e não ao contrário! Entretanto, esta assertiva é válida para todos, sem qualquer exceção.

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