Mensagem

"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."

Militão Pacheco

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A BUSCA DA REALIZAÇÃO

A infância, construtora da vida psicológica do ser humano, deve ser experienciada com amor e em clima de harmonia, a fim de modelá-lo para todos os futuros dias da jornada terrestre.
Os sinais das vivências insculpem-se no inconsci ente com vigor, passando a escrever páginas que não se apagam, quase sempre revivendo os episódios que desencadeiam os comportamentos nos vários períodos por onde transita. Quando são agradáveis as impres sões decorrentes dos momentos felizes, passam a fazer parte da auto-realização, contribuindo poderosamente para o despertar do Si profundo, que vence as barrei ras impeditivas colocadas pelo ego. Se negativas, per turbam o desenvolvimento dos valores éticos e com portamentais, gerando patologias psicológicas avassa ladoras, que se expressam mediante um ego domina dor, violento, agressivo, ou débil, pusilânime, dúbio, pessimista, depressivo.
Essas marcas são quase que impossíveis de ser apa gadas do inconsciente atual, qual aconteceria com a mossa provocada por uma pressão ou golpe sob super fície delicada que, por mais corrigida, sempre perma nece, mesmo que pouco perceptível.
A busca da realização pessoal deve iniciar-se na auto-superação, mediante vigorosa auto-análise das necessidades reais relacionadas com as aparentes, aque las que são dominadoras no ego e não têm valor real, quase nunca ultrapassando exigências e caprichos da imaturidade psicológica.
Para o cometimento, são necessárias as progressi vas regressões aos diferentes períodos vividos da ju ventude e da infância, até mesmo à fase de recém-nas cido, quando o Self verdadeiro foi substituído pelo ego artificial e dominador. Foi nessa fase que a inocência infantil foi substituída pelo sentimento de culpa, em razão da natural imposição dos pais, no lar, e, por ex tensão dos adultos em geral em toda parte. Mais tarde, identificando-se errada, em razão de não haver conseguido modificar os pais, nem vencer a teimosia dos adultos, mascara-se de feliz, de virtuosa, perdendo a integridade interior, a pureza, aprendendo a parecer o que a todos agrada ao invés de ser aquilo que realmen te é no seu mundo interior.
Esse trabalho de progressão regressiva que se pode lograr mediante conveniente terapia é muito doloroso, porque o paciente se recusa inconscientemente a acei tar os erros, como forma de defesa do ego e, por outro lado, por medo do enfrentamento com todos esses me dos aparentemente adormecidos. O seu despertar as susta, porque conduz a novas vivências desagradáveis. O ego, no seu castelo, conseguiu mecanismos de defe sa e domina soberano, reprimindo os sentimentos e dis farçando os conflitos, porqüanto sabe que a liberação desses estados interiores pode levar à agressividade ou ao mergulho nas fugas espetaculares da depressão.
Todos os indivíduos, de alguma forma, sentem-se desamparados em relação aos fatores que regem a vida: os fenômenos do automatismo fisiológico, o medo da doença insuspeita, da morte, do desaparecimento de pessoas queridas, as incertezas do destino, os fatores mesológicos, como tempestades, terremotos, erupções vulcânicas, acidentes, guerras... De algum modo, essa sensação de insegurança, de desamparo provém da in fância - ou de outras existências -, quando se sentiu dominado, sem opção, sujeito aos impositivos que lhe eram apresentados, fazendo que o amor fosse retirado do cardápio existencial.
Tal sentimento contribui para a análise do proble ma da sobrevivência, que é o mais importante, ainda não solucionado no inconsciente.
Eis porque é necessário liberar esses conflitos per turbadores, reprimidos, para que a criança inocente, pura, no sentido psicológico, bem se depreende, volte a viver integralmente.
Inicia-se, então, o maravilhoso processo de tera pia para a busca da realização. Sob o controle do tera peuta, esse direcionamento se orienta para a criativi dade, através da qual o paciente expressa um tipo de sentimento mas vive noutra situação. Essas emoções antagônicas devem ser trabalhadas pelo técnico, para depois serem vividas pelo indivíduo, que passa a per mitir que tudo aconteça naturalmente sem novas pres sões, nem castrações, nem dissimulações. Passa a eli minar a raiva reprimida, que é direcionada contra ob jetos mortos, sem caráter destrutivo, a angústia pode expressar-se, porque sabe estar sob assistência e contar com alguém que ouve e entende o conflito.
Posteriormente, o paciente se transforma no seu próprio terapeuta, no dia-a-dia, por ser quem controlará os sentimentos desordenados e mediante a criativi dade, começa a substituir o que sente no momento pelo que gostaria de conquistar, transferindo-se de patamar mental-emocional até alcançar a realização pessoal.
Nesse processo, surgem a liberação das tensões musculares, a identificação com o corpo no qual se movimenta e que passa a exercer conscientemente uma função de grande importância no seu comportamento, movendo-se de forma adequada.
A seguir, identifica a necessidade de experimentar prazeres, sem a consciência de culpa que as religiões ortodoxas castradoras lhe impuseram, transferindo-se das províncias da dor - como necessidade de sublima ção - para o prazer agradável, renovador, que não sub juga nem produz ansiedade. O simples fato de reco nhecer a necessidade que tem de experimentar o pra zer sem culpa, auxilia-o no amor ao corpo, na movi mentação dos músculos, eliminando as tensões físicas, derivadas daqueloutras de natureza emocional, assim aprendendo a viver integralmente, a conquistar a reali zação pessoal.
É indispensável também aceitar-se, compreender que os seus sentimentos são resultado das aquisições intelecto-morais do processo evolutivo no qual se en contra situado. Sem a perfeita compreensão-aceitação dos próprios sentimentos, é muito difícil, senão impro vável, a conquista da realização. Naturalmente terá que se empenhar para superar os sentimentos depressivos, excessivamente emotivos e perturbadores ou indiferen tes e frios, de forma que a valorização de si mesmo faça parte do seu esquema de crescimento interior, o que lhe facultará alcançar as metas estabelecidas.
Por outro lado, a identificação da própria fragilidade leva-o a uma atitude de humildade perante a vida e a si mesmo, porque percebe que o ser psicológico está profundamente vinculado ao fisiológico e vice-versa. Misturam-se a funções em determinado momento de consciência, quando percebe que algumas tensões mus culares e diversas dores físicas são conseqüência da quelas de natureza psicológica, ou por sua vez, estas últimas têm muito a ver com a couraça que restringe os movimentos e os entorpece.
De fundamental importância também a constata ção e a aceitação da necessidade da humildade, que o ajuda a descobrir-se sem qualquer presunção nem medo dos desafios, enfrentando os fatores existenciais com naturalidade e autoconfiança, não extrapolando o pró prio valor nem o subestimando. Essa humildade dar-lhe-á forças para ampliar o quadro de relacionamento interpessoal, de auxiliar na fraternidade, percebendo que a sua individualidade não pode viver plena sem a comunidade de que faz parte e deve trabalhá-la para auxiliá-la no seu progresso.
Com a humildade, o indivíduo descobre-se crian ça, e essa verificação representa conquista de maturi dade psicológica, que lhe faculta liberar esses sentimen tos pertencentes ao período mágico da infância.
Jesus, na sua condição de Psicoterapeuta por exce lência, demonstrou que era necessário volver a essa fase de pureza, de dependência, no bom sentido, de humil dade, quando enunciou, peremptório: ... Se não vos fi zerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Quem, pois, se tomar humilde como uma criança, esse será maior no reino dos céus. (*)
O enunciado, do ponto de vista psicológico, apela para a auto-realização, a penetração no reino dos céus da consciência reta e sem mácula, assinalada pelos ide ais de dignificação humana.
A criança é curiosa, espontânea, alegre, sem aridez, rica de esperanças, motivadora, razão de outras vidas que nas suas existências se enriquecem e encontram sentido para viver.
A busca da realização conduz o indivíduo ao cres cimento moral e espiritual sem culpa ante as imposi ções da organização fisiológica, que lhe propõe o pra zer para a própria sobrevivência e faz parte ativa da realidade social que deve constituir motivo de estímu lo para a vitória sobre o egoísmo e as paixões perturba doras.

(*) Mateus 18: 3 e 4 - Nota da Autora espiritual.

Joanna De Angelis / Divaldo Pereira Franco

Um comentário:

dedalo disse...

Muito bom mas dificil de ler e entender tudo isso.
Joana e por demais inteligente pra minha cabeça.
Acho melhor eu ler mais,vejo que quanto mais acho que sei de um assunto vejo que não sei nada.