Eu freqüento a umbanda, com muita honra, mas hoje um amigo me convenceu a ir a um Centro Espírita e eu, movido pela curiosidade, acabei indo.
Cheguei lá um pouco desconfiado, mas percebi que se tratava de um lugar muito saudável, no qual as pessoas se movimentavam de um lado para o outro ativamente, sempre trabalhando. Mesmo aquelas que ficavam no passe - aliás, bem diferente de onde eu freqüento - embora paradas, estavam sempre bem dispostas para o trabalho. Muito bonito de ver.
Logo que chegamos, meu amigo conversou com um rapaz que era quem cuidava dos atendimentos e pediu que ele visse a possibilidade de eu ser atendido. Em seguida, pediu que eu esperasse em uma fila na qual as pessoas ficavam sentadas enquanto aguardavam para ser atendidas. Foi interessante: à medida que cada um era chamado, os demais mudavam sistematicamente para a próxima cadeira.
Fiquei ali algum tempo e percebi que para mudar de cadeira demorava um tempo e que eu seria a última pessoa a ser atendido.
Dentro da minha inquietude, comecei a pensar no que poderia fazer para passar o tempo, afinal calculei que pelo tanto de gente, eu iria demorar umas três horas, para se atendido. Mas tudo aquilo me deixou curioso e resolvi que iria fazer algo para passar o tempo.
Conversei com uma senhora que estava para passar antes de mim e pedi para que ela "cuidasse" da minha cadeira, pois não queria perder meu último lugar, ainda que demorasse. Fui procurar o que fazer e vi uma livraria. Conversei com uma moça que cuidava dela e pedi que me indicasse algo bom para ler.
Ela me ofereceu, de imediato, um exemplar de "O Livro dos Espíritos" e eu comprei. Folheei antes, e vi que se tratava de uma obra extensa formada basicamente por um recurso didático de perguntas e respostas. Peguei o livro e voltei para minha fila.
Iniciei a leitura e mergulhei nela. Conforme ia lendo, me sentia cada vez mais ligado àquela religião, cada vez mais curioso e sedento de aprendê-la. Nem mesmo senti o tempo passar. Após cerca de duas horas, um senhor muito simpático foi ao salão onde aguardávamos e fez uma pequena preleção, falando de Jesus, do perdão e fazendo várias referências ao Evangelho Segundo o Espiritismo.
Pensei comigo: "preciso ler esse também"... Aí ele terminou e percebi, quando ele se encaminho para uma saleta ao lado, que era ele quem fazia o atendimento a todos nós.
Após quase quatro horas, estava terminando a pergunta de número 919 a, quando o rapaz me chamou para entrar no atendimento.
Fui. Para minha surpresa a pessoa que falou no salão não era a mesma que estava lá fora. Pensei comigo: "Não devo ter percebido a troca". Ele me perguntou: "Que troca?"
Fiquei admirado! Eu não tinha falado: tinha apenas pensado! Como? O que estava acontecendo? Conversamos e eu pude entender que a pessoa que havia feito a preleção era ele mesmo, mas eu havia visto o Espírito que o acompanhou naquela tarefa. Vi a fotografia do Espírito pendurada sobre a porta da saleta. Seu nome é Eurípedes Barsanulfo. "Preciso ler sobre ele", pensei.
Nossa, quanto a aprender!
A pessoa que me atendeu se chama José. Foi muito gentil e me convidou para os trabalhos. Não fez qualquer crítica quando disse freqüentar a umbanda. Nem ao menos uma referência. Gostou de saber que estava lendo "O Livro dos Espíritos" e sugeriu mais algumas leituras além de me convidar para freqüentar alguns estudos no Centro Espírita.
Fiquei contente. A estrutura do Centro Espírita é diferente da umbanda. Gosto muito da umbanda, mas estou me sentindo muito mais à vontade dentro de uma Casa como esta. Parece que tudo tem mais lógica do que aquilo que eu tenho feito até agora.
Tomei a decisão de mudar. Vou sair da umbanda e começar a participar do Espiritismo.
Mas, surgiram alguns questionamentos em minha mente: o que fazer com as entidades espirituais com as quais tenho trabalhado? Será que estou simplesmente "abandonando"? Será que ficarão "sentidos" comigo? Será que esse é o rumo certo?
Bom, resolvi que iria aguardar um pouco para definir essas coisas todas. Quem sabe conhecendo um pouco mais sobre o Espiritismo eu não teria um pouco mais de recursos para entender essa minha decisão? Quem sabe eu não mudaria de idéia?
Fui dormir.
- Olá, meu amigo! Aqui nós estamos, para conversar com você. Viemos por conta de suas dúvidas.
- Pai João! É a primeira vez que sonho com o senhor! E todos os outros amigos? Que legal!
- Então, meu filho, você tem dúvidas sobre nós, não é mesmo? Mas aqui estamos para deixar você seguro de que sua escolha de seguir o Espiritismo é a mais adequada daqui em diante. Você não foi levado a um Centro Espírita por acaso. Já era hora de seguir seu caminho com diretrizes mais adequadas à sua compreensão das coisas. A umbanda é um nobre recurso de contato mediúnico e de oportunidade para o trabalho de auxílio e assistência aos necessitados, mas o Espiritismo é uma religião completa. Iremos acompanhar você onde for. No Espiritismo, conversaremos com você e faremos os trabalhos com você, fazendo uma adequação para melhor de nossas disponibilidades. Deixaremos de ter os trejeitos, vamos abandonar os recursos de linguagem que apresentamos até agora, para falar através de você de forma que nossa apresentação seja a mais próxima da nossa realidade de Espíritos atual. Não será mais necessário os recursos de ambientação que usamos para nos comunicar até agora. Tudo será mais natural, você verá. Com o tempo, esquecerá que fui um "preto velho" e que você trabalhou com as "sete linhas", pois, mais esclarecido, verá tudo com naturalidade e seu trabalho terá outras características, envolvidas no Bem e no Amor.
- Então eu não estou abandonando vocês?
- Não, meu filho! Continuaremos unidos na Fé, no Amor e no Trabalho!
- Deus seja louvado!
A noite passou e acordei com uma certeza em meu coração: o que mais importa em qualquer trabalho é o Amor com o qual podemos nos dedicar a ele. A forma, desde que envolvido o Amor no trabalho, pode não ter tanta importância.
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