Mensagem

"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."

Militão Pacheco

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

NOSTALGIA E DEPRESSÃO

As síndromes de infelicidade cultivada tornam-se estados patológicos mais profundos de nostalgia, que induzem à depressão.

O ser humano tem necessidade de auto-expressão, e isso somente é possível quando se sente livre.

Vitimado pela insegurança e pelo arrependimen­to, torna-se joguete da nostalgia e da depressão, per­dendo a liberdade de movimentos, de ação e de as­piração, face ao estado sombrio em que se hominiza.

A nostalgia reflete evocações inconscientes, que parecem haver sido ricas de momentos felizes,
que não mais se experimentam. Pode proceder de exis­tências transatas do Espírito, que ora as recapitula nos recônditos profundos do ser, lamentando, sem dar-se conta, não mais as fruir, ou de ocorrências da atual.

Toda perda de bens e de dádivas de prazer, de júbilos, que já não retornam, produzem estados nos­tálgicos. Não obstante, essa apresentação inicial é saudável, porque expressa equilíbrio, oscilar das emoções dentro de parâmetros perfeitamente natu­rais. Quando porém, se incorpora ao dia-a-dia, ge­rando tristeza e pessimismo, torna-se distúrbio que se agrava na razão direta em que reincide no com­portamento emocional.

A depressão é sempre uma forma patológica do estado nostálgico.

Esse deperecimento emocional, faz-se também corporal, já que se entrelaçam os fenômenos físicos e psicológicos.

A depressão é acompanhada, quase sempre, da perda da fé em si mesmo, nas demais pessoas e em Deus... Os postulados religiosos não conseguem per­manecer gerando equilíbrio, porque se esfacelam ante as reações aflitivas do organismo físico. Não se acre­ditar capaz de reagir ao estado crepuscular, caracte­riza a gravidade do transtorno emocional.

Tenha-se em mente um instrumento qualquer. Quando harmonizado, com as peças ajustadas, pro­duz, sendo utilizado com precisão na função que lhe diz respeito. Quando apresenta qualquer irregulari­dade mecânica, perde a qualidade operacional. Se a deficiência é grave, apresentando-se em alguma peça relevante, para nada mais serve.

Do mesmo modo, a depressão tem a sua reper­cussão orgânica ou vice-versa. Um equipamento de­sorganizado não pode produzir como seria de dese­jar. Assim, o corpo em desajuste leva a estados emo­cionais irregulares, tanto quanto esses produzem sen­sações e enarmonias perturbadoras na conduta psi­cológica.

No seu início, a depressão se apresenta como desinteresse pelas coisas e pessoas que antes tinham sentido existencial, atividades que estimulavam àluta, realizações que eram motivadoras para o sen­tido da vida.

À medida que se agrava, a alienação faz que o paciente se encontre em um lugar onde não está a sua realidade. Poderá deter-se em qualquer situação sem que participe da ocorrência, olhar distante e a mente sem ação, fixada na própria compaixão, na descrença da recuperação da saúde.

Normalmente, porém, a grande maioria de depressivos pode con­servar a rotina da vida, embora sob expressivo es­forço, acreditando-se incapaz de resistir à situação vexatória, desagradável, por muito tempo.

Num estado saudável, o indivíduo sente-se bem, experimentando também dor, tristeza, nostalgia, an­siedade, já que esse oscilar da normalidade é carac­terística dela mesma. Todavia, quando tais ocorrên­cias produzem infelicidade, apresentando-se como
verdadeiras desgraças, eis que a depressão se está fixando, tomando corpo lentamente, em forma de reação ao mundo e a todos os seus elementos.

A doença emocional, desse modo, apresenta-se em ambos os níveis da personalidade humana: cor­po e mente.

O som provém do instrumento. O que ao segun­do afeta, reflete-se no primeiro, na sua qualidade de exteriorização.

Idéias demoradamente recalcadas, que se negam a externar-se - tristezas, incertezas, medos, ciúmes, ansiedades contribuem para estados nostálgicos e depressões, que somente podem ser resolvidos, à me­dida que sejam liberados, deixando a área psicológi­ca em que se refugiam e libertando-a da carga emo­cional perturbadora.

Toda castração, toda repressão produz efeitos de­vastadores no comportamento emocional, dando campo à instalação de desordens da personalidade, dentre as quais se destaca a depressão.

É imprescindível, portanto, que o paciente en­tre em contato com o seu conflito, que o libere, desse modo superando o estado depressivo.

Noutras vezes, a perda dos sentimentos, a fuga para uma aparência indiferente diante das desgra­ças próprias ou alheias, um falso estoicismo contri­buem para que o fechar-se em si mesmo, se transfor­me em um permanente estado de depressão, por negar-se a amar, embora reclamando da falta de amor dos outros.

Diante de alguém que realmente se interesse pelo seu problema, o paciente pode experimentar uma explosão de lágrimas, todavia, se não estiver inte
ressado profundamente em desembaraçar-se da cou­raça retentiva, fechando-se outra vez para prosse­guir na atitude estóica em que se apraz, negando o mundo e as ocorrências desagradáveis, permanecerá ilhado no transtorno depressivo.

Nem sempre a depressão se expressará de for­ma autodestrutiva, mas com estado de coração pe­sado ou preso, disfarçando o esforço que se faz para a rotina cotidiana, ante as correntes que prostram no leito e ali retêm.

Para que se logre prosseguir, é comum ao paci­ente a adoção de uma atitude de rigidez, de deter­minação e desinteresse pela sua vida interna, afive­lando uma máscara ao rosto, que se apresenta pati­bular, e podem ser percebidas no corpo essas deci­sões em forma de rigidez, falta de movimentos har­mônicos...

Ainda podemos relacionar como psicogênese de alguns estados depressivos com impulsos suicidas, a conclusão a que o indivíduo chega, considerando-se um fracasso na sua condição, masculina ou femini­na, determinando-se por não continuar a existência. A situação se torna mais grave, quando se acerca de uma idade especial, 35 ou 40 anos, um pouco mais, um pouco menos, e lhe parece que
não conseguiu o que anelava, não se havendo realizado em tal ou qual área, embora noutras se encontre muito bem. Essa reflexão autopunitiva dá gênese a estado de­pressivo com indução ao suicídio.

Esse sentimento de fracasso, de impossibilida­de de êxito pode, também, originar-se em alguma agressão ou rejeição na infância, por parte do pai ou da mãe, criando uma negação pelo corpo ou por si mesmo, e, quando de causa sexual, perturbando completamente o amadurecimento e a expressão da libido.

Nesse capítulo, anotamos a forte incidência de fenômenos obsessivos, que podem desencadear o processo depressivo, abrindo espaço para o suicídio, ou se fixando, a partir do transtorno psicótiço, dire­cionando o paciente para a etapa trágica da autodes­truição.

Seja, porém, qual for a gênese desses distúrbi­os, é de relevante importância para o enfermo con­siderar que não é doente, mas que se encontra em fase de doença, trabalhando-se sem autocomisera­ção, nem autopunição para reencontrar os objetivos da existência. Sem o esforço pessoal, mui dificilmente será encontrada uma fórmula ideal para o reequi­líbrio, mesmo que sob a terapia de neurolépticos.

O encontro com a consciência, através de avali­ação das possibilidades que se desenham para o ser, no seu processo evolutivo, tem valor primacial, por­que liberta-o da fixação da idéia depressiva, da au­tocompaixão, facultando campo para a renovação mental e a ação construtora.

Sem dúvida, uma bem orientada disciplina de movimentos corporais, revitalizando os anéis e pro­porcionando estímulos físicos, contribui de forma valiosa para a libertação dos miasmas que intoxicam os centros de força.

Naturalmente, quando o processo se instala -nostalgia que conduz à depressão - a terapia bioe­nergética (Reich, como também a espírita), a logote­rapia (Viktor Frankl), ou conforme se apresentem as síndromes, o concurso do psicoterapeuta especializado, bem como de um grupo de ajuda, se fazem in­dispensáveis.

A eleição do recurso terapêutico deve ser feita pelo paciente, se dispuser da necessária lucidez para tanto, ou a dos familiares, com melhor juízo, a fim de evitar danos compreensíveis, os quais, ocorren­do, geram mais complexidades e dificuldades de re­cuperação.

Seja, no entanto, qual for a problemática nessa área, a criação de uma psicosfera saudável em torno do paciente, a mudança de fatores psicossociais no lar e mesmo no ambiente de trabalho constituem va­liosos recursos para a reconquista da saúde mental e emocional.

O homem é a medida dos seus esforços e lutas interiores para o autocrescimento, para a aquisição das paisagens emocionais.


Joana de Ângelis - Psicografado por Divaldo franco

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