Há situações na vida nas quais não temos escolha, pois parece que é a vida que efetivamente conduz por onde seguir. Algumas vezes, entretanto, nós podemos fazer a devida escolha por conta de oportunidades que a vida nos oferece. Nessas ocasiões temos de exercer o livre arbítrio com o máximo de bom senso para que façamos a boa semeadura, afinal, certamente, iremos ter de colher mais adiante queiramos ou não.
Uma situação das mais comuns para enfrentarmos e exercermos a nossa inteligência é quando nos sensibilizamos com a dor e/ou o sofrimento de alguém. Evidentemente, temos nossa sensibilidade e certamente a dor alheia nos perturba ou, mesmo, nos desestabiliza, pois há um processo de transferência de emoções e sensações que nos faz “sentir na pele” o que alguém possa estar sentindo em determinada oportunidade. Nessas ocasiões temos impulsos que podem nos custar relativamente caro, ou mesmo muito caro.
A essência humana é aquela da cooperação, da colaboração, da solidariedade, quando não transitamos pelos estados patológicos da alma. Assim, ao percebermos que alguém querido está com dor, temos impulsos arrebatadores para ajudar de alguma maneira. Isso pode ser maravilhoso, mas pode, também, ser desastroso.
Todas as vezes que venhamos a ter pessoas mais próximas que estejam passando por uma prova ou por uma expiação temos o direito de ajudar, de amparar; mas exceto em circunstâncias nas quais temos o dever de tomar o máximo cuidado para não transferirmos as provas ou expiações desta pessoa para nós. Se nós temos a oportunidade de amparar é para que possamos exercitar a caridade; não podemos deixar de praticar a auto-caridade, isto é, o respeito aos próprios limites na vida.
Ajudar alguém não tem sentido absoluto se prejudicamos a nós mesmos. Os missionários vêm à Terra com essa finalidade, mas são adequadamente preparados para isso. Sabem o que têm, o que querem, do que precisam e onde querem chegar. Mas eles são poucos.
O ser humano comum transita na Terra para aprender com as suas próprias dores e quiçá observando construtivamente as dores alheias. Por isso é primordial considerar se a pessoa que sofre deve ou não passar por um desvio de rota, isto é, se podemos ou não tentar tirá-la de suas provas. Se nós podemos criar uma ilusão temporária para ela ou se podemos “carregar” o seu carma. Vou dar um exemplo deste segundo caso para ilustrar. Vamos a um orfanato e ficamos muito sensibilizados com as crianças que já sofrem desde a mais tenra idade. Isso dói em nós, – processo de transferência – pois imediatamente nos colocamos em lugar delas. Isso pode ser bom, se soubermos atuar sobre essa situação. Se não soubermos atuar, podemos cometer erros sérios. Por exemplo, se tivermos impulsos de levar uma dessas crianças para o nosso lar, num final de semana, numa festividade, e em seguida, devolvermos a criança para o ambiente do qual a “resgatamos” o que estamos fazendo? Caridade ou crueldade? Sim, pois a criança órfã vai para o nosso lar e volta, depois para o orfanato. Vai para a ilusão e tem uma ruptura traumática com a realidade. Não estamos praticando a caridade. Estamos gerando ilusão e dor por conta da nossa ingenuidade.
A criança pode, sim, receber visita e presentes. Pode ouvir música e sonhar condições melhores de higiene e alimentação, mas no lugar ao qual ela precisa aguardar uma adoção definitiva. Não um lar “transitório” e fugaz, mas um lar definitivo, onde, aí os seus futuros tutores irão adotá-la, praticar a caridade. Estamos fazendo o possível para ajudar. Para isso precisamos analisar à Luz do Evangelho, como proceder.
Não podemos assumir as provas de ninguém e a melhor maneira de aliviar as dores é levar o carinho, a alegria e não criar ilusões.
Augusto Militão Pacheco.
psicografia recebida no NEPT em 25 de fevereiro de 2011
Para ilustrar a idéia de envolvimento:
Um comentário:
Ainda acho muito difícil compreender o limite entre praticar a caridade e assumir as provas alheias.Às vezes acabamos deixando de praticar a caridade por não querer envolvimento com o problema que não é nosso. Não consigo entender como praticar a caridade, sem sentir compaixão de nossos irmãos que moram nas ruas, como não nos envolver com as crianças que visitamos nos orfanatos;como não nos sensibilizar com os problemas dos outros sem vivenciar dentro de nós mesmos essas dificuldades.E quem pode nos garantir que não fomos chamados a ajudar efetivamente ,este ou aquele irmão que cruza pelo nosso caminho e por consequência do nossos medos perdemos valiosas oportunidades de ajudar ao próximo e praticar a caridade. Como aprendemos na Doutrina Espírita, nada é por acaso, e se alguém cruza pelo nosso caminho ,solicitando qualquer tipo de ajuda é nosso dever ajudar.Na minha opnião, compaixão requer envolvimento, pois um está ligado ao outro,ou seja,ela exige que estejamos presentes ,que sejamos atuantes e que nos posicionemos. Só assim teremos compreensão e comunhão com o sofrimento do outro e dividir as suas dores...Tenho pensado muito nisso...
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