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Mensagem
"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."
Militão Pacheco
sexta-feira, 15 de março de 2013
Estudo sobre um texto da Revista Espírita
Este estudo é feito em função da eventual dúvida que alguém possa ter relativo a um determinado texto publicado por Allan Kardec na Revista Espírita de abril de 1862, cujo nome é: "Frenologia espiritualista e espírita - Perfectibilidade da raça negra".
Em primeiro lugar, gostaria de chamar atenção para o próprio título, que deixa clara a posição que será abordada pelo contexto das palavras, quer dizer, é uma análise sobre uma proposta chamada de "frenologia espiritualista e espírita" e não uma proposta do Espiritismo propriamente dito.
Aliás, eu diria que se trata efetivamente de uma crítica sobre a proposta da chamada "frenologia".
Então, vamos entender, primeiro, o que é "frenologia", pois as palavras nem sempre dizem o que são, por si mesmas.
Frenologia (do Grego: φρήν, phrēn, "mente"; e λόγος, logos, "lógica ou estudo") é uma teoria que reivindica ser capaz de determinar o caráter, características da personalidade, e grau de criminalidade pela forma da cabeça (lendo "caroços ou protuberâncias"). Desenvolvido por médico alemão Franz Joseph Gall por volta de 1800, e muito popular no século XIX, está agora desacreditada e classificada como uma pseudociência.
A Frenologia contudo recebeu crédito como uma protociência por contribuir com a ciência médica com as ideias de que o cérebro é o órgão da mente e áreas específicas do cérebro estão relacionadas com determinadas funções do cérebro humano.
Isso, por si, já descredencia TOTALMENTE que se trate de uma proposição Espírita, que anuncia claramente em sua proposta que a origem da "mente" é o Espírito, o Ser Espiritual que habita o corpo e que se utiliza do cérebro como veículo para transmissão de suas ideais e pensamentos.
Como se trata de uma análise de Kardec que destitui, de modo educado e racional a proposta da "frenologia", não me vejo mais nem mesmo preocupado em analisar sua análise, o que seria um atrevimento de minha parte, em função de que não chego sequer "aos pés" do ilustre representante de Jesus e responsável por toda Codificação Espírita.
Mas, alguns pequenos trechos de toda sua explanação gostaria de citar e detalhar, para deixar claro questões ligadas à contemporaneidade do texto e das circunstâncias da época em que Kardec vivenciava as situações e diante das quais podia fazer suas análises e propostas racionais.
Vamos lá:
"Chegamos agora à perfectibilidade das raças; esta questão, por assim dizer, está resolvida pelo que precede: não temos senão que deduzir-lhe algumas conseqüências. Elas são perfectíveis pelo Espírito que se desenvolve através de suas diferentes migrações, em cada uma das quais adquire, pouco a pouco, as qualidades que lhes faltam; mas, à medida que as suas faculdades se estendem, falta-lhe um instrumento apropriado, como a uma criança que cresce são necessárias roupas maiores; ora, sendo insuficientes os corpos constituídos para seu estado primitivo, lhes é necessário encarnar em melhores condições, e assim por diante, à medida que progride."
Quem leu "A Caminho da Luz", psicografado por Chico Xavier, de autoria do Espírito Emmanuel, sabe que o conteúdo acima faz sentido. Havia seres encarnados na Terra, inicialmente no Continente Africano e uma massa de Espíritos vida de outra constelação foi acolhida por Jesus para que tivesse a oportunidade da remissão de suas falhas em nosso Planeta, em reencarnações probatórias diante das quais poderiam, também, auxiliar os "nativos" da Terra em seu aprendizado e em sua evolução.
Muito natural que Deus em sua Sabedoria permita o intercâmbio entre civilizações mais avançadas e civilizações em fases iniciais de evolução para que ambas possam trocar aprendizado e oportunidade. Temos isso sempre na Terra: cultos compartilham a vida social com os humildes em conhecimento. Evidente que o mais sábio deveria impulsionar o mais humilde, mas...
Os Espíritos "nativos" da Terra entram, portanto, em contato com aqueles que foram conduzidos para cá e as raças de Seres Humanos trocam entre si experiências e oportunidades de evolução.
Assim aconteceu também na historiografia terrena entre as civilizações mais avançadas e as mais primitivas, conhecidas como "atrasadas". Mas, que fique claro que se há diferenças é exatamente neste ponto, o da evolução material e não da evolução espiritual, pois certamente um Espírito poderá reencarnar tanto em uma como em outra destas civilizações, dependendo de suas necessidades "cármicas".
Devemos recordar que Kardec viveu em plena época de escravatura, em fase de extinção dela, imposta pelas civilizações ra raça branca sobre a raça negra.
Devemos recordar, também, que a Europa vivia um fluxo de conquistas materiais surpreendente no século XIX, sem precedentes desde a idade média, chamada época das "sombras" para todo o continente.
Evoluídos material, mas não necessariamente moralmente. O poder movimentava os Seres Humanos de raça branca em busca de mais poder e fortuna e o lapso moral certamente se fez presente.
A diferença de nível de evolução entre os Europeus e os Africanos era, na época imensa. Por isso, muitos "brancos" julgavam que fossem "seres superiores" aos "negros", esquecidos completamente pelas brumas da reencarnação de que todos somos Espíritos, sem cor de pele, criados simples e ignorantes e com a mesma finalidade: a perfectibilidade, independente da cor da pele.
Espíritos podem reencarnar em qualquer raça.
Somos todos irmãos de um mesmo Pai, queiramos aceitar ou não. E deveríamos aceitar.
Se atualmente há, ainda, quem se julgue superior ou melhor que criaturas de outra raça - e isso, pode-se dizer, tanto de um lado como de outro - naquela época, na qual as disparidades eram enormes, em termos de civilização, esta postura equivocada era ainda mais pronunciada, a ponto de existir quem dissesse que os "negros" eram desprovidos de alma. Quanta ignorância, meu Deus!
Mas, vamos a mais um trecho deixado pelo codificador:
"A respeito dos negros escravos, diz-se: "São seres tão brutos, tão pouco inteligentes, que seria trabalho perdido procurar instruí-los; é uma raça inferior, incorrigível e profundamente incapaz". A teoria que acabamos de dar permite encará-los sob uma outra luz; na questão do aperfeiçoamento das raças, é preciso ter em conta dois elementos constitutivos do homem: o elemento espiritual e o elemento corpóreo. É preciso conhecê-los, um e o outro, e só o Espiritismo pode nos esclarecer sobre a natureza do elemento espiritual, o mais importante, uma vez que é este que pensa e que sobrevive, ao passo que o elemento corpóreo se destrói."
Será que é necessário deixar mais claro ainda que o Espiritismo aponta para absoluta igualdade entre os Seres Humanos?
O que realmente importa é o Ser Espiritual. Ponto final! Não há diferenças entre as raças a não ser aos olhos dos maliciosos.
Mais um trecho, para entender:
"Os negros, pois, como organização física, serão sempre os mesmos; como Espíritos, sem dúvida, são uma raça inferior, quer dizer, primitiva; são verdadeiras crianças às quais pode-se ensinar muito coisa; mas, por cuidados inteligentes, pode-se sempre modificar certos hábitos, certas tendências, e já é um progresso que levarão numa outra existência, e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições."
A falta de palavras e a leitura fora do contexto já deu material para muita gente afirmar que este texto é "racista" e NÃO È NADA DISSO! Kardec está expressando a questão da evolução e da perfectibilidade de todas as raças e não está afirmando que os negros são inferiores aos brancos. Afirma, sim, que estão, em termos de evolução, na fase primitiva e que terão oportunidade de evoluir. O aprimoramento do envoltório corpório envolve, também, a miscigenação racial, favorecendo a evolução de todos os Espíritos.
Na época, o Continente Africano estava em franca defasagem evolutiva em termos de civilização. Não havia nem os mesmos conhecimentos na área da medicina, engenharia, engenharia naval, arquitetura, astronomia e todas as ciências. Como não pensar que eram primitivos? Como não constatar sua inferioridade diante da evolução da civilização européia?
Mas todos evoluímos. As raças evoluem, mas há ainda nos dias de hoje, grupos de Seres Humanos que vivem fora do contexto da civilização e não há como negar este fato.
Mas, todos estamos destinanos à perfectibilidade.
Diz André Luiz, em Mecanismos da Mediunidade: "Temos, hoje, o Espírito por viajante do Cosmo, respirando em diversas faixas de evolução, condicionados nas suas percepções, à escala do progresso que já alcançou. E que tal progresso, estampado no campo mental de cada alma, vai ser condicionado por duas variantes: o tempo de evolução, ou seja, aquilo que a vida já lhe deu, e o tempo de esforço pessoal na construção do destino, ou seja, aquilo que ele próprio já deu à vida".
Kardec cita a perfectibilidade da raça negra e também das outras raças em seu texto. Não faz apologia de algo que seria o contracenso da proposta real do Espiritismo: a igualdade entre todos nós, independente da cor da pele, da opção sexual, religiosa, política ou o que quer que seja.
Vamos a Kardec, mais uma vez:
"Eis porque as raças selvagens, mesmo em contato com a civilização, permanecem sempre selvagens; mas, à medida que as raças civilizadas se ampliam, as raças selvagens diminuem, até que desapareçam completamente, como desapareceram as raças dos Caraíbas, dos Guanches, e outras."
Como se vê, Kardec explana sobre civilizações e evolução.
"Não somos criações milagrosas, destinadas ao adorno de um paraíso de papelão. Somos filhos de Deus e herdeiros dos séculos, conquistando valores, de experiência em experiência, de milênio a milênio". André Luiz, da Obra "No Mundo Maior".
Vou um pouco mais longe:
"Kardec (1804-1869) viveu na França do século XIX. Consequentemente, quaisquer que fossem os recursos antropológicos, biológicos, científicos, religiosos e sociais de que pudesse se servir, teriam de ser os de sua época. Que há de estranho nisso? Como viam os europeus aos outros povos e outras raças? De forma óbvia e ululante: os europeus vivam em casas de alvenaria ou de pedra, em geral, muitas delas construídas em cidades, vestiam roupas produzidas em fábricas, viajavam de trem, de bonde, de navio, tinham produção industrial, científica e filosófica abundante, etc e tal. E o que tinham outros povos ou raças? Os negros viviam em cabanas de palha e vestiam peles de animais... quando se vestiam; os índios americanos, idem; os aborígenes, melanésicos e polinésicos também. Os chineses eram um pouco mais refinados, mas como não rezavam pela mesma cartilha das idéias européias, também isso eram considerado sinal de inferioridade, por comparação. Isso levava os europeus e americanos a se considerarem superiores aos outros povos. Detalhes comparativos de culturas eram coisas que não se passavam na cabeça dos estudiosos europeus do tempo em que Kardec viveu."
"Tudo isso era o óbvio ululante. Outras maneiras de se ver os povos e raças de forma a se tirar visões positivas deles, de sua cultura e modo de vida só seriam incluídas na Antropologia na segunda metade do século XX. Portanto, Kardec disse das outras raças e povos o que diziam os seus pares europeus. De onde ele iria tirar outra forma de ver esses povos e suas culturas? Colocando a frase de Kardec no contexto de sua época e de seu povo, pode-se entender porque ele disse aquilo."
"Lembra-me um artigo, tratando do assunto em que mulheres foram submetidas a esterilização forçada, sob alegações espúrias, onde havia a reprodução de um folheto de 1850 com as figuras de um chimpanzé e um gorila e ao lado o desenho de um negro aborígene e de um negro argelino. Abaixo havia a frase: “Tipos superiores de macacos e tipos inferiores de homens dispensa comentários”. Esta era a Europa cheia de muita fé cristã e amor ao próximo em que Kardec viveu..."
Frases de Marcos Arduin.
Vamos refletir e tomar muito cuidado com as leitudas parciais e análises propositadamente deformadas sobre a Codificação Espírita.
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