Mensagem

"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."

Militão Pacheco

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Mais sobre Caridade

Mencionada por S. Paulo, junto com a fé e a esperança, e chamada por ele a maior daquelas três. No Capítulo XIII da epístola I aos Coríntios, Paulo expôs a nova concepção cristã da caridade (agape). A posterior especulação teológica precisou o sentido do termo, designando a fé, a esperança e a caridade como virtudes teologais (teológicas), das quais a fé é a primeira como origem das outras, e a caridade é a primeira quanto à perfeição. A caridade, neste sentido teológico, é um princípio infuso por Deus, do qual emanam os atos daquela virtude. Em vista desse carácter infuso, a caridade cristã se distingue, fundamentalmente, da filantropia. A caridade é, primariamente, o amor de Deus, e, sem mudar a direção, secundariamente, o amor ao próximo e a si mesmo, considerando os homens nos laços sobrenaturais e naturais, que os unem a Deus, e na perspectiva, que vai além da vida terrestre.

Não obstante, a caridade tem em comum com a filantropia a preocupação pelo bem estar dos outros e daí resulta a acepção mais corrente do termo, que desconhecendo as perspectivas teológicas, identifica-o simplesmente com beneficência. Ainda assim, a caridade, concebida como beneficência, fica distinguida da virtude antiga da liberalidade, enquanto a caridade se deixa mover em virtude das relações existentes entre os homens, ao passo que a liberalidade é antes uma perfeição do indivíduo, e além disso não exclui segundas intenções egoístas.

A «bondade», por outro lado, é livre dessa suspeita e aproxima-se da caridade, porém muitas vezes designamos como bondade também um comportamento altruísta imprudente ou inativo.

Tanto na moral teológica, como na ética geral, é comum contrapor a caridade à justiça, como princípios diferentes do comportamento humano, conforme prevalece em um indivíduo a inclinação para o ideal de justiça ou para o de caridade. Assim podemos executar um e o mesmo ato no intuito de cumprir um dever sugerido pelo sentimento de justiça ou para atender a uma necessidade do próximo, que como caridade misericordiosa, sentimos como exigência nossa, cia nossa afetividade. O último procedimento se tem geralmente em conta de ser o mais perfeito.

Mas, convém aplicar aqui dois pontos de vista diferentes, um da ética individual, e um sociológico, ante os quais, a justiça e a caridade aparecem em perspectivas diferentes. A compenetração mútua dos dois ideais é aludida pela fórmula encontrada em Leibniz: "A justiça é a caridade do sábio".

Caridade

Livro dos Espíritos
Caridade e Amor ao Próximo


Perguntas 886 a 889

886 – Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, tal como Jesus a entendia?

-- Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas.

Nota:
O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos que nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: “ Amai-vos uns aos outros como irmãos”.

A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola; abrange todas as relações com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais ou nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque nós mesmos precisamos de indulgência; ela nos proíbe humilhar os desafortunados, ao contrário do que comumente fazemos. Quando uma pessoa rica se apresenta, todas as atenções e deferências se voltam pra ela; se for pobre, é como se não nos devêssemos incomodar com ela. Entretanto, quanto mais lastimável for a sua posição, maior deve ser o cuidado em não lhe aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuído a distância que os separa.

887 – Jesus também disse: “Amai até mesmo vossos inimigos”. Ora, o amor aos inimigos não será contrário às nossas tendências naturais e a inimizade não provirá da falta de simpatia entre os Espíritos?

-- Sem dúvida, não se pode ter pelos inimigos um amor terno e apaixonado. Não foi isso que Jesus quis dizer. Amar os inimigos é perdoar-lhes e lhes retribuir o mal com o bem. Assim procedendo, tornamo-nos superiores a eles, ao passo que, pela vingança, nós nos colocamos abaixo deles.

888 – Que se deve pensar da esmola?

-- O homem reduzido a pedir esmola se degrada moral e fisicamente; embrutece-se. Uma sociedade que se baseia na Lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que ele seja humilhado. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns.

888-a – Então, reprovais a esmola?

-- Não; não é a esmola que é reprovável, mas a maneira pela qual habitualmente é dada. O homem de bem, que compreende a caridade segundo Jesus, vai ao encontro do infeliz, sem esperar que este lhe estenda a mão.

A verdadeira caridade é sempre boa e benevolente; está tanto na maneira por que é dada, quanto no ato em si. Um serviço prestado com delicadeza tem duplo valor. Se o for com altivez, a necessidade pode obrigar quem o recebe a aceitá-lo, mas o seu coração pouco se comoverá.

Lembrai-vos também de que a ostentação aos olhos de Deus, tira o mérito do benefício. Disse Jesus: “Que a vossa mão esquerda ignore o que der a vossa mão direita”. Com isso, Ele vos ensina a não macular a caridade com o orgulho.

É preciso distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. Nem sempre o mais necessitado é o que pede. O temor de uma humilhação detém o verdadeiro pobre que, muitas vezes, sofre sem se queixar. É a esse que o homem verdadeiramente humano sabe ir procurar, sem ostentação.

“Amai-vos uns aos outros”, eis toda a lei, lei divina, mediante a qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados. A atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.

Não olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja o grau de seu adiantamento, sua situação como reencarnado, ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual tem que cumprir esses mesmos deveres. Sede, pois, caridosos, não somente dessa caridade que vos faz tirar do bolso o óbolo que dais friamente a quem vos ousa pedi-lo, mas da que vos leve ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes com os defeitos dos vossos semelhantes. Em vez de desprezardes os ignorantes e os viciados, instruí-os e moralizai-os. Sede brandos e benevolentes para com tudo o que vos seja inferior, mesmo para com os seres mais ínfimos da Criação e tereis obedecido à Lei de Deus. (São Vicente de Paulo)

889 – Não haverá homens reduzidos à mendicância por sua própria culpa?

-- Sem dúvida; mas, se uma boa educação moral lhes tivesse ensinado a praticar a Lei de Deus, não teriam caído nos excessos que ocasionaram a sua perdição. É disso, sobretudo, que depende a melhoria do vosso globo.

Justiça

O Livro dos Espíritos
Livro III – Leis Morais
Cap. XI - Lei de Justiça, Amor e Caridade


Justiça e Direitos Naturais

Perguntas 873 a 879

873 – O sentimento da justiça está na Natureza ou é resultado de idéias adquiridas?

-- Está de tal modo na Natureza que vos revoltais à simples idéia de uma injustiça. Sem dúvida, o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá; Deus o pôs no coração do homem. Eis por que encontrais frequentemente, em homens simples e incultos, noções mais exatas da justiça do que entre pessoas de muito saber.

874 – Sendo a justiça uma Lei da Natureza, como se explica que os homens a entendam de modos tão diferentes, fazendo que uns considerem justo o que a outros parece injusto?

-- É porque em geral se misturam paixões que alteram esse sentimento, como acontece com a maior parte dos outros sentimentos naturais, fazendo que os homens vejam as coisas sob um falso ponto de vista.

875 – Como se pode definir a justiça?

-- A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um.

875-a – O que é que determina esses direitos?

-- Duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens elaborado leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, elas estabeleceram direitos que variam conforme o progresso das luzes. Vede se as vossas leis de hoje, embora imperfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Entretanto, esses direitos antiquados, que agora vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. Nem sempre, portanto, o direito instituído pelos homens é conforme à justiça. Aliás, ele regula apenas algumas relações sociais, enquanto na vida privada há uma infinidade de atos que competem exclusivamente ao tribunal da consciência.

876 – Com exceção do direito consagrado pela lei humana, qual a base da justiça, segundo a lei natural?

-- O Cristo vos disse: “Desejai para os outros o que quereríeis para vós mesmos”. Deus imprimiu no coração do homem a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um veja respeitados os seus direitos. Na incerteza de como deve proceder em relação ao semelhante, em dada circunstância, o homem deve perguntar a si mesmo como gostaria que os outros procedessem com ele, em idêntica circunstância. Deus não lhe podia ter dado guia mais seguro do que a própria consciência.

Nota:
Realmente, o critério da verdadeira justiça está em cada um querer pra os outros aquilo que desejaria para si mesmo, e não em querer para si o que desejaria para os outros o que absolutamente não é a mesma coisa. Como não é natural que alguém deseje o mal para si, se cada um tomar por modelo ou ponto de partida o seu desejo pessoal, por certo ninguém jamais desejará ao próximo senão o bem. Em todos os tempos e sob todas as crenças, o homem sempre se esforçou para que prevalecesse o seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está no fato de haver tomado o direito pessoal por base do direito do próximo.

877 – A necessidade que tem o homem de viver em sociedade acarreta para ele obrigações particulares?

-- Sim, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos de seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos sempre agirá com justiça. Em vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias, e é essa a causa da perturbação e da confusão da vossa sociedade. A vida social dá direitos e impõe deveres recíprocos.

878 – Podendo o homem iludir-se quanto à extensão do seu direito, o que deve fazer para conhecer o limite desse direito?

-- O limite do direito que, em relação a si mesmo, reconhecer ao seu semelhante, em idênticas circunstâncias e reciprocamente.

878-a – Mas, se cada um atribuir a si mesmo os direitos de seu semelhante, que virá a ser da subordinação aos seus superiores? Não seria a anarquia de todos os poderes?

-- Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde o menor até o maior. Deus não fez um de limo mais puro do que outros, e todos são iguais perante Ele. Esses direitos são eternos. Os que o homem estabeleceu perecem com as suas instituições. Além disso, cada um sente bem a sua força ou a sua fraqueza e saberá sempre ter uma certa deferência para com os que o mereçam por suas virtudes e sabedoria. É importante destacar isto, para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres, a fim de merecer essas deferências. A subordinação não estará comprometida, quando a autoridade for conferida à sabedoria.

879 – Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?

-- O do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça.

Voluntariado Espírita

por Vera Meira Bestene

Cada vez mais estamos conscientes que estudar é preciso, trabalhar é necessário e amar ao próximo o menor caminho para chegar à Deus.

O trabalho, a consciência do trabalho, da atividade constante em prol de nós mesmo e de outrem, é necessidade evolutiva e oferecida a todos em igualdade de condições, depende de nós, diante das responsabilidades assumidas, colocarmos a prova as nossas atitudes.

Na conceituação genérica trabalho é a “ocupação em alguma obra ou ministério; exercício material ou intelectual para fazer ou conseguir alguma coisa”

Nos mundos mais evoluídos e nos inferiores, a natureza do trabalho não é a mesma, pois que ela está diretamente ligada às necessidades de cada um, sendo a inatividade, a ociosidade, um verdadeiro suplício.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” Allan Kardec nos norteia o princípio da Lei do Trabalho através das máximas “ajuda-te que o céu te ajudará e, análoga a esta, “buscai e achareis”, pois que aí encontramos a verdadeira noção que instiga, incita o homem a trabalhar, fazer a sua parte, para que possa, assim ser ajudado por Deus.

Diz o Cap. XXV, item 3:

”Se Deus houvesse isentado o homem do trabalho do corpo, seus membros estariam atrofiados; se o houvesse isentado do trabalho da inteligência, seu espírito teria permanecido na infância, no estado de instinto animal; por isso, lhe fez do trabalho uma necessidade e lhe disse: Procura e achará, trabalha e produzirás; dessa maneira, serás o filho das tuas obras, delas terás o mérito e serás recompensado segundo o que tiveres feito.”

Na realidade não importa o esforço físico que cada qual tenha que desprender para atender as faixas menos favorecidas da cultura e do destaque social, pois que o trabalho dignifica quem o executa e é-lhe garantia de crescimento. Não se há de fazer comparações ou medições de quanto trabalho se tem de executar, o que importa é ir à luta, semear para poder frutificar.

Sendo a Lei do Trabalho uma lei natural, motivo porque é uma necessidade, engloba os trabalhos materiais, assim como toda ocupação útil. (O Livro dos Espíritos p. 675)

O trabalho está alicerçado em princípios morais, principalmente no amor, e, por isto mesmo, ao lado da oração, é um dos maiores antídotos contra o mal, pois que corrige imperfeições e disciplina a vontade. “A ociosidade é a casa do demônio” é a máxima popular que bem explica que quando nada se faz se faz muito mal, pois que aí estão o egoísmo, o pensamento deprimente, a negatividade e as tentações.

O trabalho, entretanto, longe de ser apenas aquele de ordem material, física, é também aquele que se desenvolve através de ações inteligentes, intelectuais, objetivando a cultura, a arte, o conhecimento, o desenvolvimento e a ciência.

O trabalho do homem objetiva a transformação para melhor. Isto na generalidade. Desdobra-se o arquiteto para produzir imóveis cada vez mais modernos e adequados à realidade de um local e época; o economista busca ajustar as riquezas sociais a fim de que haja sempre progresso financeiro. O carpinteiro trabalha em móveis de estrutura rígida que se lhe justifiquem a tarefa e estejam íntegros para o ambiente a que se propõem. O médico trabalha com afinco para salvar vidas e fazer a prevenção. O cientista submete-se a buscas longas, aparentemente intermináveis, com o fim de ampliar e melhorar as condições de vida do planeta e seus habitantes. Todos motivam-se por atividades instintivas de conservação da vida e de conhecimento social.

Esta é a ação natural e primeira do homem: produzir para suprir suas necessidades imediatas.

Buscando um pouco na história, vemos o homem se utilizando das reservas animais e vegetais. Com o decorrer dos tempos as reservas foram se rareando, As fontes naturais se exaurindo. No período da pedra lascada já jogou-se a buscar mais recursos, ampliando assim seu trabalho já com a ajuda de instrumentos rudes. Mais tarde lançou-se à agricultura e, da terra, passou a extrair os bens necessários a sua subsistência e também ao seu crescimento financeiro. Depois, domesticou animais e os rebanhos renderam-lhes atividades mais estáveis. Com o aparecimento de instrumentos mais aprimorados, do comércio crescente, do aparecimento e evolução da indústria, foram fomentados recursos novos e, paulatinamente, as dificuldades iniciais serviram de base ao equilíbrio social e, posteriormente, o trabalho remunerado, a divisão de classes decorrente do próprio trabalho.

Podemos ver que a própria evolução material do homem está ligada diretamente ao trabalho. Com os tempos e as reencarnações, as evoluções oriundas do trabalho intelectual, produzindo melhoramento da forma de produzir, pois que ao homem cabe a missão de trabalhar pela melhoria do planeta.

Assim, podemos dizer que o trabalho remunerado é a forma que o homem tem de modificar o meio que vive e produzir a melhoria do Planeta.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu cap. XVI, item 7, em uma simples leitura, podemos verificar a verdade das necessidades materiais, compreendendo também que “na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais. Sendo a riqueza o meio primordial de execução, sem ela não mais grandes trabalhos, nem atividades, nem estimulante, nem pesquisas. Com razão, pois, é a riqueza considerada elemento de progresso.”

Há, entretanto, uma outra forma de trabalho, este que não rende moeda, nem produz conforto maior, tampouco crescimento permanente da conjuntura econômica. Este é o trabalho-abnegação, do qual não produz troca ou remuneração mas que redunda em crescimento de si mesmo no sentido moral e espiritual. Modernamente a este trabalho dá-se o nome de TRABALHO VOLUNTÁRIO.

O primeiro caso, o trabalho gerando crescimento material e progresso social, se desenvolve uma melhora exterior da criatura, enquanto o segundo, o trabalho voluntariado, ascende no sentido vertical da vida e modifica, transforma o homem de dentro para fora, superando a si mesmo como instrumento da misericórdia divina.

Jesus é exemplo destes dois tipos de trabalho. Enquanto carpinteiro, dedicado, com José laborava. Ele, ativamente, mostrando a importância do trabalho, ensinando que o trabalho em atividade honrada é o dever primeiro para a manutenção do corpo e da vida terrena. Seguidamente a isto teve Jesus um ministério de amor, um verdadeiro trabalho de autodoação até o sacrifício da própria vida.

Seu exemplo infunde coragem estimula o trabalho-serviço, o trabalho-redenção, fraternal, procurando manter a sociedade unida, acalentando os menos favorecidos, dando conforto aos necessitados de toda ordem.

Podemos perceber, portanto, que o trabalho voluntariado é muito antigo, pois que foi inventado por Jesus Cristo, quando às margens da Galiléia chamou os pescadores Simão Pedro Barjonas e seu irmão André, João e seu irmão Tiago, os dois filhos de Zebedeu, para uma jornada que jamais terminaria. Trabalho voluntário e mais trabalho voluntário os esperava ao longo do tempo, das horas, dos dias, dos anos, dos séculos e milênios.

Aceitaram trabalhar de graça, e como lucraram!

Na Segunda Carta de Timóteo (2:6) Paulo adverte que o lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar os frutos.

Hão de se perguntar: Como gozar os frutos se não recebemos dinheiro pelo que produzimos?

Emmanuel, no livro Perante Jesus nos fala do trabalho voluntariado explicando–nos como nos chega a remuneração mais do que compensadora por trabalharmos pelo simples prazer de servir, desinteressadamente.

Quando o trabalho se transforma em prazer de servir surge o ponto mais importante da remuneração espiritual: Toda vez que a justiça divina nos procura no endereço exato para a execução da sentença que determinamos a nós próprios, segundo a lei de causa e efeito, se nos encontra a serviço do próximo, manda a justiça divina que seja suspensa a execução, por tempo indeterminado.

Assim, podemos entender que todo mal que cometemos estamos nos sentenciando de forma a constituir dívida correspondente a que estamos obrigados a pagar pela lei de causa e efeito. É dando que se recebe, nos ensinou Jesus. O que fazemos ao próximo volta com a mesma intensidade.

Sócrates já considerava que o bem e o mal nada mais eram que a sabedoria e a ignorância, pois que o ignorante concretiza o mal porque não sabe que mais tarde será obrigado a quita-lo, a ajustar contas. Mas, como dissemos, quando se nos encontramos a serviço do próximo, a Justiça Divina manda que o pagamento seja suspenso. Pedro, na sua Carta Universal (4.8) já profetisava: “Tende caridade para com os outros, porque a caridade cobrirá a multidão de pecados”.

A caridade e todo o bem que conseguirmos amealhar na vida presente, será descontado na dívida que contraímos no passado, seja nesta ou em existência anterior. No acerto de conta, quando forem colocar nossa conta na balança, certamente haverá a compensação de nossas ações caridosas e nossas dívidas diminuirão ou até desaparecerão, dependendo do crédito de amor que acumularmos.

O trabalho é alimento da alma e cumpre-nos observar que o trabalho desinteressado não é objeto de troca ou remuneração, de quaisquer espécies. Precisamos compreender que doar trabalho é doar amor, boa vontade, sem escolher a quem e muito menos julgando o merecimento deste ou daquele para quem está rendendo o trabalho.

As pessoas nem imaginam o bem que estão fazendo a si próprias quando se dedicam a realizar algum trabalho sem a respectiva recompensa financeira. O Voluntariado é hoje uma verdadeira explosão, uma vez que está transformando hábitos, sobretudo quando realizado por jovens. É uma característica comum aos jovens a vontade de ajudar, de ser útil, de diminuir a dor alheia, praticando assim a solidariedade. O incentivo cabe a nós, mais velhos, exerce-lo.

Querem eles oferecer um pouco do seu tempo, uma parcela apenas do fruto de sua profissão, um pedacinho de seu coração a instituições voltadas para causas nobres ou que cuidem de seres humanos com provas dolorosas. O voluntariado espírita é essencialmente um doador de seu próprio trabalho e a princípio poucos são os que percebem, mas são felizes porque têm algo para oferecer; sobra-lhes boa vontade e disposição.

As maravilhosas obras beneméritas e de caridade erguem-se no planeta, materializando pensamentos de bondade. Todos somos chamados a produzir obras de trabalho desinteressado, aquele que é abnegado e exige a doação plena.

Ao trabalho voluntariado todos fomos chamados, basta parar para pensar que esta é a mais pura verdade. Entretanto, aos que deixaram passar a oportunidade, conclamamos agora: Venha compor esta fileira. Deixe as desculpas do “não tenho tempo”, “meus filhos são pequenos”, “meu marido é sistemático”, “quando aposentar vou ajudar vocês”, “minha família necessita de mim”. Estas são apenas umas das muitas desculpas usuais e corriqueiras daqueles que fogem, adiam a tarefa do auxílio. É necessário se conscientizar da responsabilidade que temos em relação ao próximo. A firmeza de propósitos, o espírito de altruísmo precisam ser ativados. O maior beneficiado é sempre quem auxilia. Emmanuel, no Livro Pronto Socorro recomenda:

“Não te esqueças do tempo e auxilia agora”.

É tempo de agir, de aprender que o doar-se de forma absolutamente desinteressada, é semeadura de amor e libertação, pois que a justiça divina dá a cada um segundo o seu merecimento e o seguimento da máxima de Cristo “Ama o próximo como a ti mesmo” extirpando o egoísmo e a arbitrariedade que devem ser banidos o quanto antes de nosso comportamento. O trabalho é e será o único meio de evolução do ser encarnado ou desencarnado e, sem trabalho, não há progresso, sem trabalho voluntariado não há evolução espiritual e não há luz. A forma que cada um pode ser mais útil para o maior número de pessoas, é análise pessoal, mas nos cabe alertar a importância do auxílio, da cooperação de acordo com a capacidade e possibilidade de cada um, mas sempre há e haverá um trabalho, uma tarefa que diante da boa vontade e do amor, será sempre, simples, prazerosa e fácil.

Realiza o teu compromisso, por menos significante que te pareça, pois que esta será a base para grandes realizações futuras.

Hoje, tantos anos já passados, o trabalho tem leis que o regem para que a sociedade possa ser mais justa, devido a imperfeição natural dos homens que neste Planeta habitam. Cumpre às Casas Espíritas o cuidado de fazer o registro de seu corpo de voluntariado, cumprindo assim as necessidades das leis humanas.

Os valores de fé, de amor e de persistência, nos levam à reflexão de que a caridade deve substituir a filantropia, sendo trabalho útil, ativo, passando a existir nos moldes dos mundos superiores, onde o trabalho em lugar de ser impositivo, é conquista do homem livre que serve sempre, sem cessar, buscando sempre assistir mas promover o ser humano, buscando ensinar a pescar, não apenas dando o peixe, como nos ensinou .

“Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” Pedro 1: 4.10 .

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Escolhas

Há situações na vida nas quais não temos escolha, pois parece que é a vida que efetivamente conduz por onde seguir. Algumas vezes, entretanto, nós podemos fazer a devida escolha por conta de oportunidades que a vida nos oferece. Nessas ocasiões temos de exercer o livre arbítrio com o máximo de bom senso para que façamos a boa semeadura, afinal, certamente, iremos ter de colher mais adiante queiramos ou não.
Uma situação das mais comuns para enfrentarmos e exercermos a nossa inteligência é quando nos sensibilizamos com a dor e/ou o sofrimento de alguém. Evidentemente, temos nossa sensibilidade e certamente a dor alheia nos perturba ou, mesmo, nos desestabiliza, pois há um processo de transferência de emoções e sensações que nos faz “sentir na pele” o que alguém possa estar sentindo em determinada oportunidade. Nessas ocasiões temos impulsos que podem nos custar relativamente caro, ou mesmo muito caro.
A essência humana é aquela da cooperação, da colaboração, da solidariedade, quando não transitamos pelos estados patológicos da alma. Assim, ao percebermos que alguém querido está com dor, temos impulsos arrebatadores para ajudar de alguma maneira. Isso pode ser maravilhoso, mas pode, também, ser desastroso.
Todas as vezes que venhamos a ter pessoas mais próximas que estejam passando por uma prova ou por uma expiação temos o direito de ajudar, de amparar; mas exceto em circunstâncias nas quais temos o dever de tomar o máximo cuidado para não transferirmos as provas ou expiações desta pessoa para nós. Se nós temos a oportunidade de amparar é para que possamos exercitar a caridade; não podemos deixar de praticar a auto-caridade, isto é, o respeito aos próprios limites na vida.
Ajudar alguém não tem sentido absoluto se prejudicamos a nós mesmos. Os missionários vêm à Terra com essa finalidade, mas são adequadamente preparados para isso. Sabem o que têm, o que querem, do que precisam e onde querem chegar. Mas eles são poucos.
O ser humano comum transita na Terra para aprender com as suas próprias dores e quiçá observando construtivamente as dores alheias. Por isso é primordial considerar se a pessoa que sofre deve ou não passar por um desvio de rota, isto é, se podemos ou não tentar tirá-la de suas provas. Se nós podemos criar uma ilusão temporária para ela ou se podemos “carregar” o seu carma. Vou dar um exemplo deste segundo caso para ilustrar. Vamos a um orfanato e ficamos muito sensibilizados com as crianças que já sofrem desde a mais tenra idade. Isso dói em nós, – processo de transferência – pois imediatamente nos colocamos em lugar delas. Isso pode ser bom, se soubermos atuar sobre essa situação. Se não soubermos atuar, podemos cometer erros sérios. Por exemplo, se tivermos impulsos de levar uma dessas crianças para o nosso lar, num final de semana, numa festividade, e em seguida, devolvermos a criança para o ambiente do qual a “resgatamos” o que estamos fazendo? Caridade ou crueldade? Sim, pois a criança órfã vai para o nosso lar e volta, depois para o orfanato. Vai para a ilusão e tem uma ruptura traumática com a realidade. Não estamos praticando a caridade. Estamos gerando ilusão e dor por conta da nossa ingenuidade.
A criança pode, sim, receber visita e presentes. Pode ouvir música e sonhar condições melhores de higiene e alimentação, mas no lugar ao qual ela precisa aguardar uma adoção definitiva. Não um lar “transitório” e fugaz, mas um lar definitivo, onde, aí os seus futuros tutores irão adotá-la, praticar a caridade. Estamos fazendo o possível para ajudar. Para isso precisamos analisar à Luz do Evangelho, como proceder.
Não podemos assumir as provas de ninguém e a melhor maneira de aliviar as dores é levar o carinho, a alegria e não criar ilusões.

Augusto Militão Pacheco.
psicografia recebida no NEPT em 25 de fevereiro de 2011

Para ilustrar a idéia de envolvimento:

Em seu benefício

Não se agaste com o ignorante; certamente, não dispõe ele das oportunidades que iluminaram seu caminho.

Evite aborrecimento com as pessoas fanatizadas; permanecem no cárcere do exclusivismo e merecem compaixão como qualquer prisioneiro.

Não se perturbe com o malcriado; o irmão intratável tem, na maioria das vezes, o fígado estragado e os nervos doentes.

Ampare o companheiro inseguro; talvez não possua o necessário, quando você detém excessos.

Não se zangue com o ingrato; provavelmente, é desorientado ou inexperiente.

Ajude ao que erra; seus pés pisam o mesmo chão, e, se você tem possibilidades de corrigir, não tem o direito de censurar.

Desculpe o desertor; ele é fraco e mais tarde voltará a lição.

Auxilie o doente; agradeça ao divino poder o equilíbrio que você está conservando.

Esqueça o acusador; ele não conhece o seu caso desde o princípio.

Perdoe ao mau; a vida se encarregará dele.

* * *

André Luiz

(Mensagem retirada do livro "Agenda Cristã" psicografia de Francisco Cândido Xavier)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Erre Auxiliando

Auxilie a todos para o bem.

Auxilie sem condições.

Ainda mesmo por despeito, auxilie sem descansar, na certeza de que, assim, muitas vezes, poderá você conquistar a cooperação dos próprios adversários.

Ainda mesmo por inveja, auxilie infatigavelmente, porque, desse modo, acabará você assimilando as qualidades nobres daqueles que respiram em Plano Superior.

Ainda mesmo por desfastio, auxilie espontaneamente aos que lhe cruzam a estrada, porque, dessa forma, livrar-se-á você dos pesadelos da hora inútil, surpreendendo, por fim, a bênção do trabalho e o templo da alegria.

Ainda mesmo por ostentação, auxilie a quem passa sob o jugo da necessidade e da dor, porque, nessa diretriz, atingirá você o grande entendimento, descobrindo as riquezas ocultas do amor e da humildade.

Ainda mesmo sob a pressão de grande constrangimento, auxilie sem repouso, porque, na tarefa do auxílio, receberá a colaboração natural dos outros, capaz de solver-lhe os problemas e extinguir-lhe as inibicões.

Ainda mesmo sob o império da aversão, auxilie sempre, porque o serviço ao próximo dissolver-lhe-á todas as sombras, na generosa luz da compreensão e da simpatia.

Erre auxiliando.

Ainda mesmo nos espinheiros da mágoa ou da ilusão, auxilie sem reclamar o auxílio de outrem, servindo sem amargura e sem paga, porque os erros, filhos do sincero desejo de auxiliar, são também caminhos abençoados que, embora obscuros e pedregosos, nos conduzem o espírito às alegrias do Eterno Bem.

* * *


Francisco Cândido Xavier, Ditado pelo Espírito André Luiz.
Da obra: Apostilas da Vida.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

EM BUSCA DE QUE?

Nós encontramos em Salmos, no capitulo cento e vinte e seis, terceiro versículo, uma observação muito interessante que diz assim:
“E o Senhor muito tem feito por nós. E por isso nós nos alegramos”.

É muito curioso observar a natureza humana por conta das aspirações que cada criatura tem com relação à vida.

Muitas vezes, a pessoa sonha com um roseiral que se encontra muito além do horizonte e esquece de observar as rosas que nascem no jardim da própria casa.

Muitas vezes vemos pessoas muito mutiladas; dos olhos, das mãos, das pernas, de órgãos importantes, sequeladas de acidente, que passaram por cirurgias cardíacas, pacientes que estão superando cânceres difíceis, todos dispostos a ajudar, a estender a mão, a amparar outros, sempre de boa vontade com o sorriso nos lábios preparados para servir e para ser úteis.

Enquanto isso, pessoas íntegras, organicamente, padecem da insuficiência da capacidade emocional, julgando-se vitimas do destino, da vida, totalmente integradas com processos mentais dos mais difíceis, incapazes de estender a mão a quem quer que seja.

De uma certa forma, num julgamento superficial as pessoas fazem analises equivocadas e julgam mal essas pessoas, por se esquecerem que estas pessoas, também são mutiladas.

São mutiladas da vontade.

São mutiladas da alegria de viver.

São mutiladas da gratidão pela vida.

São mutiladas da realidade do existir.

Por isso, arrumam muletas.

Muletas de auto piedade e se sentem incapacitadas, impossibilitadas, retidas na cadeira, no leito, na escuridão e na sombra da própria insatisfação com a vida.

É de se esperar que esses processos sejam superados, mas não podemos esquecer que estes processos mentais e espirituais, são muito complexos e transcendem uma encarnação.

Passam de uma encarnação para outra, algumas vezes, por várias encarnações, gerando processos dificílimos de serem superados.

Para isso há um recurso muito importante do qual a criatura humana precisa lançar mão. A vontade.

Se não tiver vontade, não inicia o processo que poderá demorar anos, décadas ou vidas, mas que terá fim por conta da sua força de vontade.

E quanto maior for a força de vontade, quanto maior for o esforço, a dedicação, a disciplina, o desejo sincero de se curar, mais rapidamente, a criatura humana irá se curar, sempre com o amparo, a assistência e os recursos amorosos do Cristo de Deus, Jesus.

Que Deus nos abençoe hoje e sempre.


Psicofonia recebida no Nept em 16/02/2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

FLORES SEM HASTE

Nós temos na colônia Maria de Nazaré, uma freirinha cuja única alegria na Terra foi cuidar de um pequeno jardim, no convento das Carmelitas em que ela morava. Ela não se tornou freira porque quis, a mãe dela ficou muito doente durante o período de gestação e prometeu que, se ela vivesse e se a filha nascesse com saúde, seria freira.

Quando a vida começava a explodir em beleza e sonhos, aos quinze anos, fizeram um enxoval e entregaram-na como esposa do Cristo. Ela chorou sozinha durante muito tempo, depois se conformou e passou a dedicar às flores um pouco do seu amor. Ela tinha que orar enquanto fazia pão, tinha que orar enquanto lavava o pátio, tinha que orar enquanto fazia as refeições, tinha que orar o dia inteiro. Não aquela oração que saía do coração, mas aquela oração automática de quem reza a Ave Maria, a Salve Rainha e o Pai Nosso. Ela desencarnou e foi ser voluntária na Colônia Servos Maria de Nazaré. Ela se afeiçoou muito a uma madre e essa madre era uma ex-interna da colônia, então, ela resolveu ir para essa colônia.

Existe na colônia Maria de Nazaré o jardim das flores sem haste. As flores são cuidadas por ela, pela nossa pequenina freira. Essa irmãzinha faz flores belíssimas! Um dia, eu cheguei e perguntei:

-Por que, irmãzinha, você faz as flores sem haste? No Nosso Lar, na colônia Divino Amigo, na colônia Missionários da Luz, em todos os abrigos, temos jardins belíssimos, todos com hastes, com folhagens... Por que um jardim com flores sem hastes?

Ela me disse:

-Porque é muito difícil guardarmos a essência da fé e do amor com raízes plantadas profundamente no chão. Achavam, na Terra, que eu era santificada pela minha reclusão involuntária e a única alegria que eu tinha eram as flores, que eu justificava que eram cuidadas para serem colocadas aos pés da Virgem Santíssima. Mas, quando eu oferecia as flores para Virgem Santíssima, eu não oferecia as raízes, eu procurava cortar bem rente e oferecer só as flores. Hoje, como eu posso criar flores fluídicas, eu quero que todas as criaturas aprendam a caminhar na Terra sem deixar muitas raízes, porque aqui, na colônia onde sirvo, no hospital Maria de Nazaré, as pessoas que estão abrigadas plantaram muito mais raízes do que flores. São bem poucos aqueles que souberam valorizar as flores. As flores abrigam, às vezes, espinhos venenosos, raízes tóxicas, mas só as pétalas são como a face de Maria: suave, perfumada e doce. Plantaram a haste da minha vida no solo de uma igreja fria, onde meu único consolo era embelezar os pés de Maria, vendo meus colibris, meus beija-flores... Até as migalhas do pão me eram tão difíceis de oferecer aos passarinhos, mesmo recorrendo a Francisco de Assis como exemplo para a minha atitude... Fui, uma vez, inclusive, punida, porque diziam que eu via na imagem de Francisco de Assis a imagem de um homem, quando, na verdade, eu estava buscando uma fuga para poder olhar as aves do céu, como direito que todas as criaturas têm e o próprio Cristo nos Ensinou: “olhai as aves do céus!” Mas, tudo o que eu dizia representava para mim mais punição... E quando Bezerra de Menezes me pergunta por que eu faço flores sem haste, eu respondo como respondi: não é muito mais bela uma flor boiando no infinito de Deus?

Eu segurei as mãos daquela trabalhadora, pedi licença e beijei-as. Benditas sejam as mãos que amam as flores, bendito seja aquele que tem olhos para ver as aves do céu, para ver os lírios do campo, sem falar no lodo que alimenta esses lírios, mas na beleza que neles resplandecem! Ela, realmente, levou para a colônia só as flores e deixou no chão da Terra as raízes...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Apresentações Espirituais

Uma entidade espiritual pode se apresentar das mais variadas formas para as pessoas, seja através da vidência ou mesmo, simplesmente, através da psicofonia, sempre na dependência das necessidades de quem as vê ou ouve.

Assim, o mesmo Espírito poderá se apresentar como um índio, na Umbanda ou como alguém comum entre os freqüentadores do Espiritismo e nem por isso deixará de ser franco ou estará mentindo.

São as necessidades das pessoas que ditam certas particularidades das manifestações, sendo que existe uma adequação delas às necessidades e limitações de quem as assiste.

Se à platéia é agradável um preto-velho, terá um. Se é mais agradável um "espírito de luz", também o terá.

Entretanto, Espíritos esclarecidos e com maior grau de evolução não têm necessidade de trabalhar "em acordo" com as circunstâncias, eles se manifestam até mesmo sem que os encarnados dêem conta, tamanha a simplicidade e naturalidade com a qual se fazem presentes.

psicografia recebida no NEPT em 09/02/2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Decisão e Vontade

Incerteza parece coisa de pouca monta, mas é assunto de importância fundamental no caminho de cada um.

*

As criaturas entram na instabilidade moral, habituam-se a ela, e passam ao domínio das forças negativas sem perceber.

Dizem-se confiantes pela manhã e acabam indecisas à noite.

Freqüentemente rogam em prece:

- Senhor! Eis-me diante de tua vontade!...

Mostra-me o que devo fazer!...

E quando o Senhor lhes revela, através das circunstâncias, o quadro de serviço a expressar-se, conforme as necessidades a que se ajustam, exclamam em desconsolo:

- Quem sou eu para realizar semelhante tarefa?

Não tenho forças.

Ai de mim que sou inútil!...

Sabem que é preciso servir para se renovarem, mas paradoxalmente esperam renovar-se sem servir.

Dispõem de verbo fácil e muitas vezes se proclamam inabilitadas para falar auxiliando a alguém nas construções do Espírito.

Possuem dedos ágeis, quais filtros inteligentes engastados nas mãos; entretanto, costumam asseverar-se inseguras na execução das boas obras.

Ouvem preleções edificantes ou mergulham-se na assimilação de livros nobres, prometendo heroísmo para o dia seguinte, mas, passada a emoção, volvem à estaca zero, à maneira de viajante que desiste de avançar nos primeiros passos de qualquer jornada.

Louvam na rua o equilíbrio e a serenidade e, às vezes, dentro de casa, disputam campeonatos de irritação.

O dever jaz à frente, a oportunidade de elevação surge brilhando, os recursos enfileiram-se para o êxito e realizações chamam urgentes, mas preferem a fuga da obrigação sob o pretexto de que é preciso cautela para evitar o mal, quando o bem francamente lhes bate à porta.

*

Trabalho, ação, aprendizado, melhoria!...

Não te ponhas à espera deles sob a imaginária incapacidade de procurá-los, à vista de imperfeições e defeitos que te marcaram ontem.

Realização pede apoio da fé.

Mãos à obra.

Tudo o que serve para corrigir, elevar, educar e construir, nasce primeiramente no esforço da vontade unida à decisão.

* * *

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Rumo Certo.
Ditado pelo Espírito Emmanuel.
5a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Enredamentos Perigosos

Toda obra do Bem, no delineamento de propósitos, é nobre e transcendente, esmaecendo porém, quando se corporifica mediante a ação humana.

Sensibilizado pelos ideais de engrandecimento espiritual, o indivíduo emociona-se e procura entregar-se completamente, sonhando em tornar-se o instrumento da inspiração superior e, à vezes, consegue-o.

No entanto, porque é Espírito em rudes provas, embora os sentimentos que o animam, imprime as dificuldades pessoais, colocando sombra e empeços no labor a que se entrega.

Assim sendo, é compreensível que defrontemos no trigal dourado o escalracho infeliz, e na claridade do dia triunfante a nuvem carregada de sombras a impedir-lhe a irradiação da luz.

A Terra ainda não é o habitat, mas o educandário de homens e mulheres em lutas interiores, tentando arrancar a ganga externa para que brilhe a gema pura que lhe jaz no interior aguardando o momento de desvelar-se.

Valiosos e digno de encômios esse esforço hercúleo pela auto-superação, quando se constata o expressivo número daqueles que se escravizam aos comprometimentos torpes quão criminosos, que lhes exigirão oportuna reparação penosa.

O Senhor da Vinha não aguarda que venham cooperar com Ele os trabalhadores destituídos de mazelas ou imperfeições, pois que esses são raros, por isso aceita todos quantos despertam para a sua mensagem e se dispões a servi-lO.

Jesus conhecia a fraqueza moral de Pedro, todavia, convidou-o para o banquete da Boa Nova.

Francisco Bernardone vivia uma existência frívola e atormentada; apesar disto, doou-se, e, superando-se, tornou-se Sol medieval a clarear o futuro da humanidade.

Maria de Magdala, mesmo depois de O seguir, não ficou livre da suspeita nem da crítica severa do grupo no qual se movimenta.

Jesus aceitou-os a todos e transformou-os com o tempo em pilares da sua doutrina.

Descobrir o lírio no pantanal e a estrela além da tormenta constitui desafio para quem se candidata ao crescimento interior.

Nesse mister, surgem enredamentos perigosos, que complicam a marcha e dificultam a ascensão dos obreiros.

Dentre outros, a censura mórbida, constante, e a intriga perversa, intoxicam as melhores intenções e asfixiam muitos ideais em desenvolvimento.

São responsáveis pela crueldade da destruição de obras abençoadas e de esforços relevantes que são vencidos.

O cupim perseverante vence a madeira que sucumbe ao seu trabalho insensível.

Assim é a ação da maledicência impiedosa e insistente.

Para romper-se essa rede constritora, é necessário que o amor se compadeça do vigia dos atos alheios sempre pronto e a zurzir o látego, como se fosse inatacável.

Não te deixes contaminar pelo pessimismo nem pela censura contumaz que te tragam ao coração.

Tem paciência e dá-te conta que o acusador gratuito não ama, não coopera, apenas cria embaraços.

Ajuda em silêncio e confia em Deus, fazendo a tua parte da melhor forma ao teu alcance.

É mais valioso que teu próximo esteja tentando agir bem e auxiliar, apesar dos erros que comete, do que se estivesse no outro lado, entre os desequilibrados que aguardam a tua ajuda.

Viver em harmonia em um meio social - seja qual for, já que em todos eles existem dificuldades a vencer - constitui desafio para a evolução.

Ampara, portanto, o teu irmão que pensa em ser útil e ainda não o consegue, ao invés de hostilizá-lo, combatê-lo, semeares espinhos por onde ele segue ao levá-lo a julgamento público arbitrário pelos contumazes desocupados que se contentam em demolir.

* * *

Divaldo P.Franco. Da obra: Fonte de Luz.
Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

E OS NOSSOS AMIGOS

No Evangelho de Lucas, temos uma citação muito importante, recordando sempre a Palavra do Cristo que é fundamental em nossa existência.

Jesus nos recomenda que oremos pelo nosso adversário, pelo nosso inimigo, porque se não orarmos por eles e orarmos apenas pelos nossos amigos, qual será o mérito para recolhermos?

Essa passagem do Cristo é muito importante em nossas reflexões diárias, porque não há dia que passemos na Terra, e que não tenhamos um mau pensamento de alguém.

Passamos a vida toda e poucas oportunidades, a nossa mente passa em branco com relação a critica relativa a quem quer que seja.

Deveríamos pensar que se porventura um destes para quem nós dirigimos um pensamento ácido, amargo, áspero, deve ter consigo algum tipo de moléstia da alma que o faça ser repulsivo, que o faça ser mal quisto ou que o faça ser inconveniente.

Se nós outros de nossa parte, já conseguimos nos liberar dessas características infelizes, nada mais natural que olhar para esses nossos irmãos com compaixão e orar por eles.

Se no momento oportuno em que sejamos provocados e que essas criaturas nos irritem, tivermos a chance de ao invés de desejar o mal, fazer uma prece pedindo a assistência, certamente, estaremos dando um passo em direção ao amor, porque se nós orarmos apenas e tão somente por aqueles que nos aplaudem, por aqueles que concordam com todas as nossas posturas e atitudes,
qual é a vantagem?

Não meus irmãos, nós precisamos aprender a orar por aqueles que nos provocam, por aqueles que nos incomodam, por aqueles que nos perturbam, que tiram a nossa pretensa paciência.

Nós precisamos aprender a orar pelo inimigo.

Pelo adversário.

Por aquele que nos quer mal.

Por aquele que nos calunia.

Diariamente, sempre que lembrarmos da figura da criatura.

Este sim é o exercício real do perdão.

Façamos todos nós, a nossa parte.

Abençoe-nos Jesus

Psicofonia recebida no Nept em 02/02/2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Belicosidade

Não é necessária uma guerra para se ajustar divergãncias.

Os modelos-pensamentos atuais têm encontrado posicionamento bélico para solucionar contendas que, na maioria das vezes, são desnecessárias.

A Paz é, certamente, o melhor recurso para que se alcance o entendimento.

Albino Teixeira
psicografia NEPT em 09 de fevereiro de 2011

O Pequeno Aborrecimento

Um moço de boas maneiras, incapaz de ofender os que lhe buscavam o concurso amigo, sempre meditava na Vontade de Deus, disposto a cumpri-la.

Certa vez, muito preocupado com o horário, aproximou-se de um pequeno ônibus, com a intenção de aproveitá-lo para a travessia de extenso trecho da cidade em que morava, mas, no momento exato em que o ia fazer, surgiu-lhe à frente um vizinho, que lhe prendeu a atenção para longa conversa.

O rapaz consultava o relógio, de segundo a segundo, deixando perceber a pressa que o levava a movimentar-se rápido, mas o amigo, segurando-lhe o braço, parecia desvelar-se em transmitir-lhe todas as minudências de um caso absolutamente sem importância.

Contrafeito com a insistência da conversação aborrecida e inútil, o jovem ouvia o companheiro, por espírito de gentileza, quando o veículo largou sem ele.

Daí a alguns minutos, porém, correu inquietante a notícia.

A máquina estava sendo guiada por um condutor embriagado e precipitara-se num despenhadeiro, espatifando-se.

Ouvindo com paciência uma palestra incômoda, o moço fora salvo de triste desastre.

O jovem refletiu sobre a ocorrência e chegou à conclusão de que, muitas vezes, a Vontade Divina se manifesta, em nosso favor, nas pequenas contrariedades do caminho, ajudando-nos a cumprir nossos mais simples deveres, e passou a considerar, com mais respeito e atenção, as circunstâncias inesperadas que nos surgem à frente, na esfera dos nossos deveres de cada dia.

* * *

Francisco Cândido Xavier, Da obra: Pai Nosso.
Ditado pelo Espírito Meimei.
19a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1999.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A paz de cada um

Cada qual constrói a paz que almeja.

Para uns a paz é sinônimo de ócio.

Para outros é o mesmo que um prato cheio, ou seja, um fenômeno de glutonaria.

Para outros é o ouro e as posses terrenas.

Outros ainda é a posição social.

Há ainda aqueles que só a encontram nos momentos de libação e barulho.

Há aqueles que a encontram junto à natureza, em comunhão com a beleza da criação.

São os espíritos mais sensíveis.

Mas o que o homem chama de paz, o universo chama de movimento.

A paz é a vida nas suas infinitas formas, se manifestando em performance divina.

A paz é construção constante, é o amor em vibração, é a harmonia das coisas.

Quando nos dispomos ao trabalho ao próximo nos pomos em obra de Deus, nos pomos em Paz.

A verdadeira Paz.

É amar, é construir, é fazer parte de toda essa infinita família universal que provem de Deus, e que Jesus nos abriu as portas.

É caridade ativa, é crescimento, é vida.

psicografia recebida no NEPT em 24 de outubro de 2008.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Donativo do Coração

Seja a tua palavra clarão que ampare, chama que aquece, apoio que escore e bálsamo que restaure.

*

Sempre que te disponhas a sair de ti mesmo para o labor da beneficência, não olvides o donativo da coragem! Auxilia ao próximo por todos os meios corretos ao teu alcance, mas, acima de tudo, ampara o companheiro de qualquer condição ou de qualquer procedência, a sentir-se positivamente nosso irmão, tão necessitado quanto nós da paciência e do socorro de Deus.

* * *

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Brilhe Vossa Luz.
Ditado pelo Espírito Emmanuel.
4a edição. Araras, SP: IDE, 1996.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

SERIA TÃO BOM SE TODOS ENTENDESSEM DESSA FORMA!

Na Índia, são ensinadas as “quatro leis da espiritualidade”:

A primeira diz: “A pessoa que vem é a pessoa certa”.
Ninguém entra em nossas vidas por acaso. Todas as pessoas ao nosso redor, interagindo com a gente,têm algo para nos fazer aprender e avançar em cada situação.

A segunda lei diz: “Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido”.
Nada, nada absolutamente nada do que acontece em nossas vidas poderia ter sido de outra forma. Mesmo o menor detalhe. Não há nenhum “se eu tivessefeito tal coisa…” ou “aconteceu que um outro …”. Não. O que aconteceu foi tudo o que poderia ter acontecido, e foi para aprendermos a lição e seguirmos em frente. Todas e cada uma das situações que acontecem em nossas vidas são perfeitas.

A terceira diz: “Toda vez que você iniciar é o momento certo”.
Tudo começa na hora certa, nem antes nem depois. Quando estamos prontos para iniciar algo novo em nossas vidas, é que as coisas acontecem.

E a quarta e última afirma: “Quando algo termina, ele termina”.
Simplesmente assim. Se algo acabou em nossas vidas é para a nossa evolução. Por isso, é melhor sair, ir em frente e se enriquecer com a experiência. Não é por acaso que estamos lendo este texto agora. Se ele vem à nossa vida hoje, é porque estamos preparados para entender que nenhum floco de neve cai no lugar errado!

“Saber não é tudo. É necessário fazer. E para bem fazer, homem algum dispensará a calma e a serenidade, imprescindíveis ao êxito, nem desdenhará a cooperação,que é a companheira dileta do amor”.

Isso justifica a situação de algumas pessoas que lêem TUDO e NADA praticam: falta colocar em prática o que leram. Para isso, precisam ler e aprender. Depois de aprender, fazer um estágio prático, isto é, fazer o que aprenderam.

Entendemos, assim, que ler não significa aprender.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Domínio da Ira

Tão comuns se te fazem a irritabilidade e o reproche, que estás perdendo o equilíbrio, o discernimento sobre o limite das tuas forças.

Habituas-te à reprimenda e à contrariedade de tal forma, que perdes o controle da emoção, deixando de lado os requisitos da urbanidade e do respeito ao próximo.

Freqüentemente deixas-te arrastar pela insidiosa violência, que se te vai instalando no comportamento, passando de um estado de paz ao de guerra por motivo de somenos importância.

Sem te dares conta, perdes o contato do amor e passas a ser temido, por extensão detestado.

A irascibilidade gera doenças graves, responsáveis por distonias físicas e mentais de largo alcance.

Da ira ao ódio o passo é breve, momentâneo, e o recuo difícil.

Tem tento, e faze uma revisão dos teus atos, tornando-te mais comedido e pacificado.

*

Ouve quem te fala, sem idéia preconcebida.

Desarma a emoção, a fim de agires com imparcialidade.

A idéia preconceituosa abre espaço mental à irascibilidade.

É necessário combater com ações mentais contínuas, as reações que te assomam entorpecendo-te a lucidez e fazendo-te um tresvariado.

A reflexão e o reconhecimento dos próprios erros são recursos valiosos para combater a irritação sistemática.

Tem a coragem de reconhecer que erras, que te comprometes, não te voltando contra os outros como efeito normal do teu insucesso.

*

A ira cega, enlouquece.

Provocando uma vasoconstrição violenta no sistema circulatório, leva à apoplexia, ao enfarto, à morte.

*

Um momento de irritação, e fica destruída uma excelente Obra.

O trabalho de um período demorado reduz-se a cinzas, qual ocorre com a faísca de fogo atingindo material de fácil combustão.

A ira separa os indivíduos e fomenta lutas desditosas.

*

Estanca o passo e retrocede na viagem do desequilíbrio.

Recorre à oração.

Evita as pessoas maledicentes, queixosas, venenosas. Elas se te fazem estímulo constante à irritabilidade, ao armamento emocional contra os outros.

*

A tua vida é preciosa, e deves colocar todas as tuas forças a serviço do amor.

Desde que és forte, investe na bondade, na paciência e no perdão, que são degraus de ascensão.

Para baixo é fácil, sem esforço, o processo de queda.

A sublimação, a subida espiritual, são o desafio para os teus valores morais.

Aplica-os com sabedoria e fruirás de paz, aureolado pela simpatia que envolve e felicita a todos.

Ademais, a ira é porta de acesso à obsessão, à interferência perniciosa dos Espíritos maus, enquanto o amor; a doçura e o perdão são liames de ligação com Deus, plenificando o homem.

* * *

Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Momentos de Felicidade.
Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Salvador, BA: LEAL, 1990.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Metamorfose

Eu freqüento a umbanda, com muita honra, mas hoje um amigo me convenceu a ir a um Centro Espírita e eu, movido pela curiosidade, acabei indo.

Cheguei lá um pouco desconfiado, mas percebi que se tratava de um lugar muito saudável, no qual as pessoas se movimentavam de um lado para o outro ativamente, sempre trabalhando. Mesmo aquelas que ficavam no passe - aliás, bem diferente de onde eu freqüento - embora paradas, estavam sempre bem dispostas para o trabalho. Muito bonito de ver.

Logo que chegamos, meu amigo conversou com um rapaz que era quem cuidava dos atendimentos e pediu que ele visse a possibilidade de eu ser atendido. Em seguida, pediu que eu esperasse em uma fila na qual as pessoas ficavam sentadas enquanto aguardavam para ser atendidas. Foi interessante: à medida que cada um era chamado, os demais mudavam sistematicamente para a próxima cadeira.

Fiquei ali algum tempo e percebi que para mudar de cadeira demorava um tempo e que eu seria a última pessoa a ser atendido.

Dentro da minha inquietude, comecei a pensar no que poderia fazer para passar o tempo, afinal calculei que pelo tanto de gente, eu iria demorar umas três horas, para se atendido. Mas tudo aquilo me deixou curioso e resolvi que iria fazer algo para passar o tempo.

Conversei com uma senhora que estava para passar antes de mim e pedi para que ela "cuidasse" da minha cadeira, pois não queria perder meu último lugar, ainda que demorasse. Fui procurar o que fazer e vi uma livraria. Conversei com uma moça que cuidava dela e pedi que me indicasse algo bom para ler.

Ela me ofereceu, de imediato, um exemplar de "O Livro dos Espíritos" e eu comprei. Folheei antes, e vi que se tratava de uma obra extensa formada basicamente por um recurso didático de perguntas e respostas. Peguei o livro e voltei para minha fila.

Iniciei a leitura e mergulhei nela. Conforme ia lendo, me sentia cada vez mais ligado àquela religião, cada vez mais curioso e sedento de aprendê-la. Nem mesmo senti o tempo passar. Após cerca de duas horas, um senhor muito simpático foi ao salão onde aguardávamos e fez uma pequena preleção, falando de Jesus, do perdão e fazendo várias referências ao Evangelho Segundo o Espiritismo.

Pensei comigo: "preciso ler esse também"... Aí ele terminou e percebi, quando ele se encaminho para uma saleta ao lado, que era ele quem fazia o atendimento a todos nós.

Após quase quatro horas, estava terminando a pergunta de número 919 a, quando o rapaz me chamou para entrar no atendimento.

Fui. Para minha surpresa a pessoa que falou no salão não era a mesma que estava lá fora. Pensei comigo: "Não devo ter percebido a troca". Ele me perguntou: "Que troca?"

Fiquei admirado! Eu não tinha falado: tinha apenas pensado! Como? O que estava acontecendo? Conversamos e eu pude entender que a pessoa que havia feito a preleção era ele mesmo, mas eu havia visto o Espírito que o acompanhou naquela tarefa. Vi a fotografia do Espírito pendurada sobre a porta da saleta. Seu nome é Eurípedes Barsanulfo. "Preciso ler sobre ele", pensei.

Nossa, quanto a aprender!

A pessoa que me atendeu se chama José. Foi muito gentil e me convidou para os trabalhos. Não fez qualquer crítica quando disse freqüentar a umbanda. Nem ao menos uma referência. Gostou de saber que estava lendo "O Livro dos Espíritos" e sugeriu mais algumas leituras além de me convidar para freqüentar alguns estudos no Centro Espírita.

Fiquei contente. A estrutura do Centro Espírita é diferente da umbanda. Gosto muito da umbanda, mas estou me sentindo muito mais à vontade dentro de uma Casa como esta. Parece que tudo tem mais lógica do que aquilo que eu tenho feito até agora.

Tomei a decisão de mudar. Vou sair da umbanda e começar a participar do Espiritismo.

Mas, surgiram alguns questionamentos em minha mente: o que fazer com as entidades espirituais com as quais tenho trabalhado? Será que estou simplesmente "abandonando"? Será que ficarão "sentidos" comigo? Será que esse é o rumo certo?

Bom, resolvi que iria aguardar um pouco para definir essas coisas todas. Quem sabe conhecendo um pouco mais sobre o Espiritismo eu não teria um pouco mais de recursos para entender essa minha decisão? Quem sabe eu não mudaria de idéia?

Fui dormir.

- Olá, meu amigo! Aqui nós estamos, para conversar com você. Viemos por conta de suas dúvidas.

- Pai João! É a primeira vez que sonho com o senhor! E todos os outros amigos? Que legal!

- Então, meu filho, você tem dúvidas sobre nós, não é mesmo? Mas aqui estamos para deixar você seguro de que sua escolha de seguir o Espiritismo é a mais adequada daqui em diante. Você não foi levado a um Centro Espírita por acaso. Já era hora de seguir seu caminho com diretrizes mais adequadas à sua compreensão das coisas. A umbanda é um nobre recurso de contato mediúnico e de oportunidade para o trabalho de auxílio e assistência aos necessitados, mas o Espiritismo é uma religião completa. Iremos acompanhar você onde for. No Espiritismo, conversaremos com você e faremos os trabalhos com você, fazendo uma adequação para melhor de nossas disponibilidades. Deixaremos de ter os trejeitos, vamos abandonar os recursos de linguagem que apresentamos até agora, para falar através de você de forma que nossa apresentação seja a mais próxima da nossa realidade de Espíritos atual. Não será mais necessário os recursos de ambientação que usamos para nos comunicar até agora. Tudo será mais natural, você verá. Com o tempo, esquecerá que fui um "preto velho" e que você trabalhou com as "sete linhas", pois, mais esclarecido, verá tudo com naturalidade e seu trabalho terá outras características, envolvidas no Bem e no Amor.

- Então eu não estou abandonando vocês?

- Não, meu filho! Continuaremos unidos na Fé, no Amor e no Trabalho!

- Deus seja louvado!

A noite passou e acordei com uma certeza em meu coração: o que mais importa em qualquer trabalho é o Amor com o qual podemos nos dedicar a ele. A forma, desde que envolvido o Amor no trabalho, pode não ter tanta importância.

Espírita Fanático

Resgatamos uma entrevista que Herculano Pires concedeu ao primeiro Anuário Espírita, em 1964. Naquela ocasião, o jornalista e filósofo foi questionado sobre diversos temas: parapsicologia, tradução das obras da Codificação, filosofia e fanatismo. “Do ponto de vista espírita, um fanático espírita, é uma aberração, porque o Espiritismo, está sujeita ao exame crítico. Onde se fala de crítica, no sentido exato do termo, que é o do exame aprofundado e sereno das coisas, não há lugar para manifestações de fanatismo”, disse o escritor.

Quais os pontos em comum entre Espiritismo e parapsicologia?

A parapsicologia é o estudo científico, por meio de experiências de laboratório, dos fenômenos espíritas. Os pontos em comum são, portanto, o objeto e a finalidade dos estudos, pois tanto o Espiritismo quanto a parapsicologia investigam os mesmos fenômenos e procuram explicá-los. A diferença entre ambos é que a parapsicologia age no plano das ciências físicas, empregando métodos de investigação comuns a essas ciências, enquanto o Espiritismo, como assinalou Allan Kardec, sendo uma ciência espiritual emprega outros métodos.

Por que alguns espíritas conhecedores dos princípios doutrinários do Espiritismo se preocupam com a divulgação dos conhecimentos parapsicológicos?

Considero-me entre os espíritas que se interessam não em demasia, mas de maneira necessária, pelo estudo e divulgação da parapsicologia. Não sou conhecedor profundo da doutrina, mas julgo-me bem intencionado. É claro que, sendo a parapsicologia a primeira ciência oficial, se assim podemos dizer, interessar-se, séria e profundamente, pela investigação dos fenômenos espíritas, devemos interessar-nos por ela. Temos mesmo o dever de acompanhar o seu desenvolvimento e dar-lhe a nossa contribuição. Como diz o professor Joseph Banks Rhine, conhecido como o “pai da parapsicologia”, é ela a primeira ciência a revolucionar o mundo fechado das ciências oficiais, revelando a existência de “um universo extrafísico”. Basta dizer que a parapsicologia já provou, cientificamente, a existência de fenômenos espíritas: a telepatia, a clarividência, a precognição (profecia), e a psicocinesia (ação da mente, e portanto do espírito, sobre a matéria). E com isso se apresenta, também, como nova porta aberta ao conhecimento da realidade espiritual, para aqueles que não querem entrar pela porta do Espiritismo, em virtude de sua formação científico-materialista.

Qual a diferença fundamental entre parapsicologia e metapsíquica?

A diferença entre parapsicologia e metapsíquica não é fundamental, mas superficial. Consiste apenas na metodologia. A metapsíquica enfrentava os fenômenos espíritas por meio da chamada investigação qualitativa. A metapsíquica se interessava pela qualidade dos fenômenos; a parapsicologia, sem poder, evidentemente, deixar de lado o critério qualitativo, interessa-se fundamentalmente pela quantidade, segundo o critério geral da investigação científica materialista. O método quantitativo da investigação parapsicológica consiste na repetição exaustiva das experiências, para a verificação da existência ou não dos fenômenos, por meio de controle estatístico das ocorrências nas bases do cálculo de probabilidades.

Por que Allan Kardec se serviu do método dialético ao organizar O Livro dos Espíritos?

Kardec serviu-se do método dialético de exposição, mais propriamente chamado de método dialogado, por uma questão de fidelidade ao texto dos Espíritos, que lhe era dado em formas de respostas. Não havia e não há nenhum inconveniente nesse fato. O diálogo é uma forma tradicional e fecunda de exposição filosófica.


Na tradução que você fez de O Livro dos Espíritos, da Lake, há uma note que nega a Doutrina Espírita seja um sistema filosófico (conjunto fechado de idéias concebidas para explicar os fenômenos). Por quê?

Quem nega o caráter sistemático do Espiritismo é o próprio Kardec nos “Prolegômenos” de O Livro dos Espíritos; quando diz que o livro foi escrito “por ordem e sob ditado dos Espíritos Superiores, para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema”. Isso não quer dizer que não haja um sistema doutrinário espírita, o que seria absurdo. Toda doutrina é um sistema. Mas, há sistemas livres, dinâmicos, e sistemas fechados, estáticos.

Qual a diferença entre esses dois tipos de sistemas?

Os sistemas livres correspondem ao espírito da filosofia; já os sistemas fechados, ao espírito das religiões. Como a filosofia nasceu da religião, e esta era, interpretada sempre de forma rigidamente sistemática, durante muito tempo os filósofos elaboraram grandes sistemas filósofos elaboraram grandes sistemas filosóficos, que fizeram época. No tempo de Kardec, os sistemas filosóficos imperavam. O sistema de Hegel (1770-1831), por exemplo, e o de Tomás de Aquino (1225-1274). E nesse mesmo tempo surgiam dois novos sistemas: o positivismo e o marxismo. Eram o que podemos chamar “sistemas-sistemáticos”, construções dogmáticas do pensamento. Os Espíritos Superiores indicaram a Kardec a inconveniência dessas construções, que encarceravam o pensamento em determinados princípios. Daí a formulação por Kardec de um “sistema não-sistemático”, ou seja, livre “dos prejuízos do espírito de sistema”. Uma doutrina que, à maneira do Evangelho, se constituía de orientações gerais do pensamento. Este é um aspecto que nos revela a perfeita atualidade do Espiritismo, no plano filosófico.

Um fanático espírita pode ser pior que um fanático de outras religiões?

Do ponto de vista espírita, um fanático espírita, é uma aberração, porque o Espiritismo é uma doutrina racional, que não comporta fanatismo. Já vimos que a fé, no Espiritismo, está sujeita ao exame crítico. Onde se fala de crítica, no sentido exato do termo, que é o do exame aprofundado e sereno das coisas, não há lugar para manifestações de fanatismo. Kardec já dizia, porém, que o entusiasmo excessivo é mais prejudicial à Doutrina que as campanhas dos adversários. Se entendermos por fanatismo o exagerado entusiasmo de certas pessoas, não há dúvida que isso é mais prejudicial à Doutrina do que o fanatismo dos que a combatem.

Quais erros os diversos tradutores dos livros de Kardec cometeram?

Erros de tradução sempre existem, mesmo nas melhores obras. Quando traduzi O Livro dos Espíritos, minha intenção não foi a de corrigir os outros tradutores, mas a de trazer uma tradução nova, mais adequada ao estilo atual. É claro que aproveitei a oportunidade para tentar algumas correções, mas o editor me castigou, lançando uma edição mais cheia de erros gráficos de que todas as anteriores. Não foi, porém um castigo à vaidade, pois não pensei jamais em traduzir melhor do que os outros. Pelo contrário, os outros me abriram caminho e muito me ajudaram. As correções que tentei não eram de importância fundamental. Podiam ter sido feitas nas revisões de cada nova edição. Em alguns livros, porém, como A Gênese, há erros mais sérios. Onde Kardec escreveu: “as religiões sempre foram instrumentos de dominação”, saiu em português: “demolição”. Coisas assim podem ser erros gráficos, e não propriamente de tradução. O que falta, como se vê, é mais cuidado com a publicação das obras de Kardec.

Qual o texto mais admirável que encontrou nas obras de Codificação?

Toda a obra de Kardec é um admirável monumento de lógica e espiritualidade. Não obstante, é justo que um trecho ou outro se imponha à preferência do estudante. De minha parte, considero particularmente admiráveis pela fluência e clareza do estilo, a precisão expositiva, a riqueza da argumentação e profundidade conceitual, os seguintes trechos: capítulo V da 2ª parte de O Livro dos Espíritos, intitulado “Considerações sobre a pluralidade das existências”; capítulo I e II da introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, respectivamente intitulado “Objeto desta obra” e “Autoridade da Doutrina Espírita”; e o capítulo VI de A Gênese, intitulado “Uranografia Geral”, comunicação de Galileu através de Camille Flammarioon, um dos trechos mais discutidos, e entretanto menos estudado, de toda a Codificação, revelando profundidade filosófica, e beleza poética do mais alto grau.

Para saber mais – J. Herculano Pires; de Jorge Rizzini Paidéia; Anuário Espírita 1964. IDE.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Pequenos Detalhes

“Não se turbe o vosso coração; crede em Deus, crede também em mim...”



Toda vez que nos deixamos perturbar pelas dúvidas existenciais que controlam nossas vidas, estamos deixando de verdadeiramente viver, pois as dúvidas e o medo não permitem que possamos aproveitar os momentos que estamos vivenciando.

Na hora da dor, do sofrimento, precisamos lembrar de que somos filhos de Deus e que Ele nos acode sempre, ou melhor, Ele está sempre conosco, mesmo sem dor ou sofrimento.

Costumamos lembrar do Criador nas horas mais difíceis para pedir, mas precisamos lembrar Dele nos momentos de bonanza, enquanto há calmaria, agradecendo por esses instantes nos quais podemos respirar aliviados para o preparo e fortalecimento para quando e se vierem as dificuldades da Vida.

É preciso refletir, gratos por tudo o que temos, acima do mérito do qual dispomos, cultivar a fé extradordinária, através do gesto de gratidão a Ele.

A gratidão pelas pequenas coisas e pelas grandes possibilidades que temos.

Assim poderemos nos tornar um só com o Pai, como Jesus era e como o é.

Fé é conquista do Espírito que transforma para muito melhor a Vida de uma criatura de Deus.

Cultivemos a fé em Deus.

Cultivemos a fé em Jesus.


Psicografia recebida no NEPT em 28 de janeiro de 2011.

Diante da Terra

Teríamos sido, porventura, situados na gleba do mundo para fugir de colaborar no progresso do mundo, quando o mundo nos provê com todas as possibilidades necessárias ao progresso de nós mesmos?

*

Muitos companheiros se marginalizam em descanso indébito, junto à seara, alegando que não suportam os chamados problemas intermináveis do mundo; desejariam a estabilidade e a harmonia por fora, a fim de se mostrarem satisfeitos na Terra, quando a harmonia e a estabilidade devem morar por dentro de nós, de modo a que nossos encargos, à frente do próximo, se façam corretamente cumpridos.

*

O mundo, em todo tempo, é uma casa em reforma, com a lei da mudança a lhe presidir todos os movimentos, através de metamorfoses e dificuldades educativas.

*

O progresso é um caminho que avança. Daí, o imperativo de contarmos com oposições e obstáculos toda vez que nos engajemos na edificação da felicidade geral.

Omissão, no entanto, é parada significando recuo.

Entendamo-nos na posição de obreiros, sob a pressão de crises renovadoras.

*

Todos faceamos permanente renovação, a cada passo da vida.

Nem tudo que tínhamos ontem por certo, nos quadros exteriores da experiência, continua como sendo certo nas horas de hoje. Os ideais e objetivos prosseguem os mesmos, a nos definirem aspiração e trabalho; entretanto, modificaram-se instrumentos e condições, estruturas e circunstâncias.

*

A Terra, porém, nos pede cooperação no levantamento do bem de todos e a ordem não é deserção e sim adaptação. Em suma, estamos chamados à vivência no mundo, a fim de compreendermos e melhorarmos a vida em nós e em torno de nós, servindo ao mundo, sem deixarmos de ser nós mesmos, e buscando a frente, mas sem perder o passo de nossos contemporâneos, para que não venhamos a correr o risco de seguir para frente demais.

* * *

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Rumo Certo.
Ditado pelo Espírito Emmanuel.
5a edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Dez Maneiras de Amar a Nós Mesmos.

1 - Disciplinar os próprios impulsos.

2 - Trabalhar, cada dia, produzindo o melhor que pudermos.

3 - Atender aos bons conselhos que traçamos para os outros.

4 - Aceitar sem revolta a crítica e a reprovação.

5 - Esquecer as faltas alheias sem desculpar as nossas.

6 - Evitar as conversações inúteis.

7 - Receber o sofrimento o processo de nossa educação.

8 - Calar diante da ofensa, retribuindo o mal com o bem.

9 - Ajudar a todos, sem exigir qualquer pagamento de gratidão.

10 - Repetir as lições edificantes, tantas vezes quantas se fizerem necessárias, perseverando no aperfeiçoamento de nós mesmos sem desanimar e colocando-nos a serviço do Divino Mestre, hoje e sempre.

* * *

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Paz e Renovação.

Ditado pelo Espírito André Luiz.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Dever e Trabalho

O compromisso de trabalho inclui o dever de associar-se a criatura ao esforço de equipe na obra a realizar.

*

Obediência digna tem o nome de obrigação cumprida no dicionário da realidade.

*

Quem executa com alegria as tarefas consideradas menores, espontaneamente se promove as tarefas consideradas maiores.

*

A câmara fotográfica nos retrata por fora, mas o trabalho nos retrata por dentro.

*

Quem escarnece da obra que lhe honorifica a existência, desprestigia a si mesmo.

*

Servir além do próprio dever não é bajular e sim entesourar apoio e experiência, simpatia e cooperação.

*

Na formação e complementação de qualquer trabalho, é preciso compreender para sermos compreendidos.

*

Quando o trabalhador converte o trabalho em alegria, o trabalho se transforma na alegria do trabalhador.

* * *

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Sinal Verde.
Ditado pelo Espírito André Luiz.
42a edição. Uberaba, MG: CEC, 1996.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Deus Sabe

Há momentos muito difíceis, que parecem insuperáveis, enriquecidos de problemas e dores que se prolongam, intermináveis, ignorados pelos mais próximos afetos, mas que Deus sabe.

Muitas vezes te sentirás à borda de precipícios profundos, em desespero, e por todos abandonado. No entanto, não te encontrarás a sós, porque, no teu suplício, Deus sabe o que te acontece.

Injustiçado, e sob o estigma de calúnias destruidoras, quando, experimentando incomum angústia, estás a ponto de desertar da luta, confia mais um pouco, e espera, porque Deus sabe a razão do que te ocorre.

Vitimado por cruel surpresa do destino, que te impossibilita levar adiante os planos bem formulados, não te rebeles, entregando-te à desesperação, porque Deus sabe que assim é melhor para ti.

Crucificado nas traves ocultas de enfermidade pertinaz, cuja causa ninguém detecta, a fim de minimizar-lhe as conseqüências, ora e aguarda ainda um pouco, porque Deus sabe que ela vem para tua felicidade.

Deus sabe tudo!

Basta que te deixes conduzir por Ele, e sintonizado com a Sua misericórdia e sabedoria, busca realizar o melhor, assinalando o teu caminho com as pegadas de luz, características de quem se entregou a Deus e em Deus progride.

* * *

Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Filho de Deus.
Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

REGRAS DE FELICIDADE

André Luiz

Lembre-se de que os outros são pessoas que você pode auxiliar, ainda hoje, e das quais talvez amanhã mesmo você precisará de auxílio.
Todo solo responde não somente conforme a plantação mas também segundo os cuidados que recebe.

Aqueles que renteiam conosco nas mesmas trilhas evolutivas assemelham-se a nós, carregando qualidades adquiridas e deficiências que estão buscando liquidar e esquecer.
Reflita nos arranhões mentais que você experimenta quando alguém se reporta irrefletidamente aos seus problemas e aprenda a respeitar os problemas alheios.

Pensemos no bem e falemos no bem, destacando o lado bom dos acontecimentos, pessoas e coisas.
Toda vez que agimos contra o bem, criamos oportunidades para a influência do mal.

Mostremos o melhor sorriso - o sorriso que nos nasça do coração - sempre que entrarmos em contato com os outros.
Ninguém estima transitar sobre tapetes de espinhos.

Evitemos discussões.
Diálogo, na essência, é intercâmbio.

Se você tem algo de bom a realizar, não se atrase nisso.
Hoje é o tempo de fazer o melhor.

Estime a tarefa dos outros, prestigiando-a com o seu entusiasmo e louvor na construção do bem.
Criar alegria e segurança nos outros é aumentar o nosso rendimento de paz e felicidade.

Não contrarie os pontos de vista dos seus interlocutores.
Podemos ter luz em casa sem apagar a lâmpada dos vizinhos.

Você é uma instituição com objetivos próprios dentro da Vida, a Grande Instituição de Deus.
Os amigos são seus clientes e se você procura ajudá-los, eles igualmente ajudarão você.

Se você sofreu derrotas e contratempos, apenas se deterá se quiser.
A Divina Providência jamais nos cerra as portas do trabalho e, se passamos ontem por fracassos e dificuldades em nossas realizações, o Sol a cada novo dia nos convida a recomeçar.

(Do livro "Na era do Espírito", André Luiz (Espírito), Francisco Cândido Xavier (médium))

Desfavoravelmente

"Não imiteis o homem que se apresenta como
modelo e trombeteia ele próprio suas
qualidades a todos os ouvidos complacentes."
(Alan Kardec - E.S.E. Cap. XVII -ltem 8).

Não julgue desfavoravelmente, mesmo que sua observação o ajude na conclusão precipitada.

Você não pode pretender ter examinado o assunto sob todos os ângulos. Muita coisa, que você vê, não é exatamente como você vê...

*

Não comente desfavoravelmente, mesmo que tenha sobejas razões para fazê-lo.

Você não sabe como se portaria, se estivesse na posição do antagonista. O que você sabe não se deu realmente como você sabe...

*

Não pense desfavoravelmente, mesmo que encontre apoio na atitude de todos.

Você não conhece o assunto com a consideração devida. O que você conhece não expressa a realidade como você pensa...

Não informe desfavoravelmente, mesmo que você esteja senhor do assunto.

Você não dispõe de possibilidades para prever as mudanças que se operam num minuto. O de que você está informado não é conhecimento bastante para que você informe como foi informado...

*

Não opine desfavoravelmente, quando você puder ajudar, só porque muitos são contra.

Você não pode discordar, somente para agradar a maioria. O de que você tem notícia não se passou como lhe disseram...

*

Ouça a opinião de duas pessoas de gostos musicais diferentes, saindo de um concerto de música clássica...

No dia do julgamento de Jesus-Cristo, a multidão julgava, comentava, pensava, informava e opinava desfavoravelmente a Ele...

Crucificado, deu ganho de causa aos assassinos e perseguidores.

No entanto, o material com que O julgaram e as testemunhas que O acusaram não representavam a verdade, porque, enquanto todos estavam ligados aos interesses inconfessáveis do mundo, desejavam alijá-lo da Terra.

Ele, que era o Senhor do mundo, ficou, porém, em silêncio, fiel ao Supremo Pai, porfiando até o fim.

* * *

Franco, Divaldo Pereira. Da obra: Glossário Espírita-Cristão.
Ditado pelo Espírito Marco Prisco.
4a edição. Salvador, BA: LEAL, 1993.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A disciplina das pequenas coisas.​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​

Glória não conseguia entender se realmente poderia ajudar na cantina da Casa Espírita, pois lhe parecia tudo muito diferente.

Ela acabara de chegar de outro centro espírita e lá, com muito carinho, dedicou-se por muitos anos a cuidar da cantina. E só saiu e parou de cuidar de lá depois que a médium fundadora do centro espírita veio a falecer, deixando uma lacuna, um espaço vazio no coração de todos, de modo que não havia quem conseguisse manter os trabalhos com a firmeza e suavidade que ela o fazia.

Infelizmente o trabalho foi minguando e o centro espírita acabou fechando as portas. então, Glória saiu em busca de trabalho, não só o mediúnico, mas também o "braçal" de que ela gosta tanto. Lembrou-se da Casa Espírita e do "seu" Geraldo, que chegou a visitar o centro espírita algumas vezes, nas quais sempre fazia questão de deixa claro que as portas da Casa Espírita estavam sempre abertas a todos, particularmente aos companheiros de Doutrina do centro espírita de quem ele gostava tanto.

- Tenho convicção de que todos da Casa Espírita guardam muitas simpatias e sintonias por todos do centro espírita e todos vocês serão sempre bem acolhidos lá, assim como somos bem assistidos aqui!

As palavras do "seu" Geraldo vinham à sua mente com freqüência e ela não resistiu: assim que as portas se fecharam, ela imediatamente lembrou e compareceu a uma reunião aberta da Casa Espírita e aguardou a oportunidade de conversar com ele.

- Olá, "seu" Geraldo! Como vai o senhor, tudo bem?

- Felizmente, sim, Glória. Que bons ventos a trazem à Casa Espírita?

- Bom, o senhor sabe que a nossa companheira faleceu e que deste episódio para cá o centro espírita foi minguando até fechar, não sabe?

- É, eu tenho acompanhado as notícias através das pessoas que você conhece e que eventualmente vêm até aqui para tomar um passe ou para assistir uma palestra e sei relativamente bem o que aconteceu. Na verdade, eu sabia "de algum modo" que você viria aqui. Até acho que você deve ter pensado muito para vir e se retardou um pouco, não é mesmo?

- É verdade, "seu" Geraldo. Eu fiquei meio perdida por um tempo e sem saber o que fazer...

- Mas então você não havia levado a sério meus convites no passado, Glória?

- Havia sim! Até me passou pela cabeça que o senhor já deveria estar sabendo o que iria acontecer lá...

- Não, as coisas não eram claras assim, para mim, Glória! Eu só dizia o que sentia intuitivamente e, como as minhas afinidades por aquela casa de Deus sempre foram profundas e acreditando que todos daqui nutrem a mesma simpatia que eu por todos vocês, nada mais natural que expandir o convite a todos que eram de lá para que ficassem à vontade aqui conosco, como, aliás, está a acontecer agora, não é mesmo? Tantas pessoas já têm vindo! Apesar da tristeza pelo afastamento de nossa amiga, tenho certeza de que ela já está aqui conosco, reforçando as equipes invisíveis com sua boa vontade e com aquela disciplina que lhe era tão característica. Eu sinto muitas vezes a sua presença entre nós e isso muito me alegra, por podermos ser úteis de alguma maneira...

- Então, "seu" Geraldo, será que tem um espacinho para eu poder trabalhar, seja no setor que for?

- Minha irmã, as portas estão escancaradas, no bom sentido, para todos vocês. Já temos alguns companheiros de lá ocupando algumas posições conosco. Curiosamente, com relação ao mesmo setor no qual você dedicou tanto esforço no centro espírita, tivemos um afastamento, não por falecimento, de uma amiga que mudou de mala e cuia para o nordeste, acompanhando o marido, há três dias - parece que você foi bem intuída, não é mesmo? E você poderia nos ajudar com sua larga experiência no lugar que ela acabou de deixar. Que tal?

- Na cantina?

- Isso mesmo, Glória! E aí? Aceita?

- Bem, se eu não for estorvar nenhuma pessoa, claro que aceito! Com muita alegria! Mas, e os trabalhos mediúnicos?

- Vamos conversar com os guias espirituais a respeito disso, no dia do atendimento mediúnico, por favor. Aí você terá melhores diretrizes para esse trabalho que é tão importante para todos, certo?

- Certo, "seu" Geraldo. O atendimento continua às sextas-feiras?

- Sim, Glória.

Alguns dias depois, Glória já estava se entrosando com o pessoal da Cantina, que estava um pouco perdido com o recente afastamento da companheira Ilce. Uma jovem senhora, conhecida por Dida, fazia as vezes de Ilce, mas não era muito ligada às artes culinárias e nem mesmo tinha noções de controle de estoque, de alimentos e outras coisas que fazem parte da estrutura de uma cozinha ou cantina.

Felizmente Glória sabia dessas particularidade, mas sabendo que a alma humana é melindrosa, não tinha a intenção de colocar tudo de um momento para outro. Sabia que era melhor fazer tudo aos poucos, sem chocar e sem impor. Assim evitaria o máximo possível aquelas situações embaraçosas que geralmente acontecem quando um funcionário novo chega a um determinado setor.

- Glória, que bom que você pode nos ajudar! Às vezes me sinto totalmente perdida no meio dessas coisa, sabe? Cá entre nós, acho que não levo muito jeito prá essa coisa de cozinha! - Dida sorriu ao falar isso para Glória.

- Ah, Dida, tenho certeza de que você está fazendo de tudo prá que o serviço fique "redondinho"!

- A gente se esforça, amiga, mas sabe como é; nada sai exatamente como a gente quer.

- Olha, pelo que estou vendo, tem poucas coisas para deixar tudo mais acertadinho...

Muitos detalhes foram revistos pelas duas, que, enquanto reviam tudo foram tendo algumas surpresas com as questões do material de estoque. Havia algumas discrepâncias no estoque e, pelo que Glória podia perceber, algo estava estranho naquilo tudo. Ambas acabaram por se aprofundar nas questões em foco e entenderam que alguém estava desviando alimentos e produtos de higiene utilizados para preparar e fornecer os salgadinhos, os sucos e os doces da cantina.

Ainda não tinham como afirmar quem seria a pessoa responsável por esse verdadeiro desfalque, que beirava, em um ano e pouco algo em torno mais de dois mil reais. Mas tudo apontava para um reduzido grupo de pessoas que tinham acesso livre à Casa e ao estoque.

- Mas, meu Deus! Como apontar o dedo para alguém? Disse Dida, com as sombrancelhas franzidas? - Como alguém tem coragem de fazer isso em uma casa espírita, meu Senhor?

- Ah, Dida! Todos temos imperfeições! Todos! Sem exceção. Cada um de nós tem suas tendências, seus vícios, suas dificuldades... é assim mesmo!

- Como "assim mesmo", Glória? Não pode, pelo amor de Deus! Como ter coragem de desviar recursos de um posto de assistência a necessitados? De um lugar onde a gente só recebe ajuda? Não entra em minha cabeça, de jeito nenhum! É o cúmulo!

- Calma, minha amiga! Calma! Vamos conversar com o "seu" Geraldo a respeito, para ver o que ele nos diz e como precisamos agir, tá bom? Mas olha, vai com calma, não se exalte tanto, pois isso irá fazer mal a você mesma, viu?

As duas foram procurar "seu" Geraldo e explicaram tudo em detalhes para ele, na primeira chance que tiveram, no final dos trabalhos daquele mesmo dia. Com muita serenidade ele disse que não importava quem estivesse fazendo aquilo, mas que se tomasse providências para inibir esse tipo de situação dali em diante.

- Mas, "seu" Geraldo, e o prejuízo que já foi provocado, como é que fica? - Dida estava indignada e ainda sentindo-se meio incapaz de ter percebido o rombo antes de Glória chegar - ela efetivamente precisava aprender muito e, pelo jeito, a nova amiga sabia conduzir a contabilidade de uma cantina. Não se tratava só de fazer as coisas para expor e para os freqüentadores consumirem. Tratava-se, também, de cuidar de toda a retaguarda, que incluía o estoque de alimentos e materiais de higiene. "Como fui ingênua" - ela repetia para si mesmo, mentalmente, com freqüência.

- O que já aconteceu não há como reverter. Não há, também como apontar para alguém ou acusar a esmo, sem provas contundentes. Seria o caos na Casa. E desnecessário. Nada acrescentaria, só haveria prejuízos éticos, sem qualquer vantagem para os trabalhos. Mesmo que tivéssemos provas, precisaríamos agir com uma cautela extrema, para não desequililbrar o andamento de todos os trabalhos da Casa. Não podemos esquecer de que aqui somos todos de alguma forma doentes. Não sabemos se nós não seríamos os ladrões nas mesmas circunstâncias. Ainda assim, é bom lembrar que talvez estejamos na mesma situação, se porventura roubarmos de quem quer que seja a paz, o sossego, a tranqüilidade, a rotina, enfim.

- O que devemos fazer, então? Disse Glória, em tom conciliador.

- Corrigir o sistema. Fazer com que as rotinas sejam mais rígidas. Colocar cadeados nos armários, nas geladeiras, fazer relatórios rigorosos do que entra e do que sai, enfim, coordenar esforços para que não exista facilidades para quaiquer equívocos.

- Mas colocar cadeados, "seu" Geraldo? Não é uma atitude "estranha"? - disse Dida, confusa.

- Nada disso: estranho é não educar as pessoas, é não mostrar que há limites, é não demonstrar que algo de diferente foi percebido no andamento das atividades, enfim, é não educar. Colocar o cadeado é dar demonstração de limite educativo.

- Taí, não havia pensado nisso! Mas, o que as pessoas irão dizer?

- Dirão o que quiserem dizer. Não há como controlar essas coisas, sabe? Mas há como controlar certos desvios que precisam ser controlados. Como nesse caso: se alguém está desviando algo, que a consciência desse alguém o responsabilize, não nós. Não temos o direito de agir levianamente.

Temos de corrigir sem apontar culpados, sem apontar alguém quem nem mesmo temos certeza de quem venha a ser. A Espiritualidade certamente acompanha esses erros com compaixão, como tem compaixão por nós em nossas mazelas. Então, seguindo o bom exemplo dos Amigos mais experientes, precisamos tentar seguir esse caminho.

Tudo acertado entre eles, passaram a tomar as providências devidas ao caso. Cadeado nas geladeiras, cadeado nos armários, livros para relatórios, exigências de notas fiscais de compras, perguntaram ao "seu" Geraldo quem poderia ser responsável pelo estoque e ele sugeriu dois rapazes que fazem parte da Mocidade Espírita e que, no momento, não estão com nenhuma responsabilidade mais exigente, podendo ter algum tempo para colaborar no trabalho. A idéia pareceu a Dida bem original, pois os dois não faziam parte do trabalho da cantina e, sendo "estranhos", não teriam contato com ninguém, evitando qualquer favorecimento aparente.

Evidente que falatórios começaram a surgir aqui e ali, e, eventualmente, alguém já sensibilizado com outra situação estaria sujeito a exteriorizar opiniões parciais que não necessariamente representariam a realidade dos fatos e das necessidades da Casa Espírita. Nilda, por exemplo, não perdeu tempo:

- Ah, só faltava essa! Como, colocar cadeados em armários e geladeiras? Absurdo! Daqui a pouco viremos para uma prisão! É o fim da picada, mesmo! Eu falo: o Geraldo está realmente obsediado, subjugado e fica dando ouvidos a quem não deve! É uma pena que as coisas aqui estejam andando assim! Por isso minha decisão é acertadíssima! Vou sair daqui. Vou para outro centro espírita.
Esse já deu o que tinha de dar...

- Nilda, por que essa reação? Nada de anormal em controlar as coisas... - era Jandira, tentando apaziguar a conversação agressiva de Nilda.

- Normal para você, que faz parte da curriola!

- Calma, Nilda, não precisa ser agressiva...

- Falar a verdade é ser agressiva? Desde quando?

- Nilda, deixa prá lá! Não queria lhe ofender. Perdão, vou me retirar.

- Isso, covarde! Vai lá bajular o Geraldinho, vai! É só prá isso que vocês servem mesmo!

Jandira saiu envergonhada e foi num cantinho da Casa Espírita para pedir aos Bons Amigos Espirituais pela amiga que passava por um momento de dificuldade. Fez uma prece sentida, mas as lágrimas escorriam pelo rosto. Não teve jeito de não se denunciar.

- Nossa, Jandira! O que aconteceu?

- Nada não, Glória! Nada não! É só preocupação por uma amiga em aflição. Nada demais, não se preocupe. - Jandira sabia que não deveria fomentar ainda mais dificuldades. Se dissesse algo para Glória o círculo se fecharia às custas dela e ela tudo o que ela não queria. Nada disso!

- Posso ajudar, Jandira?

- Pode, fique aqui comigo e vamos vibrar por uma amiga em sofrimento!

- E qual o nome dela?

- Prefiro manter em sigilo, se você não se importa. Afinal, a discrição nessas horas protege as pessoas bem-quistas, não é verdade?

- Verdade. Você tem razão.

As duas seguiram em prece, por alguns minutos, silenciosamente. Depois de algum tempo, o coração de Jandira já havia ficado aliviado e parecia que tudo estava em ordem. Parecia, pois, ao passar pelas duas, Nilda não fez o mínimo esforço para se conter:

- Ah, eu sabia! Jandirinha, boazinha, fazendo fofoquinha! Não ia dar outra, né Jandira? Saiu de lá e veio contar tudo para essa criatura extra-terrestre, estranha no ninho! E aí, falou bastante de mim? Desceu a lenha? Está satisfeita, agora?

Estranhando tudo aquilo, mas escolada com a experiência no centro espírita, Glória não teve dúvidas, levantou-se e se retirou, apertando a mão de Jandira e lhe dizendo suavemente: - Já entendi. Não se preocupe e nem reaja. É tudo o que ela quer que você faça. Deixe por isso mesmo, o tempo é nosso amigo e vai mostrar as coisas no momento oportuno. Vou sair, masconfiante de que você não irá se expor. Qualquer coisa estarei na cantina, certo?

- Claro que você vai para a cantina! Para onde mais? Vai lá, colocar os cadeadinhos do Geraldinho, vai! Capacho!

O silêncio das duas denotava a total indisposição para discussões, mas ao mesmo tempo um sentimento de compaixão imenso por aquela irmão envolvida com pensamentos difíceis e equivocados. Certamente as duas sabiam que poderiam ser vítimas deste tipo de dificuldade a qualquer momento. Ninguém está livre dos envolvimentos do orgulho, do melindre.

Aquela tarde-noite foi tensa e, mesmo a par de tudo, Geraldo mantinha sua necessária concentração para se manter àdisposição para o trabalho mediúnico. Tinha um forte pesar em seu coração, mas nem mesmo por isso deixou de se esforçar para o trabalho. Lembro-se das muitas ocasiões nas quais presenciava situações como estas e que, intimamente, cultivava o desejo de abandonar tudo.

"Para quê, meu Deus? Para quê tanto esforço, se as pessoas não entendem! Aí escutava aquela voz interior que sempre lhe acalmava - 'meu filho, a vida do médium é cheia de espinhos, não desanime: lembre-se de que, se alguns não entendem, todos necessitam, inclusive os que não entendem!'.

O coração de Geraldo dava uma "paradinha" e ele refletia sobre tudo o que tinha para fazer e dos esforços que já tinha feito. Não iria desistir. Naquele momento, em particular, sabia que perdia temporariamente uma amizade. Uma amiga que se afastava por muito pouco, possuída por mágoas e ressentimentos por conta de algo que ele não houvera provocado, mas o tempo a recuperaria, certamente. era só manter a serenidade e seguir em frente com seu trabalho, lembrando das muitas pessoas envolvidas nele e que, ao seu lado, iriam manter o trabalho.

Certamente, somos pequenas fontes de luz, quando nos dispomos efetivamente ao serviço do Amor, mas podemos servir às trevas da ignorância, quando fechamos o coração para o convívio no Bem, através de posturas ligadas ao egoísmo e à vaidade. Ainda assim, seremos sempre assistidos para retomar o caminho da verdade e da vida.