Mensagem

"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."

Militão Pacheco

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Auto-desamor




Obstáculos naturais da Vida desgastam e enfraquecem o íntimo da pessoa, levando-a a perder a vitalidade de tal modo que, muitas vezes, as interrogações sobre as causas dos infortúnios possam estar a acontecer são verdadeiros vampiros a consumir as energias.

O inconformismo com as provas leva o indivíduo a um lento e persistente processo de perda de energia, por conta do estado prolongado de estresse que encaminha para um estado que pode mesmo beirar à semelhança da catalepsia, embora mantendo seu estado de vigília operante e aparente.

As depressões de variados graus atingem o ser humano em circunstâncias como estas, promovendo doenças variadas que reduzem o convívio social, a produtividade no trabalho e o estado de consciência diante das responsabilidades da vida.

Uma forte corrente de desânimo toma conta de quem passa por um estado mental desta ordem, levando a refletir pesarosamente sobre as injunções da Vida, perdendo o estado de brilho, tido como alegria, que normalmente envolve o ser humano em seu cotidiano.

Ao invés de reagir com energia diante das dores, há a entrega ao desânimo e a projeção de desvalia para consigo mesmo, catalizando o escurecimento da visão espiritual e impedindo que caminhe com algum equilíbrio para o enfrentamento que seria natural em circunstâncias habituais.

A autopiedade permeia a mente do ser, deixando-o em estado de lamentação que divide a mente com o questionamento, com a insatisfação, com o temor e a perda de vontade de viver.

Neste estado de espírito, a pessoa passa a ser uma companhia desagradável, por contagiar quem possa estar ao seu lado quando, eventualmente, esteja em visita, evento social ou mesmo trabalhando ou estudando.

O porte de quem passe por isso é algo que se assemelha a alguém que carrega consigo uma nuvem de pessimismo, de má vontade, de mau humor e de pesar pela Vida. Normalmente quem acompanha pode censurar ou ficar penalizado com a situação.

De qualquer modo, quem ama alguém que esteja assim, gera em seu íntimo preocupações justificáveis, conferindo um halo de sentimentos que geram na pessoa adoecida ainda mais autopiedade, como ganho secundário ou por não perceber que realmente não seria digno de receber tais comendas do desvalio.

Há quem goste de receber atenção por estes mecanismos e cultive a situação para evidentemente chamar para si todas as reverências.

Mas há quem não percebe o que faz e se deixe levar de modo prolongado, em um redemoinho de tormentos que vão se tornando progressivamente alucinógenos, confundindo e perturbando, afastando a criatura da sua caminhada mais justa que seria a busca pela Luz e pelo Amor ao próximo.

Seja como for, em qualquer situação destas o doente precisa de ajuda. Entretanto, em primeiro lugar, ele precisa reconhecer que precisa de auxílio, pois, se assim não o fizer, não há como ampará-lo de modo algum. E aí entra o maior de todos os obstáculos para que se possa dar a mão para que a pessoa consiga sair das trevas da dor nas quais mergulhou muitas vezes sem mesmo perceber: o orgulho!

Sim, o orgulho é o fenômeno pelo qual cada um de nós pode se cristalizar por período indeterminado em processos dificílimos de autopiedade contumaz. É preciso que quem passa por tais situações quebre a barreira do orgulho e literalmente peça auxílio, estenda as mãos, mesmo às cegas, para que seja conduzido para a liberdade proposta pela luz e pelo calor gerados pelo Amor.

Como o dependente químico, que ainda não reconhece sua dependência, é extremamente difícil apará-lo se ele não o permitir. Pode-se interná-lo quantas vezes seja possível, mas se ele não reconhece sua própria necessidade, se ele não percebe que um dos fatores pelos quais ele se entrega ao vício é justamente o auto-desamor, a autopiedade, é como se ele tivesse construído em torno de si uma grossa parede impermeável ao auxílio, pois não escuta, não vê e não aceita discussões em torno de assunto que possa elevá-lo.

Quem se envolve com a perda da auto-estima, procede como o dependente químico: encerra-se em recinto isolado, sem portas, sem janelas, sem frestas para receber o Calor e a Luz que só o Amor por si mesmo pode permitir que aconteça pelas mãos de outrem.

A dor, com o tempo, gerará outras reflexões, outros questionamentos, referentes ao tempo que passa e que deixa de ser aproveitado em função na inação promovida pela autopiedade, pois enquanto comunga deste sentimento, que nada tem de nobre, estará inapto. Estes novos questionamentos, cedo ou tarde, levarão o paciente a tornar-se impaciente para quebrar as correntes nas quais se aprisionou em decorrência das próprias mazelas.

Estes serão os primeiros passos em direção à liberdade, claudicante de início, mas certamente empreendedora em pouco tempo.

Desprendendo-se do passado difícil até que possa com ele lidar de modo maduro, irá então evocar de dentro de si mesmo as forças para a luta libertadora que eleva para a luz, percebendo que há quem o ame, que pode amar e que a autopiedade é um dos sentimentos, uma das emoções, mais destruidores que o ser humano pode cultivar em seu interior.

Destilará, então, os seus próprios instintos e evoluirá em termos emocionais, convocando a auto-estima, o amor próprio, o desejo de seguir adiante, já sem questionar as razões que o levam a levitar em torno de obstáculos muitas vezes aparentemente intransponíveis, para reconquistar sua trajetória em direção à sua evolução, tão ansiada, tão necessária, que encontrará em Jesus, em Seu Evangelho, para sua própria Paz Interior.


Militão Pacheco

Nenhum comentário: