Mensagem

"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."

Militão Pacheco

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Erros de Tradução das Obras Básicas

Carlos de Brito Imbassahy

Niterói (RJ)

Eu havia sido convidado pela Sala Filosofia Espírita do antigo programa TiVejo para fazer um estudo a respeito do livro "A Gênese" de A. Kardec porque fizera um estudo a respeito desta obra para análise perante as novas descobertas astrofísicas.

Cabe-me esclarecer que eu nunca tinha tomado conhecimento das traduções do senhor Guillon Ribeiro referente às obras de Kardec feitas para a Federação Espírita Brasileira, motivo pelo qual eu ignorava o que iria ocorrer.

Segundo dr. Canuto Abreu, as edições francesas mais fiéis a Kardec são as de 1868, ou seja, publicadas no ano anterior a seu desencarne porque teriam sido as últimas revistas pelo mestre.

Dessa maneira, herdando de meu pai, sempre usei a 3ª edição deste livro (A Gênese), impressa pela Librarie Internationale - 15, Boulevard Montmatre da A. Lacroix Éditeurs - Paris - 1868.

Assim, quando fui analisar o ponto que estava sendo estudado, como não dispunha de nenhuma tradução, apelei para a publicação francesa e comecei a ler o item que deveria ser estudado só que ele não coincidia com o que o Sr. Guillon Ribeiro havia traduzido à sua moda, evidentemente.

Todo mundo protestou, alegando que eu é que não estava usando o texto certo. Fiz a conferência, checamos os itens e confirmei que estava lendo rigorosamente o item em estudo. Quando expliquei, todavia, que usava o original francês, todos ficaram pasmos e, com vagar, começamos a verificar que a tradução do Sr. Guillon Ribeiro era uma farsa, porque, naquele capítulo, ele, justamente, eliminava aqueles itens inconvenientes a respeito dos anjos decaídos porque contrariavam a exposição de Roustaing em sua obra.

Já dizem os italianos : "tradutore, traditore", evidentemente, julgando que todo tradutor dá de si muita coisa quanto verte qualquer texto de outro idioma para o seu, mas, fazer o que o Sr. Guillon Ribeiro fez, é um crime, pois, ele, simplesmente mutilou, adulterando a obra escrita pelo codificador a fim de que os textos contrários ao docetismo adotado pela sua editora não fossem feridos pelo pensamento da obra no original.

É de pasmar o cinismo com que isto ocorre e que, até a presente data, ninguém tenha protestado.

Da minha parte, confesso que, até aquela data, eu ignorava que a FEB tivesse editado um livro falsificando o pensamento de Kardec a tal ponto que modificava a obra em questão.

Foi quando, em companhia com o coordenador da sala, ora transferida para o PalTalk, fizemos uma comparação tácita entre a tradução do Sr. Guillon Ribeiro e o original francês que ali estava, descobrindo que os cortes, mutilações e modificações da obra não se resumiam a aqueles textos, mas, a uma porção de outros que também supressos, ou modificados, adulteravam a obra original, impingindo aos leitores brasileiros uma idéia errônea do que, realmente Kardec escrevera.

Bem!

O que me pasma é que, até a presente data ninguém tenha denunciado tal farsa.

Não tem cabimento adulterar os conceitos de Kardec para torná-los adaptáveis à obra de Roustaing. Há que se ter a hombridade de declarar, caso seja este pensamento, que discorda do que Kardec tenha escrito, afinal, ele não é infalível - só o Papa, assim mesmo para os católicos - pois cada qual tem o direito de possuir opinião própria.

Mas, Espiritismo é Kardec - doa a quem doer -, ou seja, o que ele tenha codificado, não só transcrevendo as respostas selecionadas dos Espíritos como ainda a interpretação que ele próprio deu na grande maioria do que escrevera.

Errado ou certo, Espiritismo é Kardec e disso não se pode fugir. Não, mudemos, pois, a Codificação.

nota do NEPT: Aqui vai o nosso alerta, para o cuidado com TODAS as obras espíritas. TODAS. De nossa parte, sempre preferimos as traduções de José Herculano Pires, íntegro Soldado de Kardec.

Um comentário:

Anônimo disse...

Querido irmão Carlos,

Sou Espírita de berço e pesquisadora dos Estudos da tradução. Acho sempre válido o questionamento de tudo na vida, inclusive daquilo que é tido como verdade. Como bom Espírita você se questionou e chegou as conclusões que achou pertinente. Entretanto, seria interessante que lesse sobre tradução de fontes e teóricos sérios.

De forma simplificada, os Estudos da Tradução pós-modernos nos esclarecem que a língua não é um conjunto de signos fechado e intocável, pelo contrário, ela é ativa e é diretamente afetada pelo tempo e pela cultura.

Esses estudos ainda nos esclarecem que os conceitos de "originalidade" "fidelidade" são irreais, já que a tradução não é um "tira da li e põe aqui", pelo contrário, o tradutor faz leituras do texto- fonte e assim escreve um novo texto, já que os significados não estão nas palavras, mas no discurso como um todo.
Se eu disser apenas a palavra "manga", por exemplo, você pode pensar em duas coisas a parte da roupa e a fruta, agora se eu incluir a palavra em um discurso você com certeza saberá de qual "manga" estou me referindo.

Outro ponto a ser considerado é que cada Língua possui uma particularidade, uma forma de se expressar ... um exemplo simples é a comparação entre a língua portuguesa de Portugal e a do Brasil. A língua é a mesma, mas com inúmeras diferenças devido a cultura, tempo de vida do país, economia, geografia....

No caso das traduções das obras básicas temos que considerar que
a Língua Portuguesa e a Língua Francesa são muito diferentes. E que a chamada "tradução literal" ou "tradução fiel ao autor" com o sentido de palavra por palavra é irreal, por todos os motivos listados acima.

A beleza da tradução está na capacidade de dizer o mesmo a outros de maneira compreensível aos leitores. Por isso o tradutor não é traidor, ele é um artista das letras que com um trabalho árduo garante a sobrevida da obra, assim como afirma Derrida.

Um último adendo é a respeito da autoridade moral dos tradutores das obras básicas, tanto Herculano como Guillon foram exemplos de vivência e de conhecimento espírita.

Sempre lembrando "Tradução não é cópia é reescrita".




Abraços fraternos.