Mensagem

"Não permita que aquilo que você chama de amor se transforme em obsessão.
Amor é liberdade.
Amor é vida.
Jamais prisão ou limitação."

Militão Pacheco

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Expectativas


Perdoar, muitas vezes, não é uma tarefa das mais simples e todos sabemos disso.

Uma ofensa gratuíta, uma traição premeditada, uma falha em ideais, particularmente quando parte de um ser muito amado, muito querido é um desastre para cada um de nós.

Mas, se a pessoa que cometeu o erro é tão amada, tão querida, por qual razão a dificuldade de perdoar é tão imensa?

Onde está a reserva de complacência para com aquela criatura que se conduziu mal e que cometeu um erro tão profundo?

Na verdade, ao conviver com uma pessoa, ao confiar numa criatura, é efetuado um investimento, um depósito ético e moral que precisaria dar dividendos proporcionais ao investimento efetuado e quando não há rendimentos adequados em proporção com aquilo que foi depositado, há a geração de um desabamento estrutural no íntimo do investidor.

Deveríamos recordar que uma relação não é uma poupança, não tem qualquer ligação com questões de ordem material.

Entretanto, em função das nossas expectatvas, há o processo de desilusão ou de decepção.

Desilusão quando nos damos conta de que a traição não parece ser um ato incomum para quem nos traiu, mas algo literalmente habitual.

Decepção quando fica muito evidente que o erro foi involuntário, mas poderia ser evitado se houvesse bom senso.

Há a quebra de um valor inestimável em uma relação: a confiança.

Quando se perde a confiança é muito difícil reestruturar o vínculo como ele era anteriormente ao problema surgido.

Mas, confiança, na verdade, nada tem a ver com perdão. Nada mesmo!

São coisas diferentes, embora complementares ao se considerar uma relação entre duas ou mais pessoas.

Pensando assim, fica um pouco mais simples perdoar, pois já se pode considerar uma pessoa que cometeu um equívoco como alguém perdoado, sem a necessidade de se conviver com ela como se fazia antigamente.

Então, manter distância não implica necessariamente em não perdoar, mas em não confiar.

Como se reconhece o estado de perdão, isto é, quando é possível sentir que o perdão já é um fato consumado no íntimo?

Quando a simples lembrança daquela pessoa que cometeu um erro para conosco já não causa qualquer grau de abalo ou de emoção negativa ou de desconforto.

Entretanto, embora se possa até mesmo conviver com tal pessoa, a questão da confiança ainda abala a relação, pois, como confiar em alguém que, intencionalmente ou não, cometeu um desatino para a nossa vida?

Ainda não é possível confiar nela ou nele...

Será que devemos depositar confiança novamente?

Dever não é a expressão mais correta!

Poder é o certo!

Pode-se depositar confiança em alguém nestas circunstâncias, pode-se apenas, mas não temos o dever de confiar.

Na verdade, o causador do problema é quem deveria (de dever, mesmo) reconquistar a confiança através de uma série de atitudes voltadas para tal propósito.

Enquanto isso, aquele que se desiludiu ou se decepcionou pode até depositar algum grau de confiança na pessoa do outro, mas, certamente com cuidados e cautelas.

Assim se refaz uma relação, assim se reconstrói uma amizade, que é um relacionamento que envolve carinho, respeito e confiança.

Perdoar não é algo simples, mas é sempre factível, sempre possível, desde que os envolvidos na questão geradora do problema estejam efetivamente dispostos a solucioná-lo.

A reserva de complacência para quem ama é sempre muito grande, mas ela guarda limitações, já que há um limite para os excessos de quem de certa forma "investe" numa relação, numa amizade, seja no ambiente que for, seja na relação que for.

Tal limite para que se possa aplicar o entendimento e o perdão não é descritivo, não é pré-determinado, mas depende de fatores internos consolidados por cada indivíduo em suas experiências de vida e, pode-se dizer, também na dependência de relacionamentos frustrantes vividos anteriormente.

Uma falência de relação pode causar um trauma tão profundo que uma pessoa passa a apresentar sérias dificuldades para confiar em quem quer que seja e, neste caso, irá precisar de auxílio para sair desta situação, pois abstrairá a normalidade para o convívio social habitual.

Tais auxílios serão abordados nas esferas psíquica e espiritual, pois o Ser Humano é psiquismo e espiritualidade simultâneos.

Seja como for, o chamado "depósito" de confiança em alguém não deveria ser de teor absoluto em caso algum, pois, como somos todos falíveis, o erro pode acontecer até mesmo fazendo tudo para acertar.

Se tivéssemos uma expectativa mais realista para com as pessoas com as quais nos relacionamos, certamente nosso nível de decepção seria certamente menor.

Por alguma razão, ainda criamos mitos dentro de nossas relações e, em função disso, sofremos pelos erros alheios.

Mas, vamos aprendendo com tais experiências, certamente!

Aprendendo a trocar, a compreender e a perdoar.

Tais são as nossas necessidades mais comuns.




Mensagem recebida no NEPT em 25 de novembro de 2013
Herculanum

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